No ano em que a COPA do mundo e as eleições são os assuntos mais quentes das redes sociais nos últimos dois meses, não poderia ser diferente quando se observa as transações comerciais estacionadas no final do vagão.
Parece que somente agora em meados de julho, o mercado começa a dar sinais de vida, quiçá um batimento cardíaco. Sem sombra de dúvida esta Copa sediada no Brasil trouxe muita movimentação financeira para o marketing e turismo em todo o seu espectro, mas deixou muitos timoneiros a ver navios. Entre o entusiasmo dos turistas, o vai e vem dos torcedores, a rotina para conhecer o tão famoso país do futebol, deixou marcas profundas nas entranhas dos brasileiros por uma razão óbvia, mas também uma marca inesquecível por quem passou pelo nosso lindo país diverso, excêntrico e caloroso.
Não saberia descrever se houve piedade por parte dos alemães quando se instalaram em Cabrália ou se transitou por um marketing bem sucedido ao tornar os arredores do centro de treinamento algo mais encantador e sofisticado. Por mais que houvesse investimento ali, jamais chegaria aos termos mais simplórios de Berlim, lugar este ao qual se aloja civilidade antes de civilização. Haja visto terem superado duas guerras mundiais.
Os japoneses limpando nossos estádios deixavam novamente a identidade de um país onde a bomba já pôs tudo abaixo e eles reergueram melhorando cada ponto em oportunidade , porém, limpando primeiro o lixo interno que a guerra havia trazido. Nestes dois mundos a guerra foi e sempre será seus guias mestres para a mudança e lapidação. Por aqui a guerra ainda está por vir a começar pelas explosões internas da população dentro dos estádios quando gritam e depreciam o nome da chefe de Estado.
O início deste artigo fala sobre relações comerciais e em apenas algumas linhas saltamos para as nações que saltitaram por aqui e que em pequenos gestos demonstraram o propósito pelo qual vieram. Ali, o troféu mais claro para todos era a comercialização de sua cultura, deixar impresso através de atitudes, demonstração de quem estava ali de corpo presente vendo a desorganização do país em que vivemos, a desordem social, a desigualdade econômica e intelectual.
E nós, o que aprendemos neste período da Copa? Será que enquanto os jogos eram transmitidos ou assistidos ao vivo e em cores, será que os brasileiros pensaram claramente no seu papel como nativos? Será que os brasileiros além de atender bem, sorrir e tratar como nenhum latino faz melhor pensou na evolução que o encontro de muitas nações nos mostra como povo, como população, como torcedor e como membro de um país que precisa transcender em todos os aspectos?
Comumente somos percebidos como povo sociável, camarada, amigão, mas será que estes mesmos brasileiros não se percebem como membros ativos de uma sociedade em que somos expectadores mas também protagonistas de nosso próprio destino?
Em uma seleção, o próprio nome diz que foram selecionados, será que naquele time se percebiam como representantes de um país com mais de 200 milhões de brasileiros que depositavam neles sua fé, sua vontade de ter algo para admirar e, de repente, no auge de uma partida nos damos conta de que estamos infinitamente distantes de uma seleção de fato.
A Teoria de Darwin já dizia que as espécies sobreviventes são as mais fortes, as mais vistosas e as mais geneticamente dominantes. Os nossos sete a um, deixaram claro para o mundo inteiro o quanto temos que correr atrás para nos nivelarmos às outras espécies , não pela goleada, mas pelo momento em que a expectativa estava voltada para vencer, o brasileiro se dá conta de que ele há tempos é um perdedor e agora de forma sui generis e, sob o olhar de todas as nações ficamos com os holofotes voltados para a nossa rélis espécie inferior.
Um povo que vaia a sua presidenta dentro dos estádios com câmeras do mundo inteiro gravando e filmando não pode ser que queira permanecer calado. Este mesmo povo está com vergonha de seu país, de como ele é visto, vergonha de seus governantes, vergonha de se dizer brasileiro, vergonha de não entender a forma como as coisas acontecem .
Muitos fizeram do jogo no gramado uma projeção das suas esperanças e sonhos, uma utopia que se almeja sem ao menos perceber de que sem ação não haverá reação. Não é possível mais viver no conto de fadas, na ilha da fantasia. Se dar conta de que através de passos se alcança um título, mas com passos pensados e planejados. Nada pode ser feito sem reflexão, e esta, começa pelo pensar , pelo agir e principalmente pensando como elenco e não mais como platéia.
Este é o momento do turning point, da grande virada, do plantio, usar o que realmente valeu a pena deste cenário vivido. Hora de arregaçar as mangas, de sacudir a cortina e abrir a janela, de sair às ruas e participar das ações que cabem a seu povo.
Como visto um dia em entrevista coletiva: no fundo do poço não tem ralo, tem que avaliar tudo e subir , tem que ter molas!
Sobre a autora:
Cristina Piton: Consultora há mais de 16 anos em Gestão Humana e Qualidade Total. Graduada em Educação Física pela FEFISA, pós graduada pela USP em Neurofisiologia Cardiovascular, Jornalista graduada pela FIAM. Atuação em treinamentos e palestras voltadas à gestão humana, expertise em assessoria geral de Call e Contact centers. Formou-se na Fundação Getúlio Vargas em diversos temas voltados ao comportamento humano e é sócia diretora da CP ONE INTELIGÊNCIA EM TALENTOS HUMANOS.
site: www.cpone.com.br
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