“Seja magro!”; “Seja fitness!”; “Seja green!”; “Seja um líder!”; “Seja um pai ou mãe que orienta, dá carinho, tenha disposição para brincar ou estar presente o tempo inteiro e tudo isso com bom humor!”; “Tenha vontade de ter relações sexuais sempre!”; “Seja excelente na sua profissão!”; “Não fume e nem coma gordura!”; “Atualize-se sempre na sua profissão!”; “Seja romântico, carinhoso e esteja sempre disposto a dialogar de maneira tranquila”; “Você pode alcançar qualquer sonho que desejar!”; “Fique rico investindo pouco!” e “Caso você ache tudo isso complexo, lembre-se: a vida é simples, nós que a complicamos!”.
Difícil dizer que houve alguma época na humanidade que tanto tenha sido exigido das pessoas. Isso tudo é causado por uma mídia que vende o “conto de fadas para adultos”, tanto em capas de revistas que coloquem alguém conhecido e que passe a imagem acima descrita, somado a livros e mais livros sobre “sucesso total a um passo de distância!”.
Difícil culpar quem vende, sendo que tem tanta gente comprando. Entretanto, como Tocqueville parece ter dito: a sociedade-mídia vende produtos que ela mesma introduziu o desejo de obtê-los na cabeça dos seus cidadãos-compradores.
Instinto é a maneira de funcionar psiquicamente com a qual o ser humano nasceu, que seria buscar prazer e fugir da dor, da maneira mais rápida, mais intensa e com o mínimo de esforço possível. Então, seja espetacular em tudo e com pouco esforço é, na prática, a ideia com a qual nascemos e vamos comprando tudo isso com um sorriso ingênuo de quem acredita nas capas de revista de “estética-sucesso-total”, “Papai Noel para adultos”.
Os efeitos dessas fantasias têm gerado pressões, cobranças próprias e de outros, sensações de incompetência (por não conseguir ser “super”), um perfeccionismo doentio e exigências esmagadoras que, por sua vez, costumam gerar taquicardia, sensações constantes de tristeza, sudorese contínua, cansaço e dores variadas. Os vendedores de antidepressivos e calmantes agradecem, embora eles também os comprem.
Curioso como na busca da “super vida”, a “vida como ela é” e o “indivíduo com as suas limitações” soa pobre, dando impressão de que o viver é meramente regular e que sempre se é inferior ao vivente da “revista” ou ao “amigo da mídia social”.
Resumo da ópera: aceite que você pode ser excelente em até uns dois aspectos da sua vida, muito bom em uns, bom em quatro e medíocre em vários! Sei que parece ser pouco, mas não é. O que é complicado é aprendermos a saborear a vida como é e não como gostaríamos que fosse. Tornar-se sensível ao que a realidade tem a oferecer e saboreá-la tal qual como é, nisso consiste substancial parte da sabedoria de viver bem.
Sobre o Autor:
Bayard Galvão é psicólogo clínico formado pela PUC-SP, hipnoterapeuta e palestrante. Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros, criador do conceito de Hipnoterapia Educativa e Presidente do Instituto Milton H. Erickson de São Paulo. Ministra palestras, treinamentos e atendimentos individuais utilizando esses conceitos.
eMail: www.institutobayardgalvao.com.br