Eu me lembro como se fosse hoje, estávamos no início de 1991, eu coordenava a área de benefícios de um importante laboratório químico e farmacêutico. O presidente da empresa procurou o diretor de RH e informou que naquela manhã havia perdido um amigo, muito jovem, na quadra de tênis, infarto fulminante. Naquele momento ele pediu ao RH uma proposta imediata para campanhas internas de promoção a saúde, minha relação com este tema começou aí. A partir de então realizamos inúmeras ações internas e externas a fim de prevenir doenças, conscientizar, mudar comportamento dos funcionários e familiares, de uma empresa com mais de 5.000 colaboradores.
No início, ficávamos inseguros com os temas que deveriam ser abordados? qual a melhor forma de transmitir as informações? como aumentar o número de participantes nas ações? como ser assertivo sem ser paternalista? como tornar o programa viável de fato? Por muitas vezes, confesso, usamos bala de canhão para matar formiguinhas, por outras vezes os meios tornaram-se mais importante que o fim, em outras os temas não correspondiam com a realidade da empresa e nem tão pouco as reais necessidades dos funcionários. Muitos recursos foram investidos, nem sempre com resultados comprovados. Naquela época os programas tinham vida curta e eram levados por uma empolgação que não se mantinha, devido ao mal gerenciamento dos recursos.
O tempo foi passando e a cara desses programas mudou bastante. Em muitas empresas eles viraram sinônimo de glamour, festa e brindes. Eu costumo brincar que alguns programas são semelhantes a um dia de circo com espetáculos incríveis, palhaços e mágicos. Levanta-se a lona, contratam-se os artistas, distribuem-se as pipocas, os balões coloridos e depois de alguns dias, quando o circo é desmontado muitos participantes da platéia ainda não entenderam o que de fato aconteceu. O programa de qualidade de vida se tornou um evento, um dia de festa, um agrado ao funcionário sem um objetivo maior.
Após muitos anos como consultora de benefícios em grandes empresas e hoje como sócia-diretora da Gib, pude idealizar e realizar muitos programas de qualidade de vida e nessa trajetória aprendi algumas coisas importantes que desejo compartilhar com vocês:
- Os programas mais estáveis e assertivos são aqueles estruturados a partir do mapeamento da população da empresa e dos indicadores extraídos dos relatórios de saúde, alinhados as necessidades pontuais, objetivos e a cultura da empresa.
- Os melhores resultados costumam surgir de ações simples, práticas, autênticas, objetivas e criativas;
- Ações isoladas e pontuais não costumam gerar credibilidade, continuidade, comprometimento e resultados;
- Mensuração de resultados, análise de indicadores e acompanhamento periódico desses índices garantem a eficiência do programa;
- Um programa de qualidade de vida pode existir sem grandes investimentos financeiros mas não sem o comprometimento da direção da empresa com os seus objetivos;
- Ferramentas adequadas de comunicação aliadas a um compartilhamento dos resultados com os envolvidos impactam diretamente no sucesso do programa.
- Os programas de sucesso são aqueles que começam de forma mais simples e vão se aprofundando e se aperfeiçoando com o tempo e com o amadurecimento do grupo envolvido.
- Caso não exista um departamento especializado em sua empresa v. precisará contar com a ajuda de especialistas para ajudá-lo a gerenciar e acompanhar o programa, caso contrário o dia a dia não permitirá que v. cumpra o cronograma estabelecido.
Não tenha dúvidas, hoje em dia o ambiente corporativo se tornou um espaço maravilhoso e propício para abordar e discutir as questões relacionadas a saúde. Por este e outros motivos os programas de qualidade de vida impactam de forma positiva na vida dos colaborares, na produtividade da empresa e se bem direcionado, no longo prazo, poderá impactar ,também, na performance do plano de saúde.
Por experiência própria, posso afirmar que os resultados serão surpreendentes!
Sobre a autora:
Débora Carrera Maia, é Diretora de Expansão, Novos Negócios e Qualidade de Vida da 4Health – Inteligência em Saúde e Benefícios e atua a 22 anos na área de Benefícios em RH.
Para ter uma qualidade de vida decente o profissional acaba tendo que trabalhar mais? Com níveis de emprego cada vez mais exigentes, os profissionais estão estressados pelo excesso de tarefas a serem desempenhadas… A Isma Brasil, associação, sem fins lucrativos, e a única com caráter internacional voltada à pesquisa e ao desenvolvimento da prevenção e do tratamento de stress no mundo, realizou uma pesquisa com 1000 executivos e constatou que 61% dos entrevistados apontavam questões profissionais como principal origem do problema de estresse, estando insatisfeitos com a quantidade de horas que dedicam ao trabalho — e sofrendo por isso.