A idade mata a criatividade. Correto seria que, com o passar dos anos, nos tornássemos mais criativos, espontâneos e investigativos. Mas não é o que se percebe na prática.
Roger von Oech, consultor de criatividade no Vale do Silício americano, relata uma história no seu livro “Um Toc na Cuca” que nos faz refletir um pouco sobre essa questão. Oech conta que, num dia de aula no seu curso colegial, o professor fez uma pequena marca de giz no quadro-negro, perguntando à classe o significado daquilo. Segundos depois alguém arriscou: – É uma marca de giz no quadro-negro.
Os demais alunos respiraram aliviados diante da obviedade, rindo e declarando a tarefa realizada. Não havia nada mais a ser dito. – Vocês são surpreendentes – disse o professor – Ontem apliquei o mesmo exercício a uma turma do jardim da infância, e eles me trouxeram mais de cinquenta respostas diferentes: o olho de uma coruja, um inseto esmagado, uma flor e assim por diante.
Uma longa pesquisa realizada pela NASA, para seleção de cientistas e engenheiros com características pessoais inovadoras, acabou revelando o declínio da criatividade ao longo dos anos. Na primeira fase da pesquisa, as crianças tinham entre 3 e 5 anos e 98% apresentaram alta criatividade. O mesmo grupo foi testado aos 10 anos, apresentando um número bem menor neste percentual: 30%. Com 15 anos, somente 12% dos pesquisados mantiveram altos índices de criatividade. O mesmo teste foi aplicado a um universo de mais de 200.000 adultos e somente 2% se mostraram altamente criativos. Os autores dessa pesquisa concluíram que, ao longo da vida, nós aprendemos a ser não-criativos. Um declínio que não se deve à idade, mas aos limitadores mentais que criamos e acumulamos ao longo da vida, muitos deles na escola, que acabam reforçando o pensamento de alguns educadores que afirmam que as crianças entram na escola como “pontos de interrogação” e saem como “frases feitas”.
Mas podemos ficar tranquilos. Nem tudo está perdido. Como? Estimulando nossa mente com informações positivas, adotando posturas flexíveis e percebendo nossa vida e nossos relacionamentos como grandes e produtivas aulas, o engessamento pode ser revertido. Num cenário competitivo como o em que vivemos, onde muitos possuem acesso à informação em doses cada vez mais cavalares, a habilidade de pensar diferente torna-se a característica pessoal mais valorizada. A capacidade de ver o que ninguém viu antes tem gerado respostas inovadoras não apenas para os novos mas, principalmente, para os antigos problemas. Sem criatividade, uma empresa não vislumbra mercados, não detecta oportunidades e tende a ficar para trás, repetindo a fórmula consagrada pela concorrência.
Veja bem: eu disse que podemos ficar tranqüilos, não parados. Em desenvolvimento pessoal, quando paramos de andar, já estamos sentados. Quando achamos que sentamos, já estamos deitados. Ao deitarmos, na verdade já estamos dormindo. E quando dormimos, já estamos mortos.
Sobre o autor:
Eduardo Zugaib: é escritor, profissional de comunicação e marketing, professor de pós graduação, palestrante motivacional e comportamental. Ministra treinamento nas áreas de Desenvolvimento Humano e Performance Organizacional.
site: www.eduardozugaib.com.br