“Aqui e agora ou lá longe?”
No meio corporativo, planejamento sempre é um assunto em pauta. A definição de Missão e Visão da companhia já é o primeiro planejamento a ser pensado na criação da empresa. Depois vêm as metas, os projetos etc, etc. Em nossa vida pessoal também acontece algo similar. Nos ensinam que temos de ter uma missão, que devemos escrever nossos objetivos, anseios, nossa visão de futuro etc.
Creio que um bom planejamento é importantíssimo – e por que não dizer vital? – para uma empresa, porém, como sugere o título, vejo que o planejamento é um recurso complementar e não principal em uma organização ou em sua própria vida.
Vou utilizar um exemplo real para explicar-me melhor.
Em abril de 2010 comecei a minha jornada no Caminho de Santiago. Para quem não conhece, o Caminho é um percurso feito a pé de vários pontos do mundo até a catedral de Santiago de Compostela, na Espanha. O meu percurso começou na França, cidade de Saint Jean Pied-de-Port e, até chegar em Santiago de Compostela, caminhei aproximadamente 800km em mais de 40 dias de trajeto…
Durante o caminho conheci muita gente totalmente focada na chegada, no marco zero. Pessoas que viam o fim como sucesso e o não chegar como derrota plena, frustração.
Por conta disso, caminhavam mais rápido do que aguentavam, ganhando dúzias de bolhas nos pés, tendinites e dores nos joelhos. Algumas chegavam a pegar ônibus para ganhar tempo. Eu era o tartaruga da turma. Enquanto os apressadinhos faziam 45 a 50km por dia, eu andava tranquilamente 20, 25km… numa boa.
Quando cheguei ao meu objetivo final, fiquei decepcionado por um lado e muito feliz por outro. A catedral de Santiago é belíssima, porém, tão bela como muitas outras durante a caminhada. A cidade é diferente, mas tão diferente como muitas outras. Resumindo, a chegada – que na minha vez foi chuvosa e fria –, foi simplesmente chegar. Nada além disso. E esta foi minha frustração quando percebi que o ponto final deste trajeto não era tão impressionante como parecia.
A alegria, por sua vez, foi saber que não perdi meus dias correndo por um “final feliz”. Ao contrário, desfrutei cada passo, conheci pessoas do mundo inteiro, almocei no meio do mato, jantei em paróquias, aprendi um novo idioma, passei por chuva, sol, barro, neve e vivi alguns dos dias mais surpreendentes em minha vida.
Durante este percurso, também fui obrigado a mudar minha rota por várias vezes, pois algo inusitado sempre aparecia e eu não queria perder aquela oportunidade.
Em resumo, aprendi que o importante não é o “chegar”, mas o saber caminhar.
Ainda se tratando de planejamento, vejo que ele é imprescindível quando se entende verdadeiramente para que serve. O planejamento, as metas, os objetivos lhe dão direção e motivação. Direção, para que não caminhemos sem rumo, e motivação, colocando um “combustível” especial (garra, vontade, amor ) e dando um significado para a nossa vida.
Lembre-se: nossos objetivos de vida são importantíssimos, porém, mais importante que isto é aprender a comemorar cada passo nos bosques da vida e, se for preciso, mudar de objetivo também. Devemos ser atentos para perceber, flexíveis para mudar e sábios para entender que novos caminhos ainda hão de surgir.
E você? Quais são seus planos? Aqui e agora ou lá longe? Ou os dois?
Sobre o autor:
Rafael Baltresca é professor e palestrante desde 1999. É graduado em Engenharia Eletrônica, especialista em Programação Neurolinguística [PNL] e pesquisador de Psicologia Comportamental e Psicanálise aplicada a negócios. É ilusionista profissional desde 2001, hipnólogo clássico e ericksoniano pela PUC-SP com especialização em Madrid (Espanha) e Las Vegas (EUA). É campeão Latino-americano de ilusionismo – Lima/Peru [Categoria Criatividade/Invenção]; atuou como conferencista na Argentina, Peru, Colômbia, Uruguai, Venezuela e Portugal. Mais de 250 palestras apresentadas. Realiza treinamentos em Portugês, Inglês e Espanhol. Autor do livro: Crônicas, Histórias e Histórias Crônicas – Virtual Books, dez/2010.
site: www.AulaShow.com
e-mail: rafael@AulaShow.com
provérbio MUI antigo, árabe: o que importa não é o destino, mas a viagem 😉
Estou concluindo o curso de Gestão em Recursos Humanos ao final deste ano e durante todo o curso temos tido inúmeras disciplinas que nos ensinam que o planejamento estratégico é algo essencial, pois sem ele, sem direção. Mas sua experiência em Santiago de Compostella, mostra justamente o que poucos percebem numa jornada como esta, a vista do que se tem a mão, a paisagem que muda em cada parte do trajeto, as águas cristalinas etc, é como na empresa, mesmo com o planejamento em dia, é necessário olhar para os lados, para ver se não existe um caminho que seja seguro, mas alternativo e vai te levar também à demonstração dos resultados esperados pela empresa. O que poucos executivos enxergam na verdade é que a ordem dos fatores não altera o produto e somente foca na regra a ser seguida, como se só existisse aquilo. E acredito estarmos vivendo uma era de stress muito grande, por conta de não priorizarmos o que realmente importa, seja na vida pessoal ou profissional.
Gosto de ler estas experiências fazem bem ao espírito e ao corpo. Para quem leu a Terceira onda de Alvin Toffler poderá notar que estamos em um momento de transição mundial no que diz respeito ás atitudes e conceitos dos empresários dos quais somos escravos por pura forma de agir. O industrialismo está moribundo e exigindo a redefinição da companhia como um todo. Enquanto as faculdades colocam para fora uma imensa gama de profissionais mal formados por conta da quantidade que desovam no mercado no anseio de lucros fáceis. Cobram o desaparecimento dos talentos que nunca sairam de onde estão, apenas estão calados, porque investiram em suas vidas, tempo e dinheiro para se formarem, se pós graduarem. Temos o direito de viver e queremos trocar o nosso aprendizado por qualidade de vida. Quem é profissional especializado não pode aceitar salários abaixo de seu nível, não daria sentido ás suas vidas. Enquanto os empresários curtem fortunas a custa dos talentos, os próprios talentos curtem uma sub vida, humilhados com salários incompatíveis, muitos nem se aposentam por tempo de serviço. Os empresários viraram os escravagistas modernos, os salários incompatíveis são os chicotes e as firmas as senzalas .
Devemos curtir o caminho e dar sentido ás nossas vidas e denunciar estes abusos.
O destino tem relevância menor, o que importa é a jornada.
Muito oportuno o texto ! É essencial que possamos aprender, que o TODO é importante para nossas vidas, e não só o “FIM”. Podemos nos cegar diante tanto planejamento e nos tornarmos inflexíveis, fazendo com que deixemos passar outras boas oportunidades na vida e no trabalho !
Artigo bacana! Sua experiencia foi demais,exemplo para todos nos que estamos na lideranca,realmente eh essencial planejarmos e ter foco no resultado final.