Tenho percebido que muitos jovens não conseguem persistir, não são capazes de manter o foco e, por isso, nem sempre concluem seus ciclos profissionais. Mas como isso pode se refletir no futuro profissional e influenciar o rumo da carreira?
A primeira vez que prestei atenção na canção Oriente, de Gilberto Gil, foi há muitos anos, quando vi uma entrevista de Elis Regina dizendo que a havia gravado, mas que tinha errado parte da letra. Por algum motivo isso me chamou a atenção.
A música parece ter a intenção de ser um alerta para os jovens sobre a importância de ter atitude, de ter um norte. Escrita em 1971, já tratava da importância de onde fazer o curso de pós-graduação. Vejam que Gilberto Gil não diz “quando”, e sim “onde” será seu curso de pós-graduação. Passados quase 40 anos, ainda há jovens que não entenderam a importância do investimento em educação.
Falo todos os dias com muitos deles, a maioria ainda está em dúvida de quais caminhos seguir e, por causa disso, demonstram-se paralisados. Muitos são resultado da “pedagogia bancária”, à espera que lhes digam para onde ir, vivendo o dia a dia, sem coragem de arriscar.
Há nesta canção uma frase que pode ampliar a discussão sobre os caminhos na gestão da carreira, que ajuda a refletir sobre o mundo do trabalho e a competição no mercado: “Se oriente, rapaz, pela constatação de que a aranha vive do que tece.”. O tema é vasto e não linear, mas vale a reflexão. Sempre que quero traduzir, principalmente para os mais jovens, a importância da produção como base na construção da carreira, uso esta frase.
Parece óbvio que os resultados de cada um definirão as matizes de cada trajetória. Competir no mercado de trabalho não é diferente de nenhuma outra disputa. O que torna alguém vencedor são seus resultados, não o seu potencial. Atingir resultados profissionais, porém, requer formação e persistência.
Tenho percebido que muitos jovens não conseguem persistir, não são capazes de manter o foco e, por isso, nem sempre concluem seus ciclos profissionais. Isso gera para suas vidas consequências que serão muito complexas de administrar. Eles serão jovens que não terão relatos de realizações, que não deixarão sua marca. Como consequência, não serão capazes de relatar seus atributos profissionais, não terão uma identidade profissional.
O grande desafio no início da carreira é aplicar consistentemente os conceitos assimilados no período de formação. É transformar conhecimento em competência por meio da experiência prática. Quando, pela falta de continuidade, a aplicação do conhecimento não gera resultados, não há a formação de competências. Com o passar do tempo, o jovem contratado em função de seu potencial passará a ser cobrado pela capacidade de solucionar problemas mais complexos. Ele precisará mostrar que desenvolveu competências capazes de suportar o seu crescimento. Se isso não ocorrer, será eliminado, como acontece nos “reality shows”.
É preciso entender bem cedo que construir uma carreira é se apropriar da construção da identidade profissional por meio da criação de um processo de desenvolvimento de competências, baseado nas realizações e direcionado para um foco específico. E, como diz o ditado popular, aranha que não tece teia, não pega mosca.
Sobre o autor:
MARCOSVONO é Especialista em Recursos Humanos e Carreiras. Atuou como Diretor de RH do Grupo IBMEC durante oito anos, função que também cumpriu em diversas empresas como Banco ABN Real, Quaker e Unilever.Marcos também atua como Professor de MBA e Pós-Graduação, Palestrante e Consultor nas áreas de Carreiras e Gestão Estratégica de RH, além de ter sido articulista do jornal O Estado de São Paulo no caderno de Empregos.
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