Havia um reconhecido empresário brasileiro da década de 1950 que dizia, “Para que uma pessoa trabalhe para mim há que atender um requisito, que conheça mais do que eu sobre aquilo para o qual foi contratado!”. Parece uma condição simples, considerando-se que todos nós somos únicos, o que, supostamente, nos garantiria um diferencial natural em relação a qualquer outro ser humano. Entretanto a nossa unicidade não se manifesta sempre expondo um diferencial atrativo para a organização na qual estamos. Eis aí o grande desafio.
Assim, tornar a nossa característica de ser únicos relevantes para a organização passa a ser importante para aqueles que pretendem se destacar neste cenário. Relembrando a nossa unicidade pode-se afirmar que em nenhum momento eu estou competindo em igualdade de condições com alguém, porque não somos iguais. A diferença pode ser física, em que o biótipo de um favorece mais do que o de outro para exercer determinada atividade; pode ser genética, em que alguns fatores se sobressaem gerando uma vantagem competitiva em relação ao outro; pode ser experiencial, em que os conhecimentos adquiridos anteriormente promovem um ganho; enfim, pode ser nos diferentes níveis de inteligência de que dispomos, ajustando-se melhor a um ou outro tipo de função. Na verdade nós sequer competimos com alguém de dentro da nossa organização ou da nossa equipe, assim como não competimos com ninguém de fora. A nossa competição é conosco mesmo, procurando dar significância ao que temos de melhor. E uma vez que esse nosso melhor seja importante para a organização na qual estamos inseridos alcançaremos êxito. Conhecer estas diferenças e delas tomar partido, transformando-se em um elemento estratégico para a nossa organização é a nossa alternativa. Pode-se fazê-lo desenvolvendo e aprimorando nossa competência básica diferencial, elevando-a a um nível superior, assim como acrescer novas competências em domínios menos comuns, ampliando o nosso leque de relevância.
Isto se aplica em qualquer atividade, seja na esfera pessoal ou profissional. Nos esportes o remo é um exemplo, pois divide-se em fases distintas, entre a pegada, a puxada, a finalização da remada e a recuperação. Este conjunto de fases, sendo realizado de forma harmônica, é que fará com que o remador e a sua equipe alcancem a vitória. Assim, uma remada básica requer a aplicação de técnica e de força que se repetem ao longo do percurso da prova, fazendo com que cada músculo trabalhe e seja importante para o resultado final. A pegada é o movimento com a musculatura ainda relaxada, em que o tronco se flexiona em busca do melhor ângulo para a execução da puxada. Envolve-se neste movimento todo um conjunto de técnicas para favorecer o movimento seguinte que é a puxada. Sabe-se que este é o movimento que impulsiona o barco em direção a linha de chegada, mas a puxada também é subdividida em diferentes fases. A potência das pernas é de suma importância, representando aproximadamente 65% da força que impulsiona o barco. O movimento do corpo faz com que o carrinho deslize corretamente dando um adequado aproveitamento de todo o conjunto. E o movimento de braços e troncos completa a puxada, em que os músculos da parte superior do corpo se contraem para finalizá-la. Depois vem a finalização da remada, em que se procura extrair o máximo de eficiência do movimento, com a extensão completa dos músculos em consonância com a tração na água. Por fim, a última parte de uma remada é a recuperação, em que os braços são empurrados para longe do corpo em direção a pegada. Reinicia-se todo o ciclo rumo a linha de chegada.
Pode-se extrair de uma remada uma série de comparações com o nosso dia-a-dia organizacional, porque em nenhum momento há competição entre os músculos de um mesmo indivíduo. Há cooperação, assim como deve ser numa organização. Apesar de saber que a puxada é que impulsiona o barco, sendo assim a parte mais visível do sucesso do movimento, ela não diminui ou anula a importância das outras fases, porque todas estão intrinsecamente ligadas.
Caso a pegada não seja adequada, a puxada falhará. Caso a finalização não seja realizada a contento, compromete-se a recuperação, que prejudica a pegada e, consequentemente a puxada. Cada fase é distinta, cada movimento é único e cada músculo movimentado é importante, mas tudo deve acontecer de forma integrada e em cooperação. Da mesma forma como nós devemos ser importantes numa organização pelo trabalho em si, mas principalmente pela cooperação com os demais. E neste ponto vem o entendimento de que a remada também está inserida em algo maior, que é a regata. E esta, por sua vez, é o objetivo do atleta, do técnico e do clube ou do país. É o objetivo de uma equipe, que deve ser internalizado por cada um dos seus componentes, assim como na vida organizacional. Porém, cabe a nós sabermos ser distintos, únicos e importantes em nossas organizações, contribuindo para desenvolver o movimento adequado na sua totalidade. Isto requer esforço e dedicação para conciliar os objetivos organizacionais e individuais.
Entretanto, muitos remadores adquirem hábitos perniciosos e não executam o movimento na íntegra, normalmente atendendo a lei do menor esforço, comprometendo o resultado do trabalho de uma equipe. Isto também está presente na realidade organizacional, em que muitos colaboradores não conseguem ver o movimento como parte de um todo, comprometendo o resultado e diminuindo a sua própria relevância.
Por outro lado, cabe à organização identificar e valorizar os seus “músculos”, sob pena de ignorar conhecimentos e habilidades que comprometerão o seu desempenho. Logo, a organização deve estimular e manter as condições para que cada integrante da equipe desenvolva todo o seu potencial. Quando a organização opta por contratar pessoas que conhecem muito sobre determinado ofício, como no exemplo do empresário citado, deve também possibilitar que este colaborador continue aprimorando suas competências. Isto beneficia o indivíduo e a organização.
Deste modo, com um indivíduo disposto a desenvolver-se e uma organização que fomenta esta postura todos estarão mais próximos dos seus objetivos, sejam individuais ou organizacionais. Caso não seja assim, nós só estaremos na organização porque somos mais baratos e não porque somos estratégicos, enquanto a organização manterá um quadro de “músculos viciados” e não eficientes.
Por fim fica a pergunta que está posta no início: você é estratégico ou apenas mais barato?
Sobre o autor:
Moacir Jorge Rauber, tem Mestrado em Gestão de Recursos Humanos pela UMinho – Braga, Portugal (2010), Mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2003), MBA em Marketing (1998), além de extensa formação complementar. Atuou nas áreas Administrativa, Gestão de Recursos Humanos, Vendas e Planejamento Estratégico e ministra a palestra motivacional Em cada situação, novas oportunidades!
e-mail: mjrauber@gmail.com
Moacir, parabéns!!! Como sempre nos diz coisas para refletir…
Um beijo
Parabéns Moacir! Muito bem!
De facto o teu texto deixa-nos a reflectir….. Continuar a escrever assim!
Um beijin ho grande e muitas Felicidades…… Aparece cá por Portugal, fazes-nos falta 🙂
Parabéns Moacir, muito bom o artigo. Nos faz parar e pensar se estamos no caminho certo.
Abraço.
Sheila
Grande Moacir, não me espanta o brilhantismo da metáfora. É autoria de um homem talentoso, a cuja literatura todos nós, cá deste lado do Atlântico, estaremos atentos. Parabéns pelo artigo. E quando mais houver… avisa.
Agora vê se pegas nos remos e te fazes ao mar até esta margem lusitana.
Um grande abraço
Faustino
Moacir, parabéns.
Espero continuar a ler pérolas destas.
Beijoca
Aqui está um dos grandes problemas da GRH! Pedem-nos sempre o melhor dos melhores mas o mais barato possivel!
Moacir, parabéns pelo artigo. Faz sempre bem relembrar a nossa luta do dia-a-dia.
Abraço,
Marlene Soares
Moacir,
Em primeiro lugar eu lhe parabenizo pelo texto, pelo assunto e o modo como o trata (comparação/metáfora).
Realmente a concorrência é o modo mais ineficaz de enxergarmos a realidade, a cooperação sim é que faz sentido.
Talvez o que mais precisemos então são de pessoas mais comprometidas…? Como diria meu irmão hoje tem mais gente cobrando (resultados/metas/PAJÉ ) que auxiliando contribuindo na equipe (pajé com espírito de índio).
Penso que tem muitos dos profissionais que tem medo de aprender pois, devem antes admitir que não sabem (etapa normal do aprendizado)… Há postura melhor que alguém que esteja disposto a aprender, compartilhar e contribuir….? Parafraseando meu ex-chefe – não há desculpa para um engenheiro que utiliza a palavra “acho…”. O Achismo deteriora o conhecimento e desmoraliza o profissional.
Grande Abraço.
Fernando Pirotta.
Moacir!!! Parabéns pelo artigo…Pensando nas tuas palavras lembrei-me de que muitas vezes erramos a dobrar: pensamos em estratégias para termos apenas “os mais baratos”…somos estratégicos para o mal…porque as políticas da empresa assim obrigam porque não se cria espaço para revitalizarmos os “músculos”, entre tantos outos factores…Beijo* Manuela
Muito bom…
Cumprimentos.
Como eu gostava que em Portugal os colaboradores não fossem “os mais baratos”, e fossem tratados como estratégicos. Talvez seja este o diferencial…
Muitos parabéns Moacir.
beijo
Sandra