Quem paga a conta do mau serviço do Setor Público?

Juliana Albanez
Juliana Albanez

Um dos grandes desafios do Brasil é pensar no que pode ser melhorado na Administração Pública Brasileira. Repare: quando tudo dá certo, quando o sistema não cai, quando somos bem atendidos, quando há toner na máquina de Xerox, a surpresa é geral. Sentimo-nos premiados, porque parece ritual de passagem não ter seu problema resolvido no ambiente público.
E a conta desse mau atendimento, quem paga, somos todos nós

Juliana Albanez

Provavelmente você já deve ter notado como o setor público tem dominado os telejornais nos últimos tempos. Na maioria das vezes, infelizmente, de forma negativa. Mas essa avalanche de denúncias e investigações que o país vem atravessando, apesar de provocar descrença, pode ser um excelente pontapé para grandes mudanças na Administração Pública Brasileira.

Um dos grandes desafios do Brasil é pensar na questão central: o que pode ser melhorado na Administração Pública Brasileira? E a resposta é: pouca coisa. Se pensarmos que no setor privado se pode fazer tudo que não é proibido em lei e na administração pública só se pode fazer o que está previsto em lei, chegamos à conclusão de que o país vive em um ambiente de pouca criatividade e inovação.

E as consequências desse ambiente engessado, sentimos todos os dias. Desde o momento de matricular um filho na creche, ou pegar uma guia de imposto na sua prefeitura, ou então procurar a ouvidoria de sua cidade para uma reclamação formal. Repare: quando tudo dá certo, quando o sistema não cai, quando somos bem atendidos, quando há toner na máquina de Xerox, a surpresa é geral. Sentimo-nos premiados, porque parece ritual de passagem não ter seu problema resolvido no ambiente público. Um dia vai chegar a sua vez.

E aí vem a pergunta: por que isso acontece? Como virar esse jogo? Como oferecer um bom serviço à comunidade e ainda assim produzir um bom clima no setor, que propicie novas ideias e experiências que podem dar certo?

Em palestras por Câmaras e Prefeituras do país, é comum esse tipo de pergunta. E a resposta é só uma: a solução está nas pessoas.  De fato, o Brasil tem pouca tradição de capacitação no setor público. Muitas vezes observamos que o alto escalão até tem mais acesso, seja em viagens a capital, com oportunidade de cursos e diárias pagos por nós. Mas isso nem sempre acontece com médio e baixo funcionalismo. E é justamente o médio e baixo escalão que geralmente está na linha de frente com a comunidade. E com pouca capacitação a seu dispor, o resultado é a baixa satisfação.

Para pensar em uma nova Administração Pública, é necessária uma mudança de perspectiva. Transformar práticas e construir instituições capazes de assegurar direitos e promover a inclusão e participação popular. Também significa formar servidores orientados ao mesmo tempo para a eficiência e produção de resultados, assim como para a construção permanente de um setor mais próximo dos cidadãos.

Não há outro caminho que não passe pelo investimento nas pessoas. Um dos pontos que sempre me chama a atenção em palestras para este público, é da falta de orgulho do servidor de se dizer servidor. Por isso essa mudança deve ser orgânica, de dentro pra fora.

E o primeiro ponto é proporcionar um novo ambiente no setor público. Sim, mais bonito, com uso de gestão a vista, mais limpo, com menos cara de anos setenta, carimbo sem tinta e ventilador quebrado. A beleza e limpeza são estimulantes, tem seu poder em nosso astral, humor e cuidado com as pessoas. Nos Estados Unidos é muito comum o termo da “vidraça quebrada” usada contra qualquer tipo de transgressão, ou seja, tomar uma atitude ao primeiro sinal de descuido a uma pintura, a uma limpeza, a quebra de um equipamento: ação e reparo.

Outro ponto importante é levar as boas ideias do setor privado para o setor público, como ferramentas do Coaching, o método FARM (Foco, Ação, Resultado e Melhoria Contínua), a implantação de metas por setor, entre grupos pequenos, para a união de equipes.

A Administração Pública é um grande arquipélago, cheia de ilhas, com pouca comunicação ou, quando ela existe, é cheia de ruídos, sem sentimento de unidade, que provoca apatia que reflete na procrastinação dos serviços. Não há elo, nem reconhecimento. Para um servidor público tanto faz ser eficiente ou não, ter bom relacionamento ou não, estar atualizado ou não. Ninguém irá pinçá-lo, promover, bonificar ou mesmo reconhecer seu bom desempenho.

E aí você pode pensar: será que daria certo nesse ambiente às vezes desolador da Administração Pública?  Essa descrença é justificável, mas boas ideias relativas ao individuo são universais: um bom ambiente de trabalho, uma comunicação ativa, a democratização a capacitação… isso tudo independe de condição entre setor público e privado. Muitas vezes são ideias simples, mas que poucos fazem, porque estão tentando descobrir a roda. E o não fazer é que fica caro. E essa conta do mau atendimento da engrenagem que faz um país funcionar, quem paga, somos todos nós.

Sobre a autora:

Juliana Albanez é Personal & Professional Coach, palestrante e jornalista. Especialista em Comportamento, Liderança Feminina, Gestão Pública e Comunicação, Juliana já levou suas palestras, treinamentos e sessões de coaching para milhares de pessoas no Brasil inteiro. Suas apresentações já lhe renderam os mais positivos feedbacks, principalmente de pessoas que deram a volta por cima em suas vidas e carreiras, graças aos seus conceitos e ensinamentos.

Site: www.julianaalbanez.com.br

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