Dia desses uma amiga me ligou muito nervosa. Estava parada no trânsito havia um tempão. Tinha passado o dia todo em duas reuniões em lugares diferentes. Era uma sexta, fim de tarde, trânsito, chuva, todo mundo buzinando sem sair do lugar – o caos à la carte. Eu já vi esta cena antes. Uma cena tão previsível como tantas outras que fazem parte do caótico trânsito paulistano. A gente nem pode mais culpar o trânsito pelos nossos atrasos. Ele já faz parte da agenda.
Ocorre que estou morando temporariamente nos Estados Unidos, numa cidade de 15.000 habitantes. E aqui, uma coisa bastante previsível é o trânsito – nunca tem. Existe a rush hour, claro, por volta de 5:00/5:15hs, que pode causar um pequeno atraso para o jantar das 6, mas é isto, bem tranquilo mesmo.
Minha amiga queria saber como ser produtiva numa cidade na qual que se perde até duas horas entre um cliente e outro em função do trânsito. Eu respondo: não dá. Não tem como. Esta coisa de não saber o que vai acontecer durante o dia é um horror. É um cenário que reduz os níveis de produtividade de qualquer cidadão. Quem visita clientes com frequência deve lamentar o quanto de tempo se perde sem estar necessariamente na função. Sei que existem tecnologias para resolver os problemas de comunicação, reuniões online, estas coisas, mas pessoalmente sempre gostei de reuniões presenciais e acho que muitos clientes também.
Mas não e só o trânsito, é o estresse da violência, o atraso do cliente, o seu atraso, porque você passou no dentista ou no médico e a agenda dele já começou atrasada. Aqui a consulta marcada às 3:45hs. tem início às 3:45 (oh, surpresa) e não tem esta de “encaixe”. Como assim? Confesso que não estou acostumada com tanta previsibilidade, mas não posso negar: é uma benção. Porque sei que 4:30hs posso estar em outro lugar. Todo mundo consegue se programar e o dia rende – se isto não for produtividade, não sei o que é.
Como fazer então? Eu diria que as mudanças começam em casa. “Gerenciar” a imprevisibilidade é um começo. Se você marcou uma reunião as 10:00, ela deve começar as 10:00, e não “por volta de”, é preciso respeitar o tempo do outro, além do mais, tempo é dinheiro. Se a gente for coordenar uma reunião, pelo menos é preciso divulgar a agenda com antecedência, convidar o público adequado, solicitar as informações relevantes, designar o “owner” para cada tarefa, estipular prazos, planejar! Penso que é um bom exercício de produtividade. Se não conseguimos gerenciar nosso tempo na rua, talvez dentro de casa, seja mais fácil.
Algumas coisas não mudam, mas nossa capacidade de crescer e se aprimorar é incrível! Talvez seja a questão de tempo ou talvez o tempo seja a questão!
Sobre a Autora:
Gladis Costa, Gerente de Marketing e Comunicação da PTC para a América Latina. A PTC é líder no segmento de soluções para o gerenciamento do ciclo de vida do produto. Em março de 2009 criou o grupo “Mulheres de Negócios”, maior rede feminina de negócios do portal LinkedIn com mais de 4600 associadas. É colunista em vários sites onde publica artigos sobre marketing, serviços, comportamento, carreira e cultura. É formada em Letras pela Unesp, com pós-graduação em Jornalismo, Comunicação Social e especialização em Tecnologia e Negócios pela PUC-SP. Em 2005 lançou seu primeiro livro de crônicas, “O homem que entendia as Mulheres”.