São Paulo, 9 de agosto de 2019 – No Brasil, a maior parte das companhias não possui políticas para ascensão de mulheres aos cargos de diretoria, vice-presidência e conselho de administração. Em contrapartida, os impactos das ações existentes começam a gerar resultados e 54% das empresas estão contratando mais mulheres para cargos de maior nível hierárquico, 51% estão contratando mais mulheres para cargos tradicionalmente ocupados por homens e 43% estão tornando suas propagandas e peças publicitárias mais respeitosas à equidade de gênero. Os dados fazem parte da pesquisa “Mulheres na Liderança” da WILL – Women in Leadership in Latin America, em parceria com o Valor Econômico e Editora Globo, com apoio do Instituto Ipsos. O levantamento foi divulgado ontem durante evento para convidados, em São Paulo, e integra um profundo estudo que identifica as melhores práticas e políticas que estimulam a equidade de gênero e promoção de mulheres na liderança das principais empresas do país.
Esta é a segunda edição da pesquisa “Mulheres na Liderança” e participaram 165 grandes empresas que atuam no país em diferentes setores. Figuram no topo da lista empresas como Grupo Pão de Açúcar (Varejo), Diageo (Indústria de Alimentos), Uber (TI e Telecom), Exxon Mobil (Energia), Avon (Cosméticos e Higiene Pessoal), Robert Bosch (Automotivo), White Martins (química e Petroquímica), entre outras.
“A pesquisa realizada pela Will criou uma competição do bem e tem levado as empresas a refletirem e fazerem um autodiagnóstico. Nessa edição, a pesquisa inova em detalhar temas como o estímulo ao prosseguimento da carreira na volta da licença maternidade e explora a questão de gênero, combinada com outras aspectos da diversidade, como as questões raciais e geracionais. Baseados em mais de 5 anos de estudos, avaliamos os programas de diversidade das empresas por eixos de atuação, que consideramos fundamentais para a eficácia dos programas e consequente sucesso em termos numéricos. Com isso, conseguimos obter um retrato mais detalhado sobre como andam as ações e o que precisa ser melhorado”, explica Silvia Fazio, presidente da Will.
No que se refere a estratégia e estrutura das empresas, 56% identificaram ter lideranças formais que atuam na promoção da equidade de gênero e 52% têm o tema na agenda do CEO da empresa de forma prioritária. A maioria, no entanto, 47%, possui apenas ações pontuais para a promoção da equidade de gênero, enquanto 41% possuem uma política formal, com metas claras e ações planejadas. Ter mulheres em cargos de liderança é a pauta definida como a mais importante ou prioritária para apenas 45% das participantes.
No aspecto de recrutamento e seleção, 37% das companhias avaliam os currículos sem identificação de gênero antes de realizar uma entrevista e 65% monitoram a proporção de homens e mulheres contratados, porém apenas 30% possuem a regra de proibição da não-contratação de mulheres baseada em seu estado civil ou condição reprodutiva. Em relação à remuneração apenas 43% se preocupam em ter métricas de monitoramento de equiparação salarial entre homens e mulheres, mas 61% possuem procedimentos formais e claros de aumento salarial.
Quanto ao eterno binômio vida pessoal e profissional, a pesquisa aponta que 40% das empresas oferecem unicamente a licença maternidade conforme exigido em lei e 25% das empresas monitoram o retorno das mulheres após a licença maternidade. A boa notícia, no entanto, é que existe uma busca das empresas para que mulheres e homens conciliem a vida pessoal com a profissional e exerçam a maternidade e a paternidade. Entre as pesquisadas, 73% facilitam que os pais e mães acompanhem seus filhos ao médico e 42% possuem políticas de trabalho flexível, como home office, por exemplo.
A pesquisa ainda avaliou se as empresas estão investindo na capacitação e treinamento para o desenvolvimento de lideranças femininas. Entre as participantes, 63% estimulam a participação em programas que visam o desenvolvimento profissional e 31% possuem programas de coaching voltados para potenciais lideranças femininas que tenham sido identificadas. Embora haja mais engajamento das empresas no estímulo aos treinamentos, 33% não monitoram a ascensão feminina. Esse dado se torna ainda mais relevante quando se observa os cargos de liderança, para os quais 38% não possuem políticas para equilibrar o número de homens e mulheres na vice-presidência e diretoria, e 65% não detêm de meios para ascender mulheres no conselho de administração.
A presença de práticas, processos e políticas especificas para mulheres negras, lésbicas, trans e com deficiência ainda é muito pequena. O estudo revela que 79% das empresas seguem políticas similares para todas as mulheres, não levando em conta as diferenças de raças, deficiência, orientação sexual e idade. Somente 17% possuem ações, políticas ou programas específicos para mulheres não brancas, mulheres com deficiência e mulheres não heterossexuais; 16% para mulheres trans e 7% para as mulheres acima de 50 anos.
“Se a equidade de gênero é um tema ainda em formação, a diversidade avança em uma velocidade menor. As empresas ainda estão muito atrasadas em relação a adoção de políticas para a diversidade. Somente 2% possuem metas numéricas de contratação de mulheres não-brancas e 1% de mulheres não heterossexuais Se temos dificuldades claras no desenvolvimento de mulheres brancas como líderes, para as mulheres negras ou trans é muito mais difícil ascender profissionalmente”, afirma a executiva.
Sobre o posicionamento externo e relacionamento com a cadeia de valor e stakeholders, as empresas avaliam como importante, mas 58% não possui engajamento com esses formadores de opinião para formulação de estratégias pró equidade de gênero e 59% não possui práticas de incentivo aos seus fornecedores. Somente 16% das empresas estimulam seus fornecedores para implementar políticas e práticas de promoção da equidade de gênero, bem como por buscar uma nova consciência em relação a importância dessa temática. Por outro lado, 59% da liderança das companhias se posicionam publicamente acerca de questões de equidade de gênero e valorização da diversidade e 52% participa de comitês externos que promovem políticas de equidade de gênero.
“Apesar da equidade de gênero estar mais disseminada na sociedade, as mulheres ainda são minoria no comando das empresas. As organizações ainda possuem um longo caminho a percorrer. A grande maioria está no estágio de identificar as barreiras e criar políticas para a promoção da liderança feminina”, destaca Silvia Fazio.
Sobre a pesquisa:
O levantamento, realizado pela Ipsos em parceria com a Will e o Valor Econômico, é o mais amplo estudo sobre práticas corporativas de equidade de gênero do Brasil. O estudo analisa as políticas, os processos e as práticas das organizações para garantir o acesso das mulheres a cargos de liderança e identifica as empresas que mais promovem políticas de equidade. Realizado entre novembro de 2018 e fevereiro de 2019, o estudo entrevistou executivos de 165 grandes empresas que atuam no Brasil através de um questionário online: as grandes empresas foram definidas segundo o critério SEBRAE – a quantidade mínima de funcionários para ser elegível a responder ao estudo foi de 100 funcionários para Comércio e Serviços e 500 funcionários para Indústrias. A margem de erro do estudo é de 7,6 p.p.
Sobre a Will:
Women in Leadership in Latin America – é uma organização internacional sem fins lucrativos, com sede em São Paulo e conselhos consultivos em Nova Iorque, Miami, Washington, Bogotá e Londres.O objetivo da organização é apoiar e promover o desenvolvimento de carreira das mulheres na América Latina, reconhecendo suas habilidades e competências, além de estimular as empresas sediadas na América Latina a implementarem programas relacionados com as mulheres e negócios, promovendo o intercâmbio das melhores práticas entre as organizações nacionais e internacionais.