Qualquer pessoa que já tentou inovar deve ter ouvido alguma frase assassina, daquelas que destroem uma ideia ou opinião. “Não vai dar certo” é sem dúvida a mais célebre, mas um sonoro “Você está louco?”, se não é a pergunta mais frequente, está entre as mais destruidoras.
Porque as pessoas tendem a rejeitar coisas novas? Segundo os neurocientistas, todos os seres humanos possuem o chamado “cérebro reptiliano” que, igualzinho aos répteis e demais seres irracionais, diante do desconhecido, ataca ou foge.
Raramente alguém ataca ou foge de uma ideia tal qual os animais, mas aquele risinho complacente não seria uma forma de ataque? E quando alguém diz algo do tipo “Aqui essas coisas não funcionam”, ou aponta rapidamente os riscos da ideia, como se eles não pudessem ser contornados, não está atacando?
Há também formas humanas e razoavelmente elaboradas de fugir de uma inovação: vai desde um “Depois a gente conversa” até um “Vamos focar nas prioridades”. Quem nunca ouviu algo assim?
Ainda bem que o cérebro humano não é apenas reptiliano! Além do mais, evoluímos: não há mais lugar para o destrutivismo pessimista. “Não vai dar certo”, sem boas justificativas, hoje em dia pega mal. Também não é mais aceitável culpar outras pessoas ou situações, com frases como “A chefia não vai aceitar” ou “O mercado não está preparado”, afinal, somos responsáveis pela disseminação e implementação de nossas ideias, independentemente das circunstâncias.
“Fica difícil”, ou “É complicado” nem pensar: a má vontade fica estampada.
Infelizmente, há versões mais sutis e sofisticadas de se podar novas ideias, como o terrível “Esta é a única alternativa”. Ora, se só há uma alternativa é por que as outras ainda não foram criadas, o que não significa que elas não possam vir a existir. “Das duas uma” ainda é melhorzinho, mas não seria melhor abrir a mente para mais de duas possibilidades?
“Estou certo ou estou errado?” também é uma expressão que inibe o raciocínio: a maioria dos fatos é complexa demais para alguém estar totalmente certo ou errado.
“Você não entendeu” é cruel: pode significar que quem emitiu esta frase considera que está tão certo que a pessoa, ao entendê-lo, só poderá concordar.
Finalmente, há a pior de todas, talvez a mais traiçoeira: é a tal da “É igual a…” e suas variantes do tipo “Já foi tentado”. Ora, o que foi tentado – e não funcionou antes – justamente por causa disso pode funcionar depois! Além do mais, identificar uma ideia com outra anterior pode impedir a pessoa de ver a sutil diferença que fará toda a diferença.
Fique atento às frases assassinas. Perceba e corrija sua tendência a fugir ou atacar. Ela é normal, mas pode ser evitada. E não se deixe levar pela fuga ou ataque de outros. Suas ideias merecem consideração.
Sobre a autora:
Gisela Kassoy é especialista em Criatividade e Inovação, facilita grupos de geração e avaliação de ideias, realiza seminários e palestras e dá consultoria para programas de ideias e adoção de ambientes virtuais. Realizou trabalhos em quase todo o país e nos EUA, Europa e América Latina. Graduada em Comunicações pela FAAP/SP, fez sua formação específica na Universidade de Nova York em Buffalo, no Centro de Liderança Criativa da Carolina do Norte e na Escola de Gerentes do MIT. É Psicodramatista com Formações em Dinâmica de Grupos, Grupos Operativos e Design Thinking.
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