E chegamos ao final do ano. Especialmente entre os meses de novembro e dezembro, é comum ouvir em ambientes empresariais que o ‘ano já acabou’ e nada mais será decidido ou realizado até 31 de dezembro. Projetos e decisões tornam-se lentos, ao passo que expressões como ‘agora entramos em época de Natal’ ou protelações como ‘vamos discutir isso em janeiro’ travam o restante dos dias do ano. Esses, acabam sendo dedicados à arrumação de gavetas e ao encerramento daquilo que era importante no início do ano, porém, tornou-se urgente nessa época, tamanha protelação. O negócio é correr com aquilo que realmente não tem mais como adiar e… esperar o próximo grande evento.
Sem perceber, reforçamos ainda mais a cultura da procrastinação, perpetuando crenças limitantes relacionadas ao uso inteligente do tempo que, na prática, trava as rodas da empresa. ‘Tem sido assim e assim será’, podem pensar aqueles que já se acomodaram dentro dessa perspectiva. Porém, no próximo ano, o campo da decisão e o da ação correm o risco de, literalmente, passar em branco.
Um ano emblemático para o Brasil
Como todos sabem 2014 será um ano de grandes eventos no país. Profissionais e empresas precisam promover em seus planejamentos estratégicos uma reflexão acerca do risco que corremos – em pequenas e grandes escalas, na vida pessoal ou profissional – adiando decisões importantes e apenas administrando a rotina, a ordem do dia, até que a nuvem de eventos se dissipe.
Como dito, muitos já adiam diversos ‘inícios’ para depois das festas de fim de ano, pela crença apresentada no começo deste texto. Num exercício de imaginação, vamos nos projetar a um futuro breve, colocando-nos em meados do mês de janeiro de 2014. Tão logo passam as festas, incorporamos uma nova crença neste período, para justificar a falta de mobilização e de competividade, que sempre nos coloca abaixo de outras nações. Trata-se de uma crença forte, que se transforma em pensamentos e sentimentos que, por sua vez, se materializam em comportamentos e atitudes: a crença que, ‘no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval’. Em 2014, isso significa começar o ano no dia 6 de março, logo após a quarta-feira de cinzas. Até lá a locomotiva terá andado com as rodas presas, e 1/4 do ano foi adiado a essa altura.
A Copa do Mundo é nossa. O tempo? Depende.
Vamos agora até meados de março, pós carnaval. Dali a três meses, no dia 12 de junho, tem início um dos nossos grandes – e politicamente controversos – eventos esportivos de escala global tão aguardados pelo país: a Copa do Mundo. Mais uma vez, corremos o risco de colocarmos as barbas da ação de molho. Puxe pela memória e você se lembrará de já ter ouvido alguém, há quatro, oito ou doze anos atrás, dizer que ‘em época de Copa do Mundo’ tudo fica parado, até que alguma seleção levante o caneco.
Se nas edições anteriores já parou, nessa que acontecerá no quintal de casa, a procrastinação tende a ser um pouco maior. Se tudo correr bem e a Seleção Brasileira for à final, sagrando-se campeã no jogo previsto para ocorrer em 13 de julho, considere que o restante do mês será dedicado à comemoração. Acabamos de matar 2/4 do ano.
Urna não é penico. Tempo também não.
Ufa! Até que enfim chegamos em agosto e, agora, parece que a coisa vai andar. Mas, peraí… tem algo chegando logo ali… você provavelmente não sabia, mas desde o dia 6 de julho, ainda durante a Copa do Mundo, a propaganda eleitoral já estava permitida, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Provavelmente um ou outro candidato já terá dado as caras localmente com sua campanha, que ganha força a partir do horário eleitoral gratuito no rádio e televisão, previsto para meados de agosto.
Durante 45 dias não se falará de outra coisa. E, mesmo que entre a situação e a oposição não haja qualquer espaço para diálogos propositivos, em uma coisa todos concordam: a de que ‘em ano eleitoral, o país para’. Afinal, é melhor ver o que vai acontecer, para só depois começar a decidir e a empreender novos projetos e ideias. Como de praxe, o primeiro turno das eleições acontecerá no mês de outubro, precisamente no dia 4. O cenário é de disputa, logo a definição acontecerá apenas no dia 26 de outubro, quando ocorre o segundo turno. Eleições finalizadas, dirigentes definidos e, até que enfim, podemos começar a trabalhar, pois afinal, acabamos de matar 3/4 do ano.
Feliz ano novo. Este não, o outro.
Calma lá! Já estamos em Novembro! Os mais atentos perceberam que na calada de setembro, os panetones já começaram a ganhar as prateleiras dos supermercados. De onde estamos agora, nessa viagem no tempo, já dá para avistar o Natal vindo logo ali. Chegamos ao fim do ano e, como sabemos, ‘agora entramos em época de Natal’ e ‘é melhor deixar as novas ações para janeiro’.
De adiamento em adiamento, sem perceber, matamos um ano, sempre com a justificativa do ‘vamos aguardar o próximo evento’. Sendo empreendedor ou executivo, é preciso estar atento a esse traço cultural, que tanto trava nossa produtividade. É preciso planejamento estratégico, visão antecipada, calendários e cronogramas apertados, planos de contingência e muita, mas muita vontade de fazer o ano valer a pena nos meses não contemplados pelos eventos.
Caso não consigamos reverter isso, só nos resta desejar um Feliz 2015. E que, ao menos nos intervalos dos eventos de 2014, reflitamos pesadamente sobre isso.
Sobre o autor:
Eduardo Zugaib: é escritor, profissional de comunicação e marketing, professor de pós graduação, palestrante motivacional e comportamental. Ministra treinamento nas áreas de Desenvolvimento Humano e Performance Organizacional.
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