Com a aproximação da velhice e a chegada da aposentadoria, muitos profissionais sofrem com a decisão de construir uma nova vida, reorganizar-se, e preferem seguir convivendo com a realidade conquistada, que nem sempre lhes agrada, até que a organização (o patrão) decida por eles.
O momento de pensar a aposentadoria, em situação ideal, é quando iniciamos uma carreira profissional, em planejamento de vida. Mas isso está longe da nossa realidade de orçamentos apertados que mal dão para cobrir as despesas básicas. Poucos conseguem poupar ou manter um plano de aposentadoria privada para suplementar a renda que cai bastante no momento da parada profissional.
A aposentadoria, paradoxalmente, pode representar um momento de perda, de tristeza e frustração para aqueles que não se prepararam nem financeira, nem emocional e psicologicamente. O papel do trabalho é muito significativo especialmente para os homens que se abalam com sua falta, com efeitos no ânimo para a vida e na autoestima podendo levar a doenças, alcoolismo, depressão. Por isso, algumas organizações instituíram programas de preparação à aposentadoria.
Os cálculos da Previdência achatam o valor do benefício em relação ao salário real. O cidadão chega aos 54 anos, já trabalhou 35, simula o cálculo e se surpreende, ainda mais agora com o fator previdenciário, projetado para penalizar a aposentadoria precoce, isto é, a pessoa tem que trabalhar mais 5, 6 anos para ter o valor do benefício próximo ao salário da ativa, e ainda somente até o valor-teto que beira a R$ 4 mil.
Por isso, às vezes temos que renunciar a alguns hábitos para ajustar o orçamento à nova realidade, usando a sabedoria que o tempo nos passa – para ser feliz e viver bem não precisamos de muito.
Aposentadoria tem que ser comemorada como algo bom que vem premiar uma vida de trabalho duro, muitas vezes obrigando a longos deslocamentos e a moradias temporárias longe do lar, duros embates e desafios, chefes nem sempre preparados para lidar bem com gente, etc.
Vivemos uma época de maior longevidade. Então, ainda mais importante planejar o momento da aposentadoria para viver esse tempo com qualidade em todos os sentidos. É preciso se preparar para um novo e saudável ciclo de vida, como se não fôssemos deixar este mundo, nunca.
Os municípios se aparelham para cuidar do idoso, adotam programas de saúde, esportes e lazer para uma vida saudável na terceira idade, formam-se novos ciclos de amizade em torno de um novo ideal, tempo de liberdade, hora livre para leitura, natureza, chácara, trabalho parcial se quiser, passeios, exercícios leves, caminhadas, lazer, cultura, biblioteca, Internet, dança, coral, pesca, jogos, templo religioso, esportes, e por aí vai.
Cada um adapta-se à sua maneira. Inclusive aproveitando a experiência acumulada para auxiliar entidades sociais, como voluntário. Com isso ocupa parte do tempo livre, faz novas amizades, e mantém cérebro e corpo desafiados num ritmo diferente daquele dos tempos das relações trabalhistas.
Essa visão de aposentadoria da hora certa, com a pessoa preparada, é a do “prêmio”, da alegria e recompensa por uma vida de trabalho. A outra, do “castigo” não deveria existir, especialmente nestes tempos de mais informação, equipamentos urbanos e medicamentos para mais qualidade de vida.
Portanto, aposentar-se, sim. Mas sob a visão moderna, de um novo tempo e ciclo de vida de recompensa, de prazer. Já foi o tempo que aposentar significava botar pijama e chinelos para afundar-se na casa, fixar-se nos programas televisivos de má qualidade, pensando apenas nas perdas e na proximidade do fim.
Há vida lá fora!
Sobre o autor:
Celso Gagliardo é profissional de Recursos Humanos e Comunicações, graduado em Direito e especializado em Recursos Humanos, habilitado consultor de Pequenas e Médias Empresas. Prestou serviços como técnico, executivo e consultor em várias empresas nacionais. Foi redator de jornal, e treinador. Fundador e membro de Grupos de Recursos Humanos (atual CEPRHA), e diretor da PH – Patrimônio Humano, Consultoria e Serviços.
e-mail: gagliardo.celsoluis@gmail.com
Pois é meu caro Celso, você está corretíssimo em seu artigo. A realidade de qualquer profissional no Brasil é muito triste, eis que, durante a atividade normal se mata de tanto trabalhar, às vezes até consegue juntar algum dinheiro, entretanto ao se aposentar tem problemas de saúde e a poupança realizada vai toda com gastos de medicamentos e exames e consultas médicas. Tudo no Brasil custa caro demais, com os salários e ou honorários sempre aquém de suprir as necessidades corriqueiras. Benefício(??!!) de aposentadoria é tortura chinesa. Costumo dizer que não sou aposentado, que estou na fase da vida em que recebo restituição de tudo que contribuí para a previdência por mais de 35 anos, daí continuo a trabalhar em atividades chamadas de “bicos”, para reforçar o orçamento e reforçar a mente e o corpo, até porque, parar mesmo só quando for chamado para o andar de cima. Finalizando, aqui se trabalha muito e férias e 13º salário são sempre para cobrir rombos orçamentários, pouco ou nada para se descansar e usufruir de algo material.
O tema “Aposentadoria; Prêmio ou Castigo” foi apresentado pelo Celso na SIPATMA de 4 empresas multinacionais em Americana. Com muita propriedade e fundamentos práticos, ele discorreu sobre o assunto que atormenta a todos os profissionais de cabelos brancos que vêem se aproximar a hora de pendurar as chuteiras.. O conteúdo da palestra é muito atual, motivando uma intensa reflexão sobre a qualidade de vida pós-aposentadoria.
Parabenizo o colega do CEPRHA pelo trabalho realizado e pela contribuição que nos foi dada pelos ensinamentos práticos.