Quem busca atualizar-se em gestão vai acabar encontrando um tema que provoca ao mesmo tempo interesse e cautela – o mindfulness corporativo. Já consolidado nas instituições científicas, ele recentemente avançou para o setor de serviços com ambiente estressante como os hospitais e as forças armadas. Por fim, o mindfulness bate à porta do mundo corporativo, especialmente depois que gigantes como o Google adotaram programas como o Search Inside Yourself (Procure Dentro de Você).
Para se ter uma ideia, nos primeiros meses de 2017 a Harvard Business Review incluiu 3 artigos sobre mindfulness na grade editorial; em todo ano de 2016 foram 8 artigos. No Google, as palavras corporate mindfulness encontram mais de meio milhão de artigos. O mindfulness escorregou para debaixo das luzes da ribalta.
Agora, digamos que um executivo ou empreendedor se pergunte: o que tenho a ganhar com o mindfulness em minha empresa? Melhor, como uma empresa brasileira lucraria caso incluísse o mindfulness em seu programa de benefícios às equipes de trabalho?
Não há fórmula exata para isso. Para começar, mindfulness é uma ferramenta individual e a expressão mindfulness corporativo é, na melhor das hipóteses, uma miragem onde se gostaria de chegar sem que se saiba exatamente como.
Mindfulness é um ponto de partida para o autocontrole emocional. Parece pouca coisa, mas controlar impulsos primitivos que nos levam a reagir em vez de refletir antes de agir é tarefa difícil. A parte do cérebro que organiza as respostas emocionais é em larga medida autônoma. Mas com tempo e dedicação, o mindfulness nos conduz a mecanismos capazes de inibir esses impulsos pela vontade e torná-los mais aptos a nos trazerem vantagem em vez de problemas.
Ao mesmo tempo, o controle sobre o sistema emocional resulta em menos interferência com as operações internas do organismo – especialmente aquelas que mantêm as linhas de defesa vigilantes. Em consequência, nos tornamos menos vulneráveis aos vírus e outros indesejados que diariamente batem à porta da nossa saúde.
Não obstante, são vantagens que empoderam o indivíduo, e não a organização. Nos países desenvolvidos, que capitanearam o mindfulness às corporações, já se ouve uma voz crítica. “As corporações embarcaram no vagão do mindfulness de forma a transferir o ônus de maneira conveniente para o funcionário”, escrevem Ron Purser e David Loy no Huffington Post. “Estresse é um problema pessoal e o mindfulness é o remédio certo para ajudar os funcionários a trabalhar de forma mais eficiente em ambientes corporativos altamente tóxicos.”
De fato, esse é o xis da questão. Pesquisas cuidadosas mostram que o mindfulness é o antídoto mais eficiente para evitar a toxicidade de muitos ambientes de trabalho. Na verdade, a grande vantagem ocorre quando os líderes adotam o mindfulness. Jeffrey Walker, que atuou por trinta anos como investidor em Wall Street, onde encerrou sua carreira como vice-presidente do JP Morgan, disse que ao longo desses anos havia presenciado uma mudança definitiva no estilo da liderança. “Mais e mais organizações estão afastando o líder impulsivo em favor do líder treinado em mindfulness simplesmente porque ele é capaz de construir um ambiente de trabalho humano e sustentável onde cada membro da equipe pode prosperar”, completou.
Outro efeito notável do mindfulness é a gestação de sacadas. No cérebro, elas dão origem a potenciais gama e lances de criatividade. É como se a equipe fosse capaz de colaborar de forma permanente através do brainstorming. Qual é a vantagem para a empresa? Qualidade em recursos humanos e gestão com produtividade.
Sobre o Autor:
Dr. Martin Portner é Médico Neurologista , Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness.
Site: www.martinportner.com.br