Lições do Poderoso Chefão

Gustavo Rocha
Gustavo Rocha

Em um artigo recente, Clemente Nobrega citou o diálogo do Poderoso Chefão baseando seu artigo na reciprocidade que exercemos na nossa vida.

Cito parte do artigo com o diálogo do filme e meus comentários abaixo.

A cena de abertura do filme O Poderoso Chefão é um retrato primoroso da reciprocidade em ação. É o dia do casamento da filha do Godfather, Don Corleone. Bonasera, imigrante italiano, um agente funerário, vem lhe pedir um favor-ele quer vingar uma agressão e tentativa de estupro contra  sua filha, que foi espancada pelo namorado e um outro jovem.  Bonasera descreve o assalto, a prisão e o julgamento dos dois rapazes. O juiz deixa-os sair livres naquele mesmo dia. Bonasera fica furioso, sente-se humilhado, chora, e vem a Don Corleone pedir que a justiça seja feita. Corleone pergunta o que exatamente ele quer. Bonasera sussurra algo em seu ouvido, que podemos assumir que é “Mate-os.” Corleone se recusa, e lembra que Bonasera não foi um grande amigo até aquele momento. Bonasera admite que tinha medo de arranjar “problemas”. O diálogo prossegue:

CORLEONE: Eu entendo. Você encontrou o paraíso na América; tem um bom comércio, fez uma boa vida. A polícia protegia você e havia tribunais de justiça. E você não precisava de um amigo como eu. Mas agora você vem a mim e diz: “Don Corleone dá-me justiça”.  Mas você não pede com respeito. Você não oferecer amizade. Você nem pensa em  me chamar de “Godfather“. Em vez disso, você entrar em minha casa no dia que minha filha está para se casar, e me pede que mate por dinheiro.

BONASERA: Peço-vos  justiça.

CORLEONE: Isso não é justiça; sua filha ainda está viva.

BONASERA: Faça-os sofrer, então, como ela está sofrendo. [Pausa]. Quanto devo pagar?

CORLEONE: Bonasera … Bonasera … O que eu fiz para você me tratar tão desrespeitosamente? Se você tivesse vindo a mim com respeito, essa escória que arruinou a sua filha estaria sofrendo hoje. E se por acaso um homem honesto como você tivesse inimigos, então eles se tornariam meus inimigos e teriam medo de você.

BONASERA: Seja meu amigo [Ele se curva para don Corleone]-Godfather? [ beija a mão de Corleone].

CORLEONE: Bom, bom [Pausa.] Algum dia, e esse dia pode nunca chegar, eu vou pedir que faça um serviço para mim. Mas até esse dia, aceite esta justiça como um presente no dia do casamento de minha filha.

A cena é extraordinária. Apresenta os temas da violência, parentesco e moralidade que conduzem o resto do filme. Nós, intuitivamente, entendemos por que Bonasera quer os rapazes mortos, e por que Corleone se recusa a fazê-lo. Trememos diante  da tentativa canhestra de Bonasera de oferecer dinheiro, quando o que está faltando é a relação certa entre ambos, e entendemos por que Bonasera tinha sido cauteloso antes . Entendemos que, ao aceitar um “presente” de um chefe da máfia, uma corrente de aço-não apenas um cordão- vai mantê-lo preso àquela relação. Entendemos tudo isso sem esforço porque vemos o mundo através da lente da reciprocidade.

A reciprocidade é um instinto profundo, é a moeda básica da vida social. Bonasera usa-o para comprar vingança, que é ,em si, uma forma de reciprocidade. Corleone usa-a para manipular Bonasera fazendo-o juntar-se à família Corleone.

Reciprocidade ou… interesses?

Pode parecer a mesma coisa, mas para algumas pessoas não é. Algumas pessoas querem tratar tudo olho no olho, dente por dente, ou seja, se fiz algo, quero algo em troca. A reciprocidade proposta no filme é diferente: Auxilio, mas quem foi auxiliado fica em dívida, então se houver algo que seja preciso, haverá a necessidade da reciprocidade.

Como está funcionando isto na sua empresa?

Você paga o salário e quer o que em troca?

Você dá um aumento e quer o que em troca?

Você auxilia com cursos e quer o que em troca?

É amigo leitor e empresário… Para termos reciprocidade precisamos fazer como o poderoso chefão, ou seja, agirmos com estratégia e não com emoção.

Por melhor que possa parecer, estamos diante de um ser humano, que tem suas ideias de crescimento, de mundo, de visão de mercado e de carreira. Dar dinheiro/aumento e outros benefícios tem que haver contra-prestação, ou seja, mais responsabilidades, mais trabalho, mais dedicação. Caso contrário, não há a tão falada reciprocidade.

Analise bem antes de dar ou pedir reciprocidade, pois envolvem interesses, que se forem distintos, não haverá negócio…

Sobre o autor:

Gustavo Rocha: Advogado Pós-Graduado em Direito Empresarial com mais de 10 anos de vivência no âmbito jurídico. Atuou como gerente de escritórios de advocacia por mais de 4 anos. Experiência nos estados do RS, SC, PR e SP. Presta exclusivamente consultoria nas áreas de gestão, tecnologia e qualidade para escritórios de advocacia, mantendo sua OAB atualizada como ferramenta de luta nos interesses da classe junto a OAB e Tribunais, através das comissões da OAB. Possui publicação em livro pela OAB/SC no livro OAB em Movimento, OAB editora, além de diversos artigos publicados em revistas e periódicos físicos e eletrônicos. Atua também como palestrante em diversos eventos nacionais e ministra treinamentos in company de gestão e tecnologia.

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