Considerável número de desligamentos de pessoas nas organizações é motivado por comando inadequado. E reclamações trabalhistas também são ajuizadas por má relação com o chefe. O descuido organizacional na seleção e preparo de lideranças faz surgir vários tipos de comando: omisso, tirano, alterna-humor, infantil, senil, indiscreto, metas inatingíveis, invasivo, bonzinho, e por aí vai.
As trombadas entre chefes no cotidiano das empresas levam a prejuízos e desgastes incalculáveis, para todos. A boa conduta da liderança azeita caminhos, abre portas, constrói elos e pontes.
A escolha do líder para representar o “dono” do negócio é algo para ser feito sem parcimônia. Mas as organizações teimam em não preparar sucessores, não formam líderes que possam administrar melhor os “quatro emes” de Métodos e Processos, Máquinas e equipamentos, Materiais e Mão-de-obra.
Quem executa com maestria um trabalho e tem alto grau de fidelidade a uma organização não será, necessariamente, um bom ocupante de cargo de comando. Apenas conhecimento técnico e perfeição operacional não são pré-requisitos para indicar alguém a esse tipo de promoção. Líder tem que pensar em vários assuntos ao mesmo tempo, tem que articular, planejar, coordenar, convencer, se impor…e acima de tudo gostar e procurar entender, também, de gente.
Em toda organização podemos notar, claramente, as diferenças de desempenho entre um setor, e outro, pelo perfil da liderança. Aqueles pró-ativos, que assumem de fato a liderança e os papéis inerentes são grandes facilitadores de resultados, jogam para a equipe, possuem a visão do conjunto, são integradores e interagem positivamente com pares, superiores e subordinados.
Não é fácil liderar. E o comandante precisa saber exatamente o que se espera dele. Caso contrário ficará perdido entre fazer ou mandar, planejar ou executar. A liderança positiva inspira confiança nos seus seguidores, e tem capacidade de inspirar e motivar pessoas, atingir e superar metas, ultrapassando limites.
Para isso, precisam ser bons comunicadores, saber ouvir e ter o poder de convencer. Têm que ser energéticos para impor dinamismo. Se auto-motivar para não perder a vontade de vencer. E exercitar a criatividade, tomando o cuidado para não deixar que a rotina diária o envolva e embote o seu raciocínio, sem perder o viés do pensar diferente, de se questionar para descobrir sempre uma nova e melhor forma de fazer.
O bom líder descobre que liderar é um caminho que não termina nunca. Esse ponto nos remete ao poeta Ferreira Gullar, que falou um dia assim: “você pode escrever mil livros, e um dia você acorda e está a zero. Porque nada do que foi feito satisfaz a vida… A vida é viver”. Mui belo! Há sempre um recomeçar, um novo tempo, um recomeço com novas metas e desafios impulsionando o bom líder.
Quem lidera processos e pessoas assume poder. O poder nos afasta um pouco da base, no sentido do isolamento útil e necessário para exercer a necessária independência e autonomia. Novamente o líder precisa de sensibilidade para não perder o contato e seus liames com a base, mas também exercer a autonomia para poder surfar com maestria sobre as ondas. O poder é, mesmo, solitário. Paradoxalmente solitário, pois muitas vezes aquele líder que convive com tanta gente à sua volta sente-se muito só para apreciar, julgar e decidir.
Quanto mais ganhamos o topo das organizações mais nos distanciamos da base, e mais ficamos sós. Verdadeira angústia assombra, muitas vezes, novas lideranças que sentem perder o prazer do convívio próximo dos colegas ao galgar uma posição que lhe exige outra postura, discrição, polidez, representação corporativa, independência para agir e decidir.
Sim, as lideranças falam pela empresa, e como tal aquela brincadeira descompromissada de outrora passa a ser encarada de outra forma. É necessário medir as palavras, pensar na repercussão do que vamos dizer, usar os filtros do bom-senso para conseguir ser admirado e respeitado por todos, da mesma forma.
O velho amigo das piadas, do futebol, churrasco e pescaria não mais estará tão acessível como antes. Sua participação nos eventos sociais se vincula aos efeitos que isso trará no moral da tropa, na sensibilidade de cada um, nas idiossincrasias do ser humano. Suas preferências pessoais poderão soar como “gostar mais, ou gostar menos” desta ou deste, daquele ou daquela.
Quando guindado ao cargo de comando a pessoa precisa enxergar o horizonte todo, vislumbrar a floresta e não apenas algumas árvores. Suas aparições e interação terão que ser mais gerais, com o grupo como um todo, sem deixar transparecer tendências pois o holofote estará dirigido para si, à procura de seus acenos reveladores. Não poderá mais ir pescar somente com o Pedrinho ou com o Cássio. Enfim, terá que se precaver, acautelando-se nas relações.
Mas isso não expressa somente o lado perverso da relação. Nem por isso o líder precisa se afastar de vez do grupo liderado. Aliás, o líder bem avaliado é provedor – dá, treina, entende, ouve, integra, aconselha, recompensa – e também é cobrador, exigente, modificador de comportamentos que afetam as zonas de conforto visando o melhor resultado.
Chefe que sempre é bonzinho raramente faz bom papel e cumpre seus objetivos. Mas chefe tirano dá prejuízos, afeta o ambiente, é o agente insalubre que provoca aquele mal-estar nas noites de domingo quando a vinheta do Fantástico anuncia que a segunda-feira está chegando…, e a figura do chefe, também.
A virtude está no equilíbrio, na ponderação, no “morder e assoprar” para colocar pesos equivalentes nos dois pratos da balança. Na dúvida, indagar sempre “estou sendo justo nas minhas ações e decisões?” E, mesmo assim, sabendo que não vai conseguir agradar sempre, a todos, e a todo o momento.
Parabéns, líderes responsáveis que se esforçam pelo bom cumprimento do difícil papel de representar o capital perante a força de trabalho, e que percebem quando alguém, sob sua liderança, se torna um profissional cada vez melhor porque foi bem liderado. A liderança positiva multiplica positivismo e faz um bem danado.
Sobre o autor:
Celso Gagliardo é profissional de Recursos Humanos e Comunicações, graduado em Direito e especializado em Recursos Humanos, habilitado consultor de Pequenas e Médias Empresas. Prestou serviços como técnico, executivo e consultor em várias empresas nacionais. Foi redator de jornal, e treinador. Fundador e membro de Grupos de Recursos Humanos (atual CEPRHA), e diretor da PH – Patrimônio Humano, Consultoria e Serviços. Atualmente é gestor corporativo de RH do Grupo Estrutural.
e-mail: gcelsoluis@yahoo.com.br
Parabéns pelo artigo, caro Celso.
Comentários muito apropriados e atuais.
Um grande abraço,
Márcio Walter
Caro Celso, ao ler o seu artigo, proporcionou-me viajar pelas organizações por onde passei, e refletir sobre acertos e não acertos, os meus e dos meus colegas de trabalho.
Semre é tempo de refletir e poder acertar os rumos, para que os acertos sejam mais estáveis na balança compensatória da vida profissional.
Quem te conhece um pouco, percebe que tudo que está escrito não é apenas fruto de suas leituras, mas é o resultado da sua trajetória profissional. Obrigado, valeu!!!
Celso, Gostei muito do artigo. Obrigada!
🙂
Celso
Parabens pelo artigo…
Muito bom !!!
Repassei para minha equipe ler.
abraços
Prof. Celso
Parabens por mais este artigo, pela clareza das idéias e pelas verdades contidas e ditas de forma direta e sem rodeios.
um forte abraço.