Nos últimos tempos, trabalhando com Fortalecimento Empresarial e, consequentemente, atuando muito forte na preparação, desenvolvimento e fortalecimento das pessoas – que, aliás, são as responsáveis por fazerem as Empresas serem ou não fortes – tenho me convencido, cada vez mais, que os gestores devem adotar, na avaliação de desempenho e análise da evolução de seus colaboradores, a fórmula que usa o pediatra que cuidou de minha filha durante sua infância.
Sempre que me punha a compará-la com outras crianças da mesma idade, ele dizia: “Mãe, compare a sua filha com a sua filha. Eu não quero saber se suas colegas estão maiores ou menores que ela, se estão mais ou menos gordas, se começaram a andar antes ou depois de sua filha. Eu quero saber da evolução dela em relação ao que ela era na última vez em que esteve aqui, portanto, deixa que eu faço as perguntas necessárias e, fique tranquila, no final, te dou o feedback e, se necessário, os procedimentos de ajuste.”
Pois bem, por muitos anos permitia e até estimulava, nas metodologias que adotava, para avaliação de desempenho de funcionários de empresas onde trabalhei, que fossem comparados uns aos outros.
Recentemente, participando de uma palestra sobre o assunto, ouvi um interessante comentário de um jovem que também estava na platéia. Dirigindo-se ao palestrante, ele falou que sua empresa adotava uma metodologia de Avaliação de Desempenho que o deixava indignado, pois da primeira vez ele havia recebido feedbacks importantes para o seu desenvolvimento e que, considerando tudo o que havia ouvido, tomou muitas providências para ir se ajustando e melhorando, mas concluiu ele: “Não adiantou muito porque, depois de uns seis meses, fui chamado pelo chefe para a segunda bateria de avaliações e recebi as mesmas pontuações da anterior, porque o chefe me avaliou fazendo comparações com os funcionários mais antigos, experientes e treinados.”
Segundo ele, tentou fazer algumas ponderações que não foram ouvidas pelo chefe, e continuou: “No início eu atrasava muito nas entregas das minhas tarefas – coisa de 10 a 15 dias, às vezes. Nisso ele tinha razão de reclamar, mas agora, depois que aprendi, meus atrasos estão muito menores – coisa de 1 ou 2 dias quando muito e só nas tarefas mais complicadas, porque ainda estou aprendendo. Cometi alguns erros num serviço que nunca tinha feito, mas no começo errava o tempo todo e em tudo, assim mesmo ele nem quis saber se eu sabia ou não fazer aquela atividade e, comparando com outro colega, falou que se o outro fazia bem feito eu também tinha que fazer.”
Ele deu diversos exemplos até que o palestrante retomou a palavra sorrindo e deu uma resposta padrão para o caso, que não convém apresentar aqui.
Enquanto o rapaz falava, o pediatra de minha filha não saia de minha cabeça.
Se a comparação fosse dele em relação a ele mesmo, sua pontuação teria que ser melhor. Sob este ponto de vista, ele estava certo.
Sob o ponto de vista de metas estabelecidas e negociadas, pode ser que não, mas se o funcionário evoluiu, se aprendeu e traz melhores resultados que os anteriores, avalia-lo por comparação ao desempenho de outro, produzirá bons resultados?
Coloque-se no lugar de seus funcionários – Quão estimulado a aprender, mudar, evoluir, desempenhar melhor, você ficará se o “seu” chefe disser que apesar da sua mudança e evolução em relação aos próprios resultados, terá pontuação baixa porque fulano consegue atingir melhores resultados do que você?
Somos indivíduos, portanto, “individuais”, ou seja, singulares, únicos, indivisíveis, então e talvez, para não ser radical em minha análise, incomparáveis.
Confesso que até hoje, minha vida, depois do nascimento de minha filha e dos conselhos de seu pediatra, tem sido de treino e aprendizagem – também me pego, com bastante frequência, a comparar este com aquele, mas quando tomada pelo bom senso e razoabilidade, lembro-me do que aprendi e volto a pensar no indivíduo como tal, evitando assim, julgamentos e erros de análise e avaliação.
Acredito profundamente que crescemos muito mais quando nossos esforços são reconhecidos. A vermelhidão e o largo sorriso no rosto de minha tímida mãe quando o diretor de minha escola do ensino, hoje chamado fundamental, disse que ela não precisava se preocupar, porque sua filha, por acaso eu, nunca daria trabalho com os estudos, me fez, desde então e até hoje, sempre querer ser uma boa aluna.
É muito bom saber que estamos no caminho certo e o caminho certo, não necessariamente é o mesmo que outros estão seguindo.
Sobre a autora:
Áurea Grigoletti é Executiva de RH, sócia da e1.conceito-Fortalecimento Empresarial, atuou em diversas empresas, como: CBC, Baxter Healthcare, Distribuidora de Medicamentos Santa Cruz, Lion/Sotreq e TRW. É Vice-Presidente do GRIS. Psicóloga especialista em Gestão de Recursos Humanos e em Negócios. Palestrante e autora do Livro- “Faça do Recrutamento e Seleção de Pessoas o seu melhor Investimento”.
site: www.e1conceito.com.br
e-mail: agrigoletti@e1conceito.com.br
Criativa e perspicaz sua forma de integrar a vida cotidiana, uma constante em seus textos, nas rotinas de RH. Este exercício de reflexão agregam e fundamentam atitudes. Obrigada!
Na teoria fica bem claro que somos individuais e singulares e assim incomparáveis. Mas na pratica é bem desafiador deixar a comparação de lado.
Vivemos num mundo onde hoje os patamares de limites são elevados constantemente. Quando chegamos a conclusão que aquela ou esta pessoa superou um limite, lá vem outro superando este limite e aí voltamos a comparar o que faltou no meu avaliado para atingir aquele resultado. Bem bacana esta vida!
Por mais que sejamos cuidadosos em não comparar, seremos pegos fazendo isto. Imagine você treinador de um velocista do atletismo. Seu atleta já corre em alto nível! Vai a mundiais, panamericanos e olimpíadas. Nestas competições chega em finais e não ganha. Quais são seus padrões de avaliação? Será que estes padrões não são de alguém, por exemplo, o recordista mundial? Aquele que vem ganhando do seu atleta? Apesar de você tentar evitar comparações certamente um nome veio a sua mente. E junto deste nome novos padrões e limites… Se o seu atleta não supera estes limites você o abandona e vai buscar outro atleta? Ou tenta trabalhar o que pode ser melhorado no corpo e mente desta pessoa para atingir aqueles novos padrões. Toda vez que você aplicar uma melhoria no seu atleta você vai avaliar/medir e aí comparar… Com quem?
Para o médico que estudou os limites do corpo, não se compara uma pessoa diretamente com outra. Se compara o que sua filha atingiu de limites com padrões redescobertos em outras que apenas não sabemos os nomes, mas existem. Veja o seguinte: na geração do meu pai ele e seus quatro irmãos e irmãs atingiram em média 1,70m de altura. Na minha geração eu e meus irmãos atingimos em média 1,75m e minha mãe tem a mesma altura de minha avó. Na geração dos meus filhos, onde minha esposa tem a mesma altura de minha mãe, os meus filhos tem em média 1,78m, onde o meu caçula de 13 anos, já tem 1,72m. É o corpo e alguém descobrindo coisas para mudar os padrões de avaliação para o crescimento …
Outro exemplo: na Formula 1 as equipes tem dois pilotos. Mas porque dois? Além da questão comercial (patrocinios) a ideia é ter um puxando o resultado do outro. Cada piloto tem por trás uma equipe de engenheiro e técnicos que acompanham, via telemetria, os resultados atingidos por cada um. Ao final da corrida compara-se os resultados de cada piloto mostrando um para outro o que pode ser melhorado.
Antes de fazer avaliações é importante definir bem os limites do avaliado. Ao definir isto teremos em mente sempre padrões estabelecidos (emocionais e físicos). Por trás destes padrões existe(m) a(s) pessoa(s). Bom fazer isto com o avaliado e depois começar a medir. Assim evita-se comparações deste com aquela pessoa. Mas será muito desafiador escapar de comparar este com aqueles padrões… E como numa corrida: a cada volta um novo contrato de metas são estabelecidos em novos limites definidos para cada curva, pelo seu piloto ou por outro…
Comparar não é ruim não… É um desafio para o gestor… Tem que encontrar a melhor maneira de comparar… Sem comparações não existiriam os nossos ídolos…
Destaquei o que considero uma verdade a ser praticada nas organizações e na vida:
“Somos indivíduos, portanto, “individuais”, ou seja, singulares, únicos, indivisíveis, então e talvez, para não ser radical em minha análise, incomparáveis.”
Obrigada Áurea Grigoletti pela reflexão.