*por Carlos Pappini Jr
A cada dia surge uma nova plataforma ou conceito de negócios estruturados na chamada ‘economia compartilhada’. Por meio de aplicativos e tecnologias que conseguem escalar sua atuação para um mundo sem fronteiras, vemos novos projetos de compartilhamento de carros, casas, eletrodomésticos e até de serviços serem lançados no mercado. Nesta nova configuração de sociedade, prevalece a valorização do acesso em detrimento à posse. Uma nova geração de consumidores, mais consciente quanto às responsabilidades socioambientais, desperta para uma comunidade mais equânime.
Neste contexto, denominado de economia colaborativa ou compartilhada, três pontos se destacam como fatores críticos para que tal modelo se viabilize, são eles:
-A redução do estoque excedente e da capacidade ociosa, que contribui para otimização dos recursos já produzidos e auxilia a sustentabilidade do sistema;
-Projetos que sejam escaláveis por meio de plataformas estruturadas tecnologicamente;
-Projetos que inspirem o engajamento da sociedade por conta do seu impacto positivo e que sejam totalmente baseados em uma relação transparente entre ofertante e demandante.
Na área da saúde algumas iniciativas começam a surgir baseadas neste conceito de economia colaborativa. Clínicas populares, cartões de desconto com uma rede de especialistas, oferta de exames e consultas e plataformas de leilão reverso que visam baratear o custo de compra de produtos, tudo isso já é realidade em nosso ambiente. Mas será que é suficiente para conseguirmos reduzir a lacuna de acesso aos recursos àqueles pacientes que mais precisam? Será que conseguiremos, de fato, incluir novos consumidores no mercado e, ao mesmo tempo, atenuar o impacto no orçamento dos gestores públicos e privados, já tão espremidos?
Dados do Ministério da Saúde demonstram que há em torno de 60 milhões de brasileiros com alguma restrição de acesso ao sistema, seja pelo desconhecimento da jornada a ser cumprida para chegar aos recursos, seja pela indisponibilidade do bem ou ainda por dificuldades financeiras. Por outro lado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima uma perda de recursos da saúde em torno de 20% a 40%, por conta do desperdício. O estudo da OMS revela, ainda, que mais de 50% de todos os medicamentos são incorretamente prescritos, dispensados ou vendidos e em torno de 10% dos que são produzidos acabam vencendo sem serem utilizados.
Essa dicotomia, de pessoas necessitadas sem acesso de um lado e, do outro, estoque excedente e desperdício elevado, gera a possibilidade de repensarmos novos modelos de consumo e oferta na saúde e que não considerem simplesmente o desenvolvimento, a incorporação e disponibilização de novas tecnologias. Um despertar para projetos que contemplem a responsabilidade econômica e social tão necessária para uma cobertura universal na saúde e de forma sustentável ao sistema é o desafio proposto para todos os players do setor. A saúde não espera!
Convido a todos para pensar na construção de um ambiente mais colaborativo e compartilhado dentro da saúde.
*Carlos Pappini Jr., CEO & Co-Fundador da ideaas Saúde (ideaasaude.com.br) empresa que tem como objetivo promover a economia colaborativa na área da saúde.