“Dizer a verdade é tão difícil quanto ocultá-la.”
(Baltasar Gracián)
Para realizar a consulta anual com minha oftalmologista, profissional experiente, competente e renomada, seria necessário o agendamento com três meses de antecedência. Com sorte, consegui um encaixe, sendo atendido em duas semanas.
Durante a consulta, descobri que dos 29 pacientes previstos para aquele dia, sete já haviam cancelado ou simplesmente não comparecido. E ainda estávamos no início da tarde, significando que possivelmente ela encerraria o dia de trabalho com cerca de um terço de clientes não atendidos por ausência.
Em passagem por um pronto socorro infantil, minha filha realizou um exame a pedido da médica plantonista. Porém, na prescrição ela não solicitou uma análise essencial para verificação da enfermidade. Assim, o exame teve que ser refeito, dias depois. Contudo, esta segunda amostra teve sua integridade comprometida, talvez na coleta, talvez no manuseio, ensejando uma terceira visita ao PS para novo exame. Apesar do erro inconteste, fosse do hospital ou do laboratório, exigiram que um novo atendimento fosse aberto, como se fora um novo procedimento.
Estes dois episódios ajudam-nos a perceber uma face não aparente do que envolve o atendimento médico-ambulatorial-hospitalar nos dias atuais e sua relação com as administradoras de planos de assistência médica.
No primeiro caso, temos a malfadada dificuldade em agendar consultas, uma benesse não mais exclusiva do serviço público prestado pelo SUS, mas inerente aos convênios médicos privados. O que não se comenta é que o próprio usuário, o próprio paciente, o próprio cliente contribui de forma decisiva para o agravamento deste quadro quando de forma egoísta, irresponsável e inconsequente abstém-se de cancelar uma consulta agendada ou comunicar sua impossibilidade de comparecimento, ainda que em decorrência de um imprevisto, ao qual seguramente estamos sujeitos.
No segundo caso, encontramos a inépcia do médico, que ao falhar na mera prescrição do que deveria ser objeto do exame, comprometeu o diagnóstico e postergou o tratamento, desencadeando uma sequência de fatos que sobrecarregou o atendimento no pronto socorro, gerou retrabalho, ônus para o convênio médico, provocou perda de tempo e dinheiro e, em especial, prolongou a angústia de uma paciente com três anos de idade e de seus pais.
Não cabe aqui qualquer apologia em defesa das operadoras de planos de saúde, as quais deveriam buscar maior eficiência na gestão para proporcionar, além de melhor atendimento aos usuários e transparência das regras, também uma remuneração mais justa em especial aos médicos conveniados. Entretanto, é fundamental alertar para o fato de que a melhoria na qualidade e a sustentabilidade desde sistema, que só tende a se ampliar com a inclusão de novos entrantes, somente será possível quando médicos prescreverem com adequação os exames necessários, laboratórios de análise e hospitais prestarem serviços com excelência, e pacientes forem mais conscientes e altruístas na utilização dos serviços.
Sobre o autor:
Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008) e coautor de outros cinco livros.
site: www.tomcoelho.com.br, www.setevidas.com.br
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