Boa performance é fazer bem algo. Posto isso, uma ideia matemática sobre quanto tempo temos para “performar” na semana: uma pessoa normal precisa de pelo menos sete horas de sono por dia (fui bonzinho nessa), sobrando 17 horas no dia, x 7 = 119 horas por semana acordado.
O que a sociedade (ou a mídia) espera de você? Seja “magro-green-fitness” (entre ida e volta da academia, com banho, três vezes por semana = 4 .5 horas); torne-se um profissional com alto nível de liderança, humor, dedicação, capacidade de diálogo, com duas pós-graduações e eficiência (entre sair de casa e voltar, 11 horas x 5 = 55 horas); “não basta ser pai ou mãe, é preciso participar”, ou seja, acompanhar para a escola, ajudar nos estudos, ouvir sobre o dia dos filhos, perguntar sobre os amigos e dar banho quando necessário, brincar juntos (durante a semana, 2 horas x 5 + final de semana 2 x 4 horas, ou seja, um mínimo de 18 horas com os filhos; (fui “bonzinho” novamente); seja uma marido ou esposa presente, sexualmente interessado, dedicado a conversas sobre o dia e dificuldades do trabalho ou vontades para o futuro ( 2 horas durante a semana mais 3 horas de cada dia no final de semana = 16 horas na semana); cuide bem da casa, seja administrando a faxineira, indo ao mercado, pagando as contas, cozinhando ou preparando “sanduíches” e limpando uma ou outra coisa (meia hora por dia durante a semana e 4 horas no final de semana = 6.5 horas); seja higiênico e asseado tomando banho, indo ao banheiro, fazendo as unhas (1 hora por dia x 7 = 7 horas por semana, “bonzinho” novamente); dedique-se à família de maneira agradável, disponível, sorridente e solícito (6 horas por semana); tenha uma vida social com os amigos (4 horas por semana). Até agora: 4.5 + 55 + 18 + 16 + 6.5 + 7 + 6 + 4 = 117 horas. Opa, dormindo 7 horas por dia, 7 dias na semana, ficamos acordados 119 horas, então, sobraram 2 horas para descansar; divertir-se individualmente; resolver problemas inesperados no trabalho, em casa ou na família; lidar com dores de cabeça; pegar trânsitos inexplicáveis; ir ao teatro do filho ou filha; além de somar críticas por ter ficado pouco tempo com os filhos ou não se dedicar o suficiente a uma ou outra coisa ou pessoa.
Já deu para perceber que alta performance em estética, casamento, maternidade ou paternidade, administração da casa, vida familiar, vida social e o imponderável da vida não é viável, não é? Resumo da armadilha: não é possível alta performance em tudo na vida, e tentar isso não apenas é impossível, como também é causa de frustração, sensação de ineficiência, diminuição de autoestima, críticas, “olhares feios”, sensação de trabalho não cumprido e fracasso. Tudo isso podendo se somar e se tornar um quadro de ansiedade, com ou sem síndrome do pânico e/ou depressão.
Não acredito que tenhamos vivido uma época na história da humanidade onde é esperado que as pessoas tenham altíssima performance em tudo. Isso é desumano e só gera sofrimento.
Para 2017 e nos próximos anos, proponho que você se faça um exercício e uma pergunta: o exercício é trocar a palavra “tempo por vida”. Assim, não existe “passatempo”, mas sim “passavida”, não existe “quanto tempo vou usar por semana no trabalho?”, mas sim “quanto da minha vida usarei no trabalho?”. E a pergunta é: no que você quer usar a sua vida? Ou seja, agradando a quem? De que maneira? Fazendo o quê?
Fazer tudo bem feito é apenas possível quando temos poucas responsabilidades ou funções, como na época de infância e adolescência, aumentando ao longo dos anos. Precisamos entender e aceitar que alta performance na vida em todos os aspectos, depois dos 20 anos de idade, só ocorre em novelas e filmes. Importante sabermos lidar com as nossas mediocridades em diferentes aspectos da vida, assim como com o fato de que seremos excelente em uma ou outra coisa na vida, muito bom em poucas, bom em algumas e medíocre em várias.
Então, para 2017 e em todos os próximos anos da sua vida, desejo que você busque alta performance no que é realmente importante para você (sendo que suas prioridades podem mudar, e faz parte do viver), e no resto, no que não for prioridade, que o medíocre seja o suficiente. Assim é que se tem uma vida com alta performance!
Sobre o Autor:
Bayard Galvão é Psicólogo Clínico formado pela PUC-SP, Hipnoterapeuta e Palestrante. Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros, criador do conceito de Hipnoterapia Educativa e Presidente do Instituto Milton H. Erickson de São Paulo. Ministra palestras, treinamentos e atendimentos individuais utilizando esses conceitos.