A Ciência Econômica nos ensina que são três os fatores de produção: Terra, Capital e Trabalho. Isto quer dizer que para obtermos a produção de qualquer bem, será necessário utilizarmos estes três elementos combinados. Para facilitar nosso entendimento, podemos substituir, na definição, o termo Terra por Natureza, pois o sentido que se quer dar é o de que para produzirmos um bem será indispensável a utilização de algum elemento natural, seja ele de origem vegetal, mineral ou animal, os quais serão, portanto, as matérias primas utilizadas no processo produtivo.
Se olharmos à nossa volta, vamos constatar que todos os bens que nos pertencem um dia foram Natureza. Até mesmo nosso carro, nossa casa, nossa TV, nosso celular, etc. Ou derivam de minerais, inclusive petróleo, de vegetais ou até mesmo, de animais. Por esta razão a Ciência Econômica define como um dos fatores indispensáveis à Produção, a Natureza.
Os demais fatores são: Capital e Trabalho. Trazendo esta questão para o nosso cotidiano vamos encontrar nas empresas, os acionistas (sócios), que são os capitalistas. Estes sócios podem também ser trabalhadores quando assumem posições em suas empresas como administradores. Não podemos reduzir estas duas funções a uma só classe. São capitalistas, na medida em que financiam o empreendimento, representando assim, o Capital. Mas, são também trabalhadores na medida em que dirigem o empreendimento, representando, neste caso, o Trabalho, na equação econômica de produção.
Fazendo um aparte: é por esta razão que a contabilidade deve tratar de forma distinta, o pró-labore (ganho decorrente do trabalho) do dividendo (ganho decorrente da distribuição do resultado aos capitalistas).
Além dos acionistas, representantes do Capital, temos a Natureza, representada pelas matérias-primas e pelos equipamentos, construções, instalações, veículos, etc. (lembrem-se: todos estes bens, um dia foram Natureza) e, por último, o Trabalho, representado pelos trabalhadores. Para facilitar nossa argumentação, de ora em diante, quando nos referirmos ao Trabalho estaremos centrando nosso foco nos empregados, muito embora, não devamos esquecer que os acionistas/dirigentes são também, em última análise, empregados do empreendimento.
A História do Desenvolvimento Econômico Mundial mostra que o Capitalismo é o regime econômico que melhor sustenta a Democracia. O Capitalismo, por sua vez, se sustenta e se fundamenta na propriedade privada dos meios de produção, empregando trabalho assalariado e visando o lucro. Assim, no Capitalismo, o lucro é o objetivo primordial da utilização de capitais na propriedade dos meios de produção.
Bem ou mau, certo ou errado, é assim que o mundo tem encontrado seu caminho no desenvolvimento econômico das nações e de seus povos. Críticas à parte, o que nos interessa aqui é tentarmos enxergar a relação, no momento atual, entre estes “fatores de produção”, em especial a relação entre o Trabalho e o Capital.
Neste sentido, vamos relembrar Maslow, brilhante cientista americano do início do século passado, que afirma em sua obra, que o homem precisa do trabalho para, por meio da remuneração que ele produz, satisfazer suas necessidades. Para Maslow, as nossas necessidades obedeciam a seguinte graduação:
- Comida, água, moradia
- Segurança e Proteção
- Pertencimento e Amor
- Auto-estima e
- Auto-realização
Afirma ainda , não ser possível satisfazer uma necessidade sem antes satisfazer a anterior. Assim, não é possível ao homem, obter segurança e proteção sem antes ter um local para morar e ter sua sede e sua fome satisfeitas. Para que alguém se sinta realizado (auto-realização) é preciso antes, que todas as demais necessidades estejam devidamente satisfeitas.
Sem ter a pretensão de nos estender a cerca da teoria de Maslow, basta-nos aqui esta pequena menção, para concluirmos que cabe ao Sistema Capitalista oferecer condições para que o cidadão possa satisfazer suas necessidades, até o grau da auto-realização, uma vez que a Economia de uma Nação é responsável pelo “bem estar” de seu povo.
É neste sentido que queremos enxergar a relação Trabalho/Capital, admitindo que quanto menos conflituosa ela for, mais sinérgica será, proporcionando ganhos, tanto às empresas, como aos trabalhadores, cabendo ao profissional de RH, um papel de grande importância, atuando como elemento de ligação e moderação entre as partes, quando bem interpreta a gestão de Recursos Humanos nos tempos atuais.
Os benefícios gerados pela adoção de uma “política moderna de gestão de Recursos Humanos” são evidentes e indispensáveis ao sucesso da empresa no mundo atual. Certamente contribuirá com uma maior eficiência, alavancando a produtividade e a qualidade, e com menores custos, na medida em que facilita a implantação de políticas de redução de gastos, redução/eliminação de desperdícios, etc.
Ocorre que a adoção de uma “política moderna de gestão de Recursos Humanos” não se resume em uma mera decisão administrativa. Será “missão impossível” a tentativa de implementação desta política, sem que se leve na devida conta, a necessidade imperiosa de mudança de cultura na empresa.
Por outro lado, mudança de cultura implica em “quebras de paradigmas” e é aí que as dificuldades se avolumam. É absolutamente incompatível a modernização do RH sem uma revisão profunda nos conceitos de administração de pessoal. Na verdade, não se trata apenas de uma mudança, mas de uma transformação, quase uma revolução.
Abandonar velhos paradigmas não é fácil para ninguém, especialmente para quem detém o poder. Aceitar que o Trabalho é tão importante para a produção quanto o Capital, é algo que soa como um certo “desafio” ao poder do dinheiro. Aceitar que o empregado é um “parceiro” e não apenas um “cumpridor de ordens” é muito complicado para muita gente. Mas, é assim e somente assim, que se pode mudar e adotar uma nova concepção nesta relação tão desgastada ao longo do tempo.
É lembrando que o Trabalho é tão importante quanto a Natureza e o Capital, para que haja produção. É lembrando que, se cuidamos muito bem do nosso dinheiro, dos nossos equipamentos, de nossas instalações, devemos também cuidar melhor ainda dos nossos empregados. Se um equipamento precisa de manutenção, o empregado precisa de saúde. Se um equipamento precisa de uma boa fonte de energia para funcionar, o empregado precisa de uma boa alimentação. Se um equipamento precisa de reciclagem e melhorias, o empregado precisa de treinamento, e assim por diante. Sem querer passar a idéia de que o empregado deve ser tratado como máquina, afinal são de natureza completamente distintas, é indiscutível que há entre Natureza e Trabalho uma grande semelhança, enquanto fatores de produção.
No momento, fala-se muito em Responsabilidade Social das empresas, atribuindo-lhes a responsabilidade de investir na proteção e conservação do meio ambiente, tanto no sentido de evitar agressões como no de resgatar ou recuperar o que já foi perdido na Natureza. Entendemos que isto está absolutamente correto, mas queremos lembrar que de nada adianta proteger e conservar o meio ambiente se antes não investimos no seu elemento mais importante: o homem.
Investir no homem, enquanto fator indispensável à produção, é conceder-lhe a oportunidade de satisfazer suas necessidades segundo a escala de Maslow, até o nível mais alto: a auto-realização. Não basta termos empregados que tenham apenas suas necessidades básicas satisfeitas. Este não é o trabalhador ideal nem para a empresa, nem para a sociedade.
As empresas que investirem nos seus trabalhadores, estarão investindo na sua própria melhoria, no seu próprio desenvolvimento, no seu próprio fortalecimento e ainda cumprirão, em boa parte, com a sua responsabilidade social, na medida em que estarão preparando melhor os seus homens, tanto do ponto de vista do conhecimento técnico-científico quanto do ponto de vista de seus deveres e obrigações com a sociedade em que vive, proporcionando-lhes as condições adequadas para o pleno exercício da cidadania.
Sobre o autor:
Paulo Macedo é Economista, Administrador, mestrado em Controladoria e Finanças. Atua como Consultor Independente nas áreas de Planejamento Financeiro, Business Planning, Controladoria e RH, na região de Campinas-SP.
e-mail: pjmacedo@hotmail.com