Ultimamente tenho ouvido uma queixa constante: “Na minha empresa, fala-se muito em inovação, mas ninguém inova nada”. A cúpula se queixa da gerência, a gerência se queixa de suas equipes, que por sua vez se queixam das gerências e da cúpula. Todo mundo quer, mas ninguém consegue.
Vamos entender mais uma coisa: empresas inovadoras são diferentes das empresas que inovam, ou seja, a grande maioria das empresas não tinha a inovação como vocação primária, simplesmente precisou inovar por uma questão de sobrevivência (ou, pelo menos, de sustentabilidade).
E inovar seria mais fácil se não demandasse uma mudança na forma de alocação de recursos, de tempo e da mente das pessoas. Aliás, pode-se dizer que muda até a “alma” das empresas, já que cultura é um pouco isso.
Mas como mudar a cultura se ela determina a personalidade, o jeito de ser de cada organização, e levando em consideração que comportamentos, crenças e valores não mudam do dia para a noite? É por isso que quando falo em cultura, prefiro falar em influência ou até contágio, mais do que mudança.
Venho advogando a um bom tempo que cada empresa deve criar o seu jeito de inovar. Afinal, este foi o percurso das empresas inovadoras.
Vejamos por exemplo o caminho trilhado pela 3M, que valoriza as iniciativas individuais. Um de seus motes mais famosos era “contrate bons funcionários e deixe-os em paz “, princípios de William L. McKnight, , seu diretor em 1948 (veja mais sobre a cultura de inovação da 3M no www.slideshare.net/inovabrazil/3-m-resumoseminariosinovacao).
Agora um exemplo completamente diferente: a IDEO, outra referência em inovação, é uma empresa de design que, devido ao seu sucesso com inovações, disseminou a metodologia do Design Thinking: para eles, o que funciona é o trabalho em grupo (veja o famoso vídeo sobre a IDEO no http://www.youtube.com/watch?v=M66ZU2PCIcM).
As duas formas funcionaram, sobretudo, porque estavam alinhadas com a cultura das empresas, aliás, até com as culturas locais: Minnesota, a sede da 3M, cresceu como uma cidade agrícola, onde cada profissional estava sozinho cuidando de seu gado enquanto que San Francisco, a sede da IDEO, é famosa por valorizar a diversidade, a militância e os movimentos grupais.
Só que a preferência pelo trabalho individual, ou em equipe, ou em redes, é apenas uma das variáveis. É preciso conhecer a forma como cada empresa administra riscos e erros, seu grau de centralização, como lida com ideias novas, diversidade, decisões, etc.
Enfim, é preciso conhecer a cultura, os aspectos de cada empresa que favorecem ou desfavorecem as inovações. É preciso conhecer também qual o foco das inovações a cada momento (inovar no quê?), e as variáveis de sua estrutura física e digital, para avaliar as iniciativas que contribuirão para a inovação de cada empresa.
Em resumo, quando se trata de cultura de inovação, há muito em que se inspirar, mas bem menos para copiar.
Sobre a autora:
Gisela Kassoy é especialista em Criatividade e Inovação, facilita grupos de geração e avaliação de ideias, realiza seminários e palestras e dá consultoria para programas de ideias e adoção de ambientes virtuais. Realizou trabalhos em quase todo o país e nos EUA, Europa e América Latina. Graduada em Comunicações pela FAAP/SP, fez sua formação específica na Universidade de Nova York em Buffalo, no Centro de Liderança Criativa da Carolina do Norte e na Escola de Gerentes do MIT. É Psicodramatista com Formações em Dinâmica de Grupos, Grupos Operativos e Design Thinking.
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e-mail: gisela@giselakassoy.com.br