*Por Rafael Bueno, CEO e Founder da TeamCulture
O Burnout vem sendo um problema enfrentado em peso pelas organizações nos últimos anos em todo o mundo. Apenas no Brasil, estima-se que 20 a 25% dos profissionais sofrem da condição, segundo uma pesquisa realizada pela Gattaz Health & Results apresentada no 39º Congresso Brasileiro de Psiquiatria e liderada por Wagner Gattaz, presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq – USP).
O estudo, que contou com a resposta de 38.132 colaboradores de 25 empresas diferentes no país, também aponta que a incidência da síndrome aumentou em 18% no período entre 2015 e 2022. Vale ressaltar que, neste período, ocorreu uma pandemia mundial devido ao COVID 19.
Mesmo com a recorrência do problema, ainda existem dúvidas e dificuldades em identificar a condição, portanto, é importante esclarecer que qualquer profissional está sujeito ao Burnout, até mesmo os mais competentes. Dito isso, o próximo passo é: do que se trata o Burnout?
O quadro foi classificado pela primeira vez como síndrome em 1974, chamado de Burnout Freudenberger, levando o nome do psicanalista alemão Herbert J. Freudenberger, pioneiro na observação das alterações comportamentais causadas pelo Burnout. As observações de Freudenberger incentivaram pesquisas científicas quanto a síndrome e, anos mais tarde, a psicóloga Christina Maslach criou o MBI (Maslach Burnout Inventory), expandiu a dimensão do conceito do Burnout, que é utilizado até os dias atuais como base para estudos sobre o assunto. O método é composto pelas seguintes dimensões: Exaustão Emocional, Cinismo e Eficácia no Trabalho, utilizando uma escala para medir cada uma delas.
No ano de 1998, o Burnout foi adicionado ao CID 10, Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde), dentro do subgrupo dos “problemas relacionados com a organização de seu modo de vida”. Já em 2010, o Burnout passou a ser classificado como uma doença ocupacional em uma atualização da mesma classificação.
A definição mais atual está na CID 11, que classifica como uma síndrome resultante do estresse crônico no trabalho que não foi gerenciado com sucesso, podendo ser identificado a partir de três pontos principais: I) Sentimentos de esgotamento ou exaustão de energia; II) aumento da distância mental do trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo em relação ao trabalho; III) Sensação de ineficácia e falta de realização. Burnout refere-se especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida. Outros sintomas relacionados ao Burnout são: problemas com a condição de trabalho; problemas associados à ameaça de perda de emprego; e problemas associados ao horário de trabalho estressante.
Sendo assim, o Burnout está relacionado ao Clima Organizacional e Cultura Desfavorável, ou seja, comportamentos praticados dentro da organização afetam diretamente os colaboradores. É comum a associação com demandas de trabalho, mas nem sempre este é o caso. Segundo um levantamento realizado pela TeamCulture, HR Tech referência em gestão de pessoas, tendo como base 155 empresas, a síndrome pode ser desencadeada por 5 pilares em ordem preventiva. São eles:
- Despersonalização – relação com a equipe / líder, exclusão, falta de relacionamento e vínculos dentro da empresa, desentendimentos. É importante haver diversidade nas empresas, para que todos possam ser quem são, sem que precise “fingir” para se enturmar, e sem que sejam excluídos ou julgados por isso, evitando a despersonalização.
- Estressores de ambiente – barulhos, calor, frio, fatores externos que afetam o desempenho dos colaboradores.
- Confiança no seu próprio trabalho – ineficácia; ter confiança na função que desempenha e acreditar que traz resultados satisfatórios ao trabalho.
- Função – vínculo com o trabalho; ter realização e satisfação ao executar seu trabalho, além de desempenhar a função de forma satisfatória.
- Exaustão – é o mais conhecido, trata-se de cansaço, trabalho excessivo, desgaste físico, mental ou emocional.
As consequências destes fatores podem ir de diminuição da produtividade, dificuldade na retenção de colaboradores e, até mesmo, levar a um ambiente de trabalho ruim, que contribui para o adoecimento das pessoas que estão inseridas nele. Ou seja, existe um impacto direto nos resultados da organização.
A OMS não definiu quem seria responsabilizado pelo gerenciamento do estresse, mas para o judiciário brasileiro a resposta dependerá da natureza jurídica do vínculo que a pessoa tem com o trabalho. Relações contratuais regidas via CLT geralmente terá a empresa como responsável. Em caso de confirmação da síndrome, o profissional pode ser afastado de suas atividades por 30 a 60 dias, se necessário, podendo ser prorrogado por tempo indeterminado em caso de evolução do quadro.
Sabendo da gravidade do problema e de como o mesmo afeta os colaboradores e organizações fica o questionamento: “É possível utilizar estas informações sobre o Burnout para identificar suas causas com antecedência e, até mesmo, trabalhar para prevenir a condição?”.
Sobre o Autor:
Rafael Bueno é Bacharel em Ciências da Computação, pela UniFieo, possui MBA em Engenharia de Software orientada a serviços (SOA) e conta com mais de 19 anos de experiência no ambiente de startups de tecnologia, atuando como consultor de grandes empresas. Com forte poder analítico em gestão organizacional, Bueno é, atualmente, Co-fundador e CEO da TeamCulture, HR Tech referência em gestão de pessoas, que tem como objetivo proporcionar resultados com propósito e transformar as empresas e as pessoas para o futuro, atendendo grandes marcas do mercado como Grupo Boticário, Meta, CI&T, BGC Brasil, Sciensa, COMEIA, entre outras. Além de empreendedor, Rafael é autor do livro Construindo Empresas Digitais, onde aborda como é possível realizar a transformação digital na prática, demonstrando a mudança na estrutura das empresas, do processo cultural, comportamental e como criar fluxo de valores para o negócio.