Aproveite Suas Férias para Ficar Mais Criativo

Gisela Kassoy
Gisela Kassoy

Em primeiro lugar: nem pense que vou sugerir um curso, livro ou tarefas. Pelo contrário, proponho muito, mas muito relax, contemplação e até preguiça. E sem culpa, pois  o “dolce fare niente” fará de você uma pessoa mais criativa.

Explico: se por um lado as empresas e a sociedade não apenas aceitam, como cobram comportamentos criativos, por outro, o cotidiano estressante não dá espaço para atividades que estimulam a geração de ideias como a reflexão, o relaxamento, a inspiração.

O princípio do Ócio Criativo, tão valorizado no Brasil, foi mal interpretado. O que o sociólogo Domenico de Masi prega não é o ócio pelo ócio, mas sim uma forma diferente de trabalhar, já que a produção criativa se assemelha em grande parte aos nossos momentos de prazer, convívio social e lazer.

As  técnicas de geração de ideias foram elaboradas a partir da observação do que torna as pessoas mais criativas. Infelizmente, são formas de uso da mente que o universo organizacional despreza. As técnicas que aplico como coordenadora de grupos de geração de ideias tem pontos em comum com  o contexto das férias, só que são mais estruturadas, com foco maior nos resultados do que no prazer, além de todo um trabalho de coleta e avaliação das ideias. Entretanto, destaco alguns princípios para que esse mesmo processo possa ser desenvolvido em seus momentos de lazer e, pasmem, sem ao menos serem percebidos. Observe:

CURTIR O BELO E O PRAZEROSO –  Muitas técnicas de criatividade envolvem todos os nossos sentidos. O princípio é mudar o estímulo habitual da mente (cognitivo) para algo mais sensorial.  Dessa maneira, vistas bonitas, boa comida e ventinho agradável libertam a mente. Olhar ao longe, curtir uma bela vista para o mar ou para o campo amplia não só os músculos da visão, mas também os horizontes mentais.

SAIR DO FOCO – A Fertilização Cruzada, técnica que utilizo para gerar inovações em produtos e serviços, constitui justamente na busca de soluções em universos não relacionados com o tal produto ou serviço. A “caramanhola”, aquela garrafa feita para ciclistas, foi inspirada numa  válvula cardíaca e funciona da mesma forma que ela. Adiantava ficar pensando só em garrafas e bicicletas na hora de criar esse novo produto?

JOGAR CONVERSA FORA –  O ato de conversar livremente, sem grandes preocupações com resultados é chamado de “Serendipity”. O nome se origina de um conto oriental no qual três amigos faziam descobertas surpreendentes a partir de conversas sem compromisso. Na prática, o que acontece é que em situações de stress, a mente tende a repetir ideias já pensadas e quando há mais liberdade, a mente propicia pensamentos mais originais.

VIAJAR NA MAIONESE –  Segundo o psicólogo americano Joy Paul Guilford, a elaboração é um dos principais componentes do processo criativo. Trata-se de explorar um determinado tema, sem querer que ele se esgote, exatamente a tão criticada viagem na maionese. É claro que na vida real há um momento no qual a exploração precisa terminar. Mas percebo que no mundo organizacional, essas “viagens” são curtas demais, sem espaço para a imaginação.

DEIXAR ROLAR – Num mundo obcecado pelo controle, férias são perfeitas para deixar rolar, inclusive os problemas. Falando de outra forma, você estará permitindo a incubação, ou seja, livrando sua mente consciente das preocupações enquanto o inconsciente trabalha.  Quem já não teve uma boa ideia justamente quando deixou de pensar nela?

MATAR O TEMPO –Você já pensou quanto tempo perde ruminando a culpa por não estar fazendo um melhor proveito do seu tempo a cada momento? A administração do tempo muitas vezes não considera as necessidades do pensamento criativo, como a incubação. E uma coisa é certa: culpar-se pelo desperdício do tempo não dá espaço para a mente fluir.

FALAR BESTEIRAS – Uma das práticas do “brainstorming”, a mais conhecida técnica de geração de ideias, é justamente falar o que vier a mente, já que os participantes podem adaptar partes de uma má ideia.  Por outro lado, o Pensamento Lateral, outra técnica que utilizo bastante, consiste em transformar uma má ideia em algo viável. Essas ideias acabam sendo originais –  já que no início são absurdas – mas se tornam úteis e viáveis em função do exercício de adequação

SONHAR ACORDADO – Perguntar-se “e se” é como  fazer um alongamento com o pensamento. O devaneio é considerado um grande aliado da criatividade.

Evidentemente, existe um lado prático que é o resgate da produção criativa que as férias podem propiciar. Se você sabe que vai desfrutar suas férias com algumas das práticas mencionadas, esteja preparado para anotar suas ideias, elas surgirão.

Fora das férias, procure aplicar esses princípios quando precisar ser criativo, mesmo que em meio a loucura do cotidiano você achar que seja impossível.

Boas férias e boas ideias!

 

Sobre a autora:

Gisela Kassoy é especialista em Criatividade e Inovação, facilita grupos de geração e avaliação de ideias, realiza seminários e palestras e dá consultoria para programas de ideias e adoção de ambientes virtuais. Realizou trabalhos em quase todo o país e nos EUA, Europa e América Latina. Graduada em Comunicações pela FAAP/SP, fez sua formação específica na Universidade de Nova York em Buffalo, no Centro de Liderança Criativa da Carolina do Norte e na Escola de Gerentes do MIT. É Psicodramatista com Formações em Dinâmica de Grupos, Grupos Operativos e Design Thinking.

site: www.giselakassoy.com.br

e-mail: gisela@giselakassoy.com.br

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