Escândalos como os do mensalão, lava-jato e do grupo do boi, a JBS, estão escancarando a questão da ética na vida de cada um. Ética no sentido de fazer sempre a coisa certa, de dia ou de noite, na frente dos outros ou nos porões da intimidade, ou seja ser honesto em qualquer situação. Isto é cumprir aquilo que nossos pais sempre recomendaram – ou deveriam ter recomendado.
Tenho admiração pelo cronista Tostão, futebolista, médico, psicanalista, escritor. O ex-centroavante habilidoso costuma fazer bem tudo aquilo que propõe. Analítico, questionador, cobra muito de si mesmo.
Recentemente Tostão narrou um episódio que o deixou feliz e ao mesmo tempo encabulado. Foi distinguido, em 2014, ao prêmio literário Manuel Vázques Montalbán. Ao ver detalhes da programação desconfiou que o evento não seria apenas de cunho literário. Que acabaria sendo uma espécie de garoto-propaganda do patrocinador. Em tempo, declinou do convite e aceitou o prêmio sem participar da cerimônia e da viagem à Espanha, Barcelona, passeios, entrevistas, camarote em jogos, etc.
Tostão é discreto, prefere ser visto como um comum do povo. Não gosta de badalações e vai pouco às tevês e mesmo aos estádios. Evita contato pessoal com dirigentes de clubes, atletas, técnicos. Procura preservar a qualquer custo a sua autonomia e liberdade para dar opinião isenta de influências mesmo que subjacentes.
Profissionais das Comunicações – os mais jovens e em formação, principalmente – deveriam se mirar nesse e noutros exemplos da prática ética. Rejeitar viver momentos de conforto e regalias para poder prestar trabalhos com total isenção, sem a obrigação de aliviar aqui ou ali para preservar amizades, no mínimo.
Derivando para o terreno corporativo muitas vezes apoiamos a formação de jovens lideranças ao assumirem posições de comando passando a “chefiar” colegas. Não precisa e nem deve deles se afastar, mas não poderá ter uma série de comportamentos típicos de colegas. Seu comportamento irá se guiar por prudência, evitando-se criar no grupo sensações de que tem preferências por este ou aquele, por exemplo, e até as costumeiras brincadeiras “zuações” não poderão ser as mesmas.
Tanto jornalistas-comunicadores quanto Líderes (Chefes, Supervisores, Gerentes) possuem poder. O primeiro o poder de opinar ou noticiar formando opiniões, influenciando milhares, milhões. O segundo o poder de admitir, demitir, promover, transferir, punir, elogiar, advertir, treinar, definir o trabalho a fazer, avaliar.
Diversas profissões exigem um distanciamento estratégico para evitar contaminações importantes. Isso afeta a zona de conforto mas dá um grande estado de tranquilidade. Desenvolver o trabalho com isenção, justiça e despreocupado com interesses cruzados não tem preço que pague!
Sobre o Autor:
Celso Gagliardo atuou em Comunicações e Liderança e gestão de Recursos Humanos –
e-Mail: gagliardo.celsoluis@gmail.com