A Longevidade da Lentidão

Cristina Piton
Cristina Piton

Quanto tempo demora para uma pessoa se tornar ágil? Essa é uma pergunta que muitos executivos, que lideram equipes, questionam quando se deparam com uma consultoria, achando que temos todas as respostas.

A pergunta, apesar de, quase uma antítese nos parece pertinente na ótica dos resultados, mas não muito na ótica humanista.

Será que agilidade é competência adquirida ou habilidade inata? Vamos tentar refletir juntos sobre o modus operante e verificar como as coisas funcionam na prática. Um dia desses ao palestrar para um grupo de secretárias de alta direção, pude perceber que ser ágil nem sempre é vantajoso. Uma delas comentou que na empresa em que atua, uma das regras organizacionais, é que, quando você termina o seu trabalho e as suas colegas-pares não conseguiram dar conta da rotina, deve-se imediatamente assumir o posto de auxílio, ou seja, tem que ajudar. Observem que usei imperativo: “tem que”, ou seja, não é opção, é obrigação! O prêmio que se ganha pela agilidade e eficiência é simplesmente: mais trabalho, nesta ótica sem dúvida.

Quanto tempo o mensageiro demora para entregar as correspondências nos doze andares da empresa? A resposta é: depende. Depende se ele tem um bom network, outra competência importante, afinal, ninguém quer ficar para sempre como mensageiro, ainda mais entregando correspondência na Presidência da empresa. Um dos mensageiros sempre ágil, eficaz em tudo o que faz, neste caso não é o mais queridinho, pois ele não teve tempo de tomar um cafezinho e acalmar a secretária que acabou de tomar uma bronca federal, nem tampouco pagou as contas pessoais no banco na hora do almoço para aquela linda supervisora de olhos azuis que fica no décimo primeiro. Se formos avaliar as competências necessárias e essenciais para o sucesso profissional, relacionamento interpessoal e network são ingredientes fundamentais, não há quem se contrarie ao que estou citando. Pois é, é exatamente aí que entra a agilidade em pauta, pois ela pode ser medida sob vários ângulos. O mais rápido pode ser o mais ansioso também, ou aquele que pratica by-pass em quem aparece pela frente ou ainda aquele que chega primeiro, antes de todo mundo, para ganhar tempo em tarefas mais rentáveis no horário de expediente. Quando medimos performance, a agilidade vai ser considerada de forma a elevar o grau de compromisso, de dedicação de cada um, sem dúvida. Mas não terá considerado o como foi feito, quais as ferramentas utilizadas para atingir aquele determinado patamar.

Atualmente, ser ágil, tem a ver com, se antecipar às necessidades, prever futuro minimizando erros com os já experenciados, tem a ver com a geração de novos negócios sem que alguém tenha pensado antes, tem a ver com criatividade já que estão escalonados na mesma régua. Agilidade pede criatividade e também qualidade. Nada adianta ser ágil, se vai gerar retrabalho, se alguém terá que fazer de novo, se será barrado na etapa seguinte.

Morfologicamente, ágil é o oposto de lento, o ágil é trator, passa por cima e vai em frente, é sanguíneo, é frenético, dá o tom e diretriz. O lento tem baixa produtividade, faz tudo no seu timing, sem pressa, sempre conciliando, sempre amenizando, sempre blue, seus gestos são quase em slow motion, fala devagar e, o melhor, trabalham juntos no mesmo projeto. O que vale perguntar é qual dos dois chega em casa mais estressado pela rotina. Nos livros dizem que os opostos se atraem, mas os iguais se completam. Há uma forte tendência em nos adaptarmos a tudo, até mesmo nas diferenças entre os indivíduos, mas o que conta de fato é que somos medidos pelo quanto produzimos de forma quanti e qualitativa. As empresas prezam pelo excelente, exigem o máximo e depreciam o mínimo. A questão é que, quando se vive no sentido contrário do relógio da vida, a tendência é sermos expurgados do mundo, claro que, no sentido figurado , mas lembrando que respeitar o seu próprio tempo de executar cada tarefa, permite que você viva por mais tempo, claro que, com suas devidas consequências organizacionais. Há quem diga que as tartarugas são lentas por natureza e os linces são ágeis por necessidade. E você? Onde se encaixa? O mundo é repleto de oportunidades para pensarmos de que forma queremos conduzir nossas vidas em todo o seu espectro, lembrando que alguns animais foram extintos e gradativamente apareceram seus sucessores um tanto mais evoluídos e eles ficaram apenas para a história.

Boa reflexão!!

 

Sobre a autora:

Cristina Piton Consultora há mais de 16 anos em Gestão Humana e Qualidade Total. Graduada em Educação Física pela FEFISA, pós graduada pela USP em Neurofisiologia Cardiovascular, Jornalista graduada pela FIAM. Atuação em treinamentos e palestras voltadas à gestão humana, expertise em assessoria geral de Call e Contact centers. Formou-se  na Fundação Getúlio Vargas em diversos temas voltados ao comportamento humano e é sócia diretora da CP ONE INTELIGÊNCIA EM TALENTOS HUMANOS.

site: www.cpone.com.br   

email: cristinapiton@cpone.com.br

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Uma Resposta para "A Longevidade da Lentidão"

  1. Parabéns pelo ótimo texto que nos leva a refletirmos sobre o ritmo que levamos a nossa vida profissional e pessoal. E avaliarmos o que de fato vale a pena… Claro que a busca pelo meio termo, pelo equilíbrio será sempre nosso grande desafico. Essa leitura também nos ajuda a lembrarmos da necessidade de respeitarmos as diferenças, valorizando o que cada um tem de positivo.
    Muito obrigada!

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