Uma equipe de trabalho possui elementos peculiares de atitude e de ação. As análises de seu desempenho, dos comportamentos de seus membros individuais ou dos resultantes do trabalho coletivo são bastante expressivas para a compreensão de sua atuação e de como deveria funcionar para tornar-se mais eficaz.
Há cinco principais elementos do trabalho em equipe. São eles:
1. Poder/Autoridade
2. Moral/Coesão
3. Normas/Padrões
4. Metas/Objetivos
5. Mudança/Desenvolvimento
6. Poder/Autoridade
Qualquer equipe tem um chefe, líder ou coordenador cuja responsabilidade é alcançar resultados por meio dos esforços de várias pessoas. Ele está investido de poder/autoridade para dirigi-los e controlá-los. Cada integrante conhece suas atribuições, deveres e responsabilidades, quer individual quer coletivamente. A interação chefes-subordinados ou líderes-liderados, e as interações destes entre si são substancialmente mais complexas e subliminares, em termos de comunicação, controle e tomada de decisão do que as descrições das rotinas e os processos de trabalho pretendem especificar.
Um dos critérios mais úteis para compreender o que se passa na equipe é buscar identificar que ações da liderança são baseadas em poder/autoridade e qual tende a ser a reação dos liderados a elas. A qualidade da interação entre líderes e liderados é crucial para a compreensão da atuação do trabalho em equipe.
- O Líder “eu – sozinho”, o estilo autoritário e disciplinador
Muitas vezes o líder se vale do poder/autoridade de forma bastante assertiva. Parte da premissa de que existe um conflito inconciliável entre os interesses dos colaboradores e os interesses de busca dos resultados do trabalho. Por ser o trabalho antinatural para a maioria das pessoas, é preciso definir bem as tarefas a serem realizadas e ajustar os executantes a elas. Assim, o líder:
a) Define e descreve a tarefa a ser executada;
b) Escolhe o colaborador certo para executá-la. Afinal, “cada macaco no seu galho”; “é preciso colocar o homem certo no lugar certo”.
c) Os colaboradores nada mais são do que instrumentos humanos para a obtenção dos resultados desejados. Claro, não devemos declarar ou deixar transparecer isso, mas são apenas recursos de que as organizações necessitam. Nada mais: “seria bem mais fácil sem eles”, são apenas “um mal necessário”.
d) Os alvos da equipe devem ser definidos pelo líder e buscados pelos liderados. Haverá sempre uma relação de ganha/perde. No caso, devem sempre prevalecer os interesses dos resultados a serem alcançados.
Nesse sentido, o líder:
a) Planeja o que deve ser feito, dirige e controla tudo direitinho para garantir que a execução obedeça ao que for planejado;
b) Compete aos liderados executar o que for planejado, que deve ser dirigido e controlado pelo líder. Ocorre a separação nítida entre planejamento e execução, entre os que decidem e os que executam.
c) É claro que o uso do estilo “eu – sozinho” muitas vezes se torna necessário no cotidiano das organizações. Amiúde obtém resultados em curto prazo. É o estilo típico para muitas situações de crise. Evidente, no entanto, a predominância de sua aplicação no ambiente cotidiano produz, o mais das vezes, repercussões bastante indesejáveis: a maior delas certamente no tributo que paga às taxas sempre menores de criatividade e de empenho no trabalho de grupo.
d) Os conflitos decorrentes do trabalho em equipe devem ser sufocados, preferencialmente suprimidos, administrados na base da submissão dos liderados à vontade do líder.
O líder estabelece claramente procedimentos e tarefas a serem seguidos pelos membros da equipe. Estabelece, ainda, algumas formas de controle para se certificar de que suas ordens estão sendo cumpridas. Supervisiona o trabalho de perto. Afinal, é preciso marcar “os noventa minutos do tempo de jogo, sob pressão, homem a homem, sem espaços para manobras ou derivações”.
Designa colaboradores para cumprir tarefas predefinidas. Este é o “segredo do bom gestor”, apregoa.
O reconhecimento do trabalho realizado deve ser levado a cada um individualmente. Assim também as ações corretivas pelo mau desempenho.
Instruções claras, repetidas e detalhadas: o que importa é cumprir, não compreender.
Vê na discordância ou divergência o primeiro sintoma da insubordinação. É absolutamente incapaz de perceber nela alguma oportunidade de crítica ao trabalho realizado no sentido de aprimorá-lo. Ao contrário, entende que o tempo de conflito deve ser mínimo porque prejudica o bom andamento do trabalho e afeta o moral da equipe, desvia os membros de equipe do foco na realização das tarefas.
Não analisa as causas dos problemas. Suprime ou sufoca a expressão dos seus colaboradores. É como se alguém tentasse curar uma crise de tosse fechando a boca de alguém com esparadrapo: a pessoa pára de tossir, mas morre de asfixia.
a) A criatividade só existe para o líder, não para seus colaboradores. Como é alta para ele, pressupõe que deva ser também alta para os demais. E assim segue na doce ilusão do que pensa ser o seu ambiente de trabalho.
b) É claro que os colaboradores aos poucos se esquivam da participação e da contribuição. Sentem que a cultura, a ambiência organizacional, o clima do trabalho coletivo, rejeita a colaboração voluntária.
Quando podem, fogem do cumprimento das normas e das regras. As contribuições latentes jamais são exploradas ou consideradas.
Desenvolve-se ao longo do tempo um clima de desconfiança mútua. O liderado tem o sentimento de estar sendo apenas usado, de ser nada mais do que um mero instrumento da vontade pessoal do líder. Inelutavelmente, caem a criatividade e o empenho; os liderados passam a realizar o mínimo de contribuição que apenas os mantenha vinculados à folha de pagamento.
A organização informal é constituída por cliques, patotas, grupinhos, “igrejinhas”; os colaboradores tendem a dirigir a sua criatividade e empenho contra a organização formal: “vamos nos unir contra eles”; é importante que sempre haja vencedores e vencidos, para que as posições fiquem bem definidas; “eu sou o certo, os outros estão errados”; “o que devemos fazer para arrebentar com esses caras”. Bem, pode não ser dito assim, de forma tão explícita, com todas as letras, mas é o mote dominante da atitude e do comportamento dos membros da equipe.
A criatividade e o empenho passam a se concentrar em como vencer o sistema ou ocasionar malefícios à organização.
As energias são canalizadas contra o outro, “o adversário”, o que não compartilha dos mesmos sentimentos ou opiniões, que passa ser visto como o competidor a ser batido.
Os colaboradores esquivam-se da participação e do diálogo, deixam de contribuir. Sentem que a cultura, o clima da equipe, rejeita a colaboração e a voz, o entendimento mútuo. Fogem do cumprimento das normas sempre que podem, até como uma forma de protesto e de não aceitação das regras a que estão submetidos.
- O Líder “eu – com – todos”, o estilo boa praça ou grupista
Também neste caso o líder acredita que haja um conflito inconciliável entre os interesses de resultados das organizações e as pessoas que as integram. O trabalho é antinatural à natureza do ser humano. Assim, vale-se do poder/autoridade para construir um clima de boas relações na equipe na pressuposição de que se as pessoas se derem bem, se as relações entre elas forem harmoniosas, se estiverem felizes no trabalho serão normalmente mais produtivas e tendentes a oferecer melhores resultados.
A contribuição e o empenho das pessoas virão naturalmente como conseqüências das boas maneiras com que são tratadas. Em suma, crêem que “vacas felizes é que dão bom leite”.
a) Tem como modelo gerencial a definição de alvos gerais em que todos tendem a concordar. Por exemplo: “precisamos aumentar a produtividade”, “o nosso objetivo é o ser humano”, “o homem é a medida de todas as coisas”.
Prefere evitar definições precisas de resultados a alcançar para não ter que cobrar contribuições específicas de seus colaboradores.
Pensa ser democrata, mas no fundo é mesmo um “abdicrata’: pratica a abdicação ou o abandono do papel gerencial, transferindo sempre à equipe a tomada de decisão e a condução dos embates.
O seu estilo decisório é “o Maria vai com outras”, no sentido de transferir sempre para a equipe a tomada de decisão.
O seu objetivo é organizar o trabalho de modo a que as pessoas se sintam bem, felizes, confortáveis.
O gerente é “o tapinha nas costas”, “o vaselina”, “o country club”, “o só o amor constrói”. Em vez de obrigar, seduz. Em vez de constranger, atrai.
Como o gerente é um “cara legal”, espera lealdade, fraternidade e daí a retribuição pela consecução dos resultados de desempenho.
A sua equipe de trabalho é muito mais um grupo social do que um grupo funcional: dão-se todos muito bem, mas não são necessariamente produtivos. E nem sempre se respeitam, se bem que normalmente se gostam e se relacionem bem.
A equipe se transforma numa “grande família”, numa “fábrica de sorrisos”, num belo grupo para tomar chopp nos fins de semana, mas não num “team” vocacionado para gols e a busca de resultados. Não compreende que as pessoas no trabalho não precisam necessariamente se gostar, mas se respeitar, não têm que ser amigas, mas colaboradores mútuos nas tarefas e atividades que realizam em conjunto.
Espera dedicação, lealdade e fraternidade de todos, e, em conseqüência, melhores desempenhos. E esses geralmente não vêm à luz de critérios de excelência e de otimização, sempre quantificáveis e avaliáveis, qualitativamente mensuráveis.
A satisfação da equipe é orientada para interesses e atividades fora do trabalho, como os aniversariantes do mês, as festas de fim de ano, o time de futebol, as festas juninas, os clubes que freqüentam ou que pelos quais torcem, a feijoada de fim de semana etc.
O empenho é social, e não funcional. E voltado para construção e manutenção de boas relações, não para a realização das tarefas.
Enquanto o estilo “eu-sozinho” é atomicista, disciplinador e autoritário, o estilo “eu- com – todos” é grupista, assembleista, centrado na interação entre todos.
Ambos os estilos têm a mesma estratégia, os mesmos conceitos, a mesma visão sobre a natureza do homem no trabalho; no entanto, as práticas de que se apropriam para obter resultados através de pessoas exteriorizam-se de formas distintas: um busca resultados pela coação e o outro pela sedução. No fundo são iguais sobre as concepções que fazem sobre a natureza humana no trabalho, apenas diferenciam-se por usarem táticas diferentes para alcançar seus propósitos.
Aparentemente antagônicos, são essencialmente iguais nos conceitos que têm de seus colaboradores, diferenciando-se na utilização de práticas e de métodos de como alcançar resultados de suas equipes, um pelo chicote e o outro pela cenoura ou pelo ossinho.
Se o trabalho é antinatural, o estilo “eu –com – todos” utiliza a tática da cenoura ou do ossinho e não do porrete. É uma forma dissimulada de descrer nas pessoas, se bem que não seja necessariamente conscientizada ou revelada. O risco é ter como integrantes de sua equipe colaboradores descontraídos, até felizes, mas pouco produtivos. Trabalha no mínimo denominador comum de resultados de desempenho. Obtém movimento, mas não a verdadeira motivação, que advém de anelos internos, da busca endógena da realização de motivos.
b) Os conflitos surgidos no cotidiano do trabalho em equipe tendem a ser minimizados, amenizados, sempre na busca da harmonia, mesmo que seja superficial. Ele pensa: “eu sou o chefe e ele meu subordinado, mas é importante que ele goste de mim e me aceite. É fundamental que haja harmonia entre nós. Pergunto-lhe o que ele deseja e procuro facilitar que o desejado se realize”. E assim ele me oferecerá melhores resultados.
É fundamental que haja harmonia entre nós, líder e liderados e, também, entre eles membros da equipe.
c) É evidente que amiúde a harmonia superficial se dê à custa de sacrifícios na qualidade e na produtividade do trabalho. Bem, acredita “às vezes é preciso perder um pouco a curto prazo para garantir resultados de longo prazo”. Claro, sem perceber corre o risco de estabelecer, de forma sistemática, uma espiral descendente de perda de busca de excelência de desempenho na cultura de sua equipe.
Se o conflito ocorre, sempre apela para o lado bom das coisas: “poderia ser pior”; se a situação é preta procura mostrar seu lado branco. Afinal, as coisas não são tudo ou nada, preto ou branco, mas possuem distintas tonalidades de cinza.
Espera que o subordinado se constranja diante de tanta compreensão e delicadeza e, em conseqüência, contribua mais e melhor. Busca uma coexistência pacifica mesmo que para isso possa desenvolver um clima de baixa franqueza e inautenticidade, aspirações criativas baixas e de pouca confrontação, descompromisso com a excelência de resultados do trabalho realizado.
Confunde participação com voto e não voz. Sempre que pode, foge do ônus psicológico da decisão. Transfere para o grupo.
As pessoas não criticam para não serem mal interpretadas ou por receio de não receberem apoio imediato aos seus pontos de vista.
Está sempre em busca de aceitação, pois teme ser rejeitado. Deixa sempre por menos a análise dos problemas, na busca de soluções de “mínimo denominador comum”, que reflitam um pouquinho de tudo e de todos, com menos atritos e fricções.
Claro que os problemas nunca entram em foco porque podem polarizar. Senão, cria uma comissão para analisar as suas causas e conseqüências. E, como sempre, adia o enfrentamento dos conflitos sensíveis para uma ocasião mais propícia.
Tal clima de trabalho tende a se transformar num ambiente de muita fofoca, “cabecinha no ombro”, choradeiras, “disse e me disse”, sempre muito mais focado nas relações sociais, na boa interação entre pessoas do que nas relações funcionais, comprometidas com a excelência dos resultados.
As aspirações dos membros da equipe tendem a ser baixas. Desenvolve-se uma ambiência de pouca confrontação e de questionamento, em que os níveis de argumentação e de negociação entre as partes têm sempre como foco a dimensão pessoal ou social, o desenvolvimento de relações humanas e não a realização do trabalho. Há sempre a preocupação de não magoar ou constranger.
Busca sempre o lado bom dos problemas, não que isso seja necessariamente mau, mas com a sua atitude centralmente desviacionista contamina a capacidade de a equipe enfrentar a crise, diagnosticar a realidade, tomar decisões preventivas ou corretivas em relação à emergência de situações adversas.
Preocupa-se muito com a sua aceitação. Detesta ser rejeitado. E assim é sempre afável, evita o conflito, é um só sorriso com todos, mesmo que essa amabilidade beire a inautenticidade e ao formalismo fabricado.
Para aos escalões hierárquicos superiores, costuma só relatar as coisas boas, positivas, minimizando, sempre que possível, os problemas e contrariedades. Afinal, não gosta de “levar más notícias”.
d) A criatividade e inovação são dimensões gerenciais que requerem inconformismo com as circunstâncias da realidade, choques de opiniões contrárias, divergências; logo, não é um valor do trabalho em equipe objetivado por um gerente “eu –com – todos”, a não ser quando dirigido aos aspectos sociais e das boas interações afetivas.
As aspirações de mudança nos processos de trabalho de forma criativa e inovadora tendem, portanto, a serem baixas ou quase inexistentes. Sempre se temem que possam ocasionar constrangimentos e mágoas nos que sejam eventualmente afetados pelas mudanças.
Quando recebe sugestões de mudanças, normalmente tende levá-las às chefias, sempre que possível isentas de avaliação de conteúdo, se bem que edulcoradas por referências elogiosas das atitudes e da contribuição de todos.
O seu processo de trabalho se funda no presente e no que os outros pensam. Não foca a centralidade de sua ação gerencial na mudança dos processos de trabalho, mas se orienta pela cópia do que os outros fazem com sucesso. Muitas vezes muda de opinião só para agradar aos interlocutores, mesmo que não esteja inteiramente convencido de suas proposições.
e) O seu empenho social é intenso, sempre centrado na construção e na manutenção de boas relações humanas no trabalho. A produtividade virá naturalmente em conseqüência dessas boas relações, é o que acredita.
Pode parecer à primeira vista que esses gerentes não sejam individualmente competentes. Ledo engano! O mais das vezes o são, e por isso se sacrificam assumindo pessoalmente tarefas e atividades de seus subordinados para não correrem o risco de magoá-los, obrigando-os a refazer o que não está bem feito. Acabam sempre como empregados de seus subordinados, “pegando o pião à unha”, levando trabalho para fins de semana, realizando-os em horários fora do expediente, cumprindo jornadas adicionais de trabalho para refazer o que foi mal executado por seus subordinados.
Tanto o gerente autoritário do tipo “eu-sozinho” quanto o maciota do “eu –com –todos”, tipo o “Papai Joel”, treinador de futebol, utilizam a mesma estratégia de condução de suas equipes de trabalho. O que variam são as táticas de que se valem para alcançar os resultados pretendidos. Ambos descrêem na capacidade do homem em relação ao trabalho: um vale-se do chicote, das ameaças, prêmios, punições e recompensas; o outro se vale da cenoura ou do ossinho, da sedução pelas boas relações entre todos para a consecução de objetivos e de resultados.
Você pode fazer um cachorrinho andar de duas maneiras, uma pela ameaça de chute no trazeiro; outra por balançar um ossinho na frente dele. Em ambas as situações você obtém movimento, mas não a verdadeira motivação. Em ambas ele, o cachorrinho, não quer andar, se movimenta porque numa situação teme a ameaça do chute e noutra porque quer pegar o ossinho.
Aparentemente distintos, são essencialmente iguais nos conceitos que têm de seus colaboradores, diferenciando-se na utilização de práticas e de métodos de como alcançar resultados de suas equipes, um pelo chicote e o outro pela cenoura ou ossinho.
- O Líder laissez-faire, estilo ausente, “zero à esquerda”, “tô nem ai”, “em cima do muro”.
Este estilo de liderança também acredita numa incompatibilidade intrínseca entre as necessidades e os interesses das organizações e os dos colaboradores. Como julga ser esta questão de solução impossível, “não adianta dar muro em ponta de faca”: está noutra, nem de um lado nem do outro. O importante é sobreviver no ambiente de trabalho, mesmo sem grande contribuição nem à organização nem aos colaboradores. É o líder ausente de corpo presente. Representa o empobrecimento gerencial, a não-liderança. É a concretização contraditória da existência do termo liderança.
É o camaleão organizacional: presente sem ser visto, um mutante de convicções, valores e de comportamentos. É o líder “deixa como está pra ver como é que fica”.
É preciso muita habilidade para sobreviver no desempenho do estilo líder ausente numa organização: neutralidade, evitar participação e comprometimento, “sair da reta”, “tirar o corpo fora”, “estar sempre a favor do vento”. É o “nunca me arrependi do que não disse”, ou “em matéria de principalmente não há como não resta a menor dúvida”. “Nunca me arrependi do que não disse”, “boca fechada não entra mosca”, são as expressões-síntese de seu comportamento. E nada diz e nada faz, mas aparenta estar sempre atento a tudo e a todos.
É muito comum encontrar esse tipo de liderança nas funções rotineiras e repetitivas, de assessoria e no serviço público, que normalmente são mais lenientes com a omissão e a indiferença, a apatia e o desinteresse.
É um estilo não natural. Provem da aceitação da derrota, da submissão à inevitabilidade das circunstâncias da realidade, da inexorabilidade da subordinação do indivíduo à situação e ao status quo.
Acredita que a função do líder seja apenas colocar os colaboradores nos cargos e deixá-los em paz no desempenho do que devam realizar. Cada um que faça o que lhe compete, como quiser e no ritmo em que desejar. E que lhe levem o mínimo de problemas para resolver. Cada um que cuide de si.
É um tipo de líder que mantém, mas não preenche o seu cargo.
Cumpre as normas, apenas. Nada mais do que isso. Faz, no máximo, o que determina a descrição dos manuais e dos seus processos de trabalho.
Realiza o mínimo de esforço para manter-se na folha de pagamento, ficar no seu cargo à espera de circunstâncias melhores, da aposentadoria, de uma promoção ou transferência.
Costuma atribuir tarefas amplas e pouco definidas a seus subordinados. Não se preocupa com o cumprimento de metas, o estabelecimento de programações ou de objetivos a serem alcançados. Não faz interpretações, críticas ou elogios às mensagens ou decisões que recebe dos escalões hierárquicos superiores; apenas os transmite. Assume o papel de mero interlocutor ou de mensageiro neutro das orientações superiores aos subalternos. É apenas um pino de ligação ou o pivô isento entre uns e outros. Faz no máximo o que o seu cargo exige, nos limites de menor esforço e de contribuição para justificar-se como gerente. Evita resolver quaisquer problemas “in loco” para não se expor diante dos circunstantes.
a) Diante do conflito inevitável, finge que o ignora, trata-o como se não existisse. Procura não tomar conhecimento do que ocorre, como se a situação adversa não estivesse ocorrendo. É o clássico “isso não é comigo”.
Ao participar de uma reunião, aparenta prestar atenção a todos, deixa que os participativos discutam e se beneficia ficando calando e dando a impressão de que concorda com cada um dos interlocutores que se pronunciam.
Se alguém pergunta o que acha do tema em discussão, não titubeia: “precisamos de maiores dados e informações para avaliar melhor o que ocorre e assim propor uma boa solução”; “vamos formar uma comissão ou grupo de trabalho para estudar melhor o assunto”; ou repete em detalhes tudo o que os outros já disseram, mas nada agrega de contribuição. Mascara ou disfarça sob o manto protetor da intelectualidade o seu descompromisso com a realização das tarefas e obtenção de resultados.
Mantém a alienação, a neutralidade e a eqüidistância de todas as questões, evitando sempre se expor e declarar os seus reais pontos de vista.
Aparenta sempre estar ocupado; espalha materiais, papéis e documentos sobre a mesa; reclama permanentemente de andar cheio de coisas a fazer, mas nada faz. Posa de herói-sofredor, aquele que está sempre se sacrificando a serviço da organização e do trabalho, mesmo que à custa do sacrifício de seus interesses pessoais e familiares. O pior é que o mais das vezes ele realmente assim se sente, já que o empobrecimento gerencial do laissez-faire o faz desistir de participar e de contribuir, mas se compensa psicologicamente com o auto-engano e a auto-ilusão. É o nada organizacional, que se assume para si próprio e para os outros como o gerente super-herói, muitas vezes em fachada de “faz tudo”, o executivo que se apresenta como superativo.
Numa reunião de 10 participantes, jamais é o primeiro ou o último a chegar para não chamar muito a atenção. Procura ser o quarto, quinto ou sexto, quando é sempre visto, mas não é notado. Se for o primeiro, o segundo pode querer conversar com ele sobre o tema da reunião. Se for o último, pode dar a impressão de desinteressado ou de ser relapso.
Diante dos problemas sempre julga melhor deixar que o tempo os resolva. É adepto da frase: “o tempo é o senhor da razão”. E assim deixa para incumbência do tempo a resolução de quaisquer problemas, o que pensa ser mais seguro, pois o preserva de se expor diante de colegas, superiores e subordinados.
Se alguém questiona o seu trabalho, leva ao conhecimento da sua chefia para que esta ]lhe diga o que e como fazer; agindo assim julga que se legitima para continuar se comportando da mesma maneira.
Está sempre atento para saber o que o chefe deseja que seja feito e assim atendê-lo. É preciso sempre saber “para que lado o vento está soprando”. Quando pode, transfere a responsabilidade de execução para outrem.
É o “em cima do muro”. Jamais quer bater o pênalti, mas cumprimenta muito o autor do gol.
É um Zé ativo, presente sem ser visto.
“Quanto menos vir o chefe melhor”, porque ele pode lhe perguntar sobre resultados ou definir novas tarefas.
Tem grande habilidade em ouvir, parecer interessado, mas não opina. “Nunca me arrependi do que não disse”, “boca fechada não entra mosca”, “a palavra é de prata e o silêncio é de ouro”, costumam ser os provérbios de sua preferência.
Quem busca o seu apoio, pensa que o tem. Não que o declare explicitamente, o que sempre evita fazer, mas por gestos, expressões faciais, postura, tonalidade de voz e por meias-palavras que deixam nos interlocutores a impressão de uma assertividade que efetivamente não existe.
b) E evidente que a criatividade e a inovação do líder laissez-faire são centralmente orientadas para a autopreservação e a sobrevivência.
Muitos costumam ser bastante criativos e respeitados fora do trabalho, nas atividades que mantêm na comunidade e na sociedade em geral, o que lhes granjeia prestígio também na organização.
No trabalho prefere sempre enterrar as contribuições e sugestões de mudanças de seus colaboradores. “Pra que mudar, mudar pra que?”, costuma ser a forma como trata as possibilidades de mexer com o cotidiano. É um adorador da inércia: “deixa estar pra ver como e´que fica”.
Não há curto-circuito que o faça sair da complacência e da omissão. Se a mudança for inevitável, transfere a liderança do processo para outro, um colega, chefe ou subordinado um pouco mais comprometido e afoito que naturalmente o livra da responsabilidade de que tanto foge.
A criatividade da equipe de trabalho cuja liderança exerça o estilo laissez-faire tende a ser muito baixa, sem entusiasmo e comprometimento.
Pouco a pouco a cultura da equipe também passa a adoecer com o vírus do “isso não é comigo” inoculado pelo comportamento sistemático de desapreço e de descaso de sua liderança no exercício da dimensão de poder/autoridade.
- O líder “um –com – um”, o estilo dividir as diferenças, “nem tanto ao mar nem tanto à terra”.
Este líder “um – com –um” também acredita na existência de um conflito inconciliável entre os interesses da organização, sempre em busca de melhores resultados, e os interesses e as necessidades das pessoas que a integram, sempre em busca de realização de seus motivos pessoais.
Possui uma visão estática do desafio gerencial na gestão de sua equipe de trabalho: “é preciso acomodar a permanente busca de realização dos resultados organizacionais e simultaneamente manter a cordialidade e a moral do pessoal em nível satisfatório”. É preciso alcançar o meio-termo, o meio da estrada entre uns e outros.
Certamente é o mais comum estilo gerencial encontrado na maioria das organizações.
O gerente da equipe é o homem organizacional, sempre modulado pelo status-quo e o establishment, pelas práticas passadas, pelas tradições e precedentes. Toma as decisões com base no que sempre foi feito, nas normas, nos manuais e nas rotinas de sempre. As acomodações devem ser feitas com base em soluções viáveis, factíveis, mesmo que não sejam necessariamente as melhores, mas as que se julgam possíveis.
“Vamos evitar os extremos”, “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”, costuma dizer aos seus interlocutores. “É preciso perder algo para se ganhar alguma coisa, e assim avançar”.
“Devagar com o andor que o santo é de barro”, “devagar se vai ao longe”, “o mundo não se fez em um dia”, ‘nem tanto ao céu nem tanto à terra”, são expressões-síntese que bem explicam a linha de conduta de quem usa o poder/autoridade para dividir as diferenças, acomodar interesses, buscar o meio-termo e centrar-se na conciliação, nas bases de argumentação e de negociação.
Planeja, dirige e controla programas e pessoas, mas acredita ser necessário permitir certa participação dos colaboradores. Pelo menos, sob o ponto de vista formal.
Quando se defronta com um conflito em sua equipe, prefere sempre dividir a diferença, conciliar e acomodar os interesses divergentes entre os gregos e os troianos. “É preciso ceder para uns e para outros para ganhar de ambos”.
Como se apega às normas, tradições e hábitos da organização, em casos de impasse não titubeia: decide pela maioria.
Essa preferência fervorosa pela contemporização o dirige para a posição intermediária, sob a ilusão de estar ganhando, quando, o mais das vezes, pode representar uma relação perde/perde, em que cada parte divergente cede um pouquinho, e a equipe nem sempre ganha. E assim todos perdem na ilusão de que ganham.
a) Um clima construído com base na tradição, no que sempre foi feito, redunda num processo de inovação e criatividade da equipe centrado na cópia e na adaptação, naquilo que já funciona e que apenas precisa melhorar um pouquinho. Procura manter o equilíbrio entre o status-quo do cotidiano e a necessidade de mudança diante das evidências das circunstâncias.
b) O empenho e a dedicação da equipe ao trabalho são absolutamente moderados. Espera-se de cada um a dedicação de um dia inteiro de trabalho, nada mais do que isso como previsto na jornada diária. Centrado na aceitabilidade de resultados de desempenho, acredita que “antiguidade é posto”, que a experiência é sempre importante para garantir respostas um pouco acima da média. É basicamente um incrementalista na busca de resultados, “fazer um pouquinho melhor o que já é bem feito”. É um incrementalista.
Nos processos de avaliação de resultados de desempenho sempre busca enfocar os aspectos positivos e negativos, para logo em seguida voltar à analise dos positivos, e assim conciliar uns e outros.
- O líder “todos –com –todos”, estilo dinâmico, com variáveis soluções diferenciadas dentro de um mesmo processo.
Este líder “todos –com – todos” também acredita que as discrepâncias entre os interesses dos colaboradores e as necessidades de resultados das organizações são inevitáveis e inerentes à dinâmica do cotidiano das relações de trabalho. No entanto, para ele, existem possibilidades de soluções convergentes, encontradas através de um melhor estilo de liderança, que tornem essas discrepâncias solucionáveis ou administráveis mediante confrontação. Em especial, busca e compreensão de suas causas e conseqüências e estabelece uma cultura de permanente crítica e avaliação das circunstâncias que as engendram.
Aposta na autodireção e no autocontrole, ou seja, acredita que as pessoas podem se autodirigir e se autocontrolar no trabalho, se adequadamente motivadas. O desafio é, então, como motivar adequadamente os colaboradores? Entende que a busca permanente de satisfação das necessidades humanas preside os comportamentos de quaisquer colaboradores, quer como indivíduos isoladamente quer como membros de equipes de trabalho, atuando num coletivo.
Como encontrar a verdadeira participação genuína de todos, em que cada colaborador queira emprestar o máximo de contribuição aos resultados da equipe, sem que tenha que sufocar a realização de suas próprias necessidades humanas individuais? Como estabelecer processos de gestão em que a realização dos interesses das organizações se façam com e através a realização dos interesses e necessidades das pessoas que as compõem? Como fazer para que esses interesses e necessidades possam se realizar uns através dos outros, se bem que sejam absolutamente distintos, mas perfeitamente compatibilizáveis dependendo das teorias e práticas que sustentem a gestão de processos do trabalho em equipe.O desafio se constitui em realizar uns por meio dos outros.
Parte do pressuposto de que existe um melhor processo de liderança de uma equipe, em contextos de trabalho constituídos simultaneamente pelo próprio líder, pelos liderados e pela situação, em que a adoção de soluções e práticas das questões emergentes vai variar em função das circunstâncias de cada caso. Mas a busca dessas soluções sempre se fará por meio de um melhor processo ou estilo de liderança.
O que contam são os fatos, e não as personalidades, emoções, dogmas ou estereótipos, que florescem em decorrência das confrontações de suas bases de racionalidade. Só emite julgamentos em função de dados e informações efetivamente checáveis.
a) Administra os conflitos na base da confrontação, tratados à mesa de negociação. Estimula uma intensa confrontação de idéias no seio de sua equipe de trabalho. Localiza suas causas e conseqüências; examina-as com o foco de busca de soluções de máximo denominador comum, que compatibilize a maior satisfação de todas as partes envolvidas e que derive da implementação de soluções preferencialmente obtidas por consenso e de negociação, de conciliação, de comprometimento e de envolvimento de todos.
Não impõe decisões de maioria. É preciso que todos compreendam as razões de uns e de outros, garantindo assim ampla possibilidade à minoria de expor seus pontos de vista de forma livre e espontaneamente, mesmo que não os consiga fazer prevalecer. Não permite também que a maioria imponha seus posicionamentos; é preciso que tente convencer a minoria de suas razões e justificativas. Uma vez tomada a decisão, esta passa a ser de todos, sem vencidos ou vencedores, já que emergida e efetivada pela participação e pela contribuição de todos. Acredita que quando se tem voz e se manifesta opinião se tem compromisso, se promove a aceitabilidade por legitimação das soluções obtidas em decisão de equipe.
Tenta sempre integrar as metas e objetivos individuais e organizacionais por intermédio da participação genuína, da contribuição efetiva e da ampla colaboração de todos que possam efetivamente ter algo a agregar. Não é a participação pela participação, pseudo democrática de forma assembleísta de todos, mas apenas daqueles que têm objetivamente o que contribuir.
A confrontação se faz para vencer os desafios de trabalho e os problemas e obstáculos surgidos, não para vencer pessoas e seus pontos de vista e de entendimento das questões. Busca assim a resolução das dificuldades a partir da apreensão dos fatos e circunstâncias, no respeito e atenção à diversidade das opiniões, sempre objetivamente avaliadas e consideradas.
Claro, entende e respeita, procura examinar e avaliar as emoções e dúvidas, atores participantes e protagonistas de grande parte dos conflitos que emergem nos cotidianos das organizações.
b) O desempenho deste estilo “todos –com – todos” na liderança da equipe de trabalho possibilita um clima de criatividade voltada à inovação, com baixa resistência à mudança. Não é a mudança pela mudança, mas a equipe não se contenta em ser apenas bem administrada e alcançar bons resultados. Sabe que tudo que funciona é obsoleto, que sempre poderá ser feito de forma melhor. Entende que toda situação de liderança é transitória e perecível, “que a nata do leite que está em cima é a que primeira azeda”. O sucesso da equipe não depende do que foi feito ontem, mas do que está sendo feito agora.
O clima de interação criativa decorre da liberdade de tentar inovar. Tem consciência de que são necessárias inúmeras idéias para que apenas uma se transforme em bons resultados, em produtos ou atividades rentáveis. As novas idéias são realmente aplicadas, e só abandonadas quando se mostrem efetivamente inviáveis.
c) O empenho dos colaboradores é focado na busca da auto-realização no trabalho e na excelência dos resultados a serem alcançados.
É evidente que a implementação deste estilo de liderança não é fácil, exige muita serenidade e capacidade de exposição do líder, de criticar e ser criticado construtivamente, de dar e receber feedback, de absorver avaliações injustas ou precipitadas, fazer delas motes para desenvolvimento de sua equipe, de fazer da experiência de trabalho de cada um e de todos a base do processo de educação do próprio líder e dos colaboradores como pessoas e profissionais, quer como indivíduos isolados quer como membros de equipes e de interrequipes que atuam coletivamente.
É preciso fazer o conflito, a divergência e a dissonância aflorarem para obter melhores resultados, higienizar o ambiente de trabalho, fecundar o compromisso por resultados, promover a mudança.
O líder trata cada situação diferente diferenciadamente, sabe que nada mais desigual do que tratar os desiguais igualmente, que é sempre preciso buscar soluções próprias para distintos problemas, que a qualidade dos resultados que obtiver são conseqüências do processo de liderança de que se vale para adotar soluções que julga adequadas ou mais pertinentes a cada circunstância.
Utiliza todos os usos da hierarquia na relação poder/autoridade com os seus colaboradores. Não tem preferência por quaisquer uns deles.
Sempre se pergunta na seleção do uso da hierarquia a adotar:
Há tempo?
De quem é o problema?
Quem pode contribuir?
Não acredita que alguém possa preferir ser gerenciado pelo estilo “eu – sozinho”, a não ser em situações exceptualíssimas. E mesmo assim ainda se pergunta: em que circunstâncias? Em situações de crise? Que tipo de crise? Bem, afirma, “felizmente as organizações não vivem cotidianamente em crises dramáticas, nem sempre o prédio pega fogo, o avião sofre pane, o navio está prestes a afundar, o hacker invade mortalmente os sistemas operacionais”.
Sabe que cada situação tende a ser interpretada diferentemente por diferentes pessoas. Assim, evita a falácia da leitura de que determinada situação pede o uso “eu – sozinho” da hierarquia quando o mais das vezes é o próprio gerente que está projetando as suas necessidades em cima das necessidades da equipe e das circunstâncias envolvidas.
Preocupa-se em manter uma produtividade crescente no desempenho de sua equipe, mesmo que saiba que resultados de produção máxima possam ser obtidos mais facilmente em curto prazo com a adoção de estilos mais impositivos de liderança.
Como pode se constatar, não são simples as distintas facetas do poder/autoridade como um elemento essencial do trabalho em equipe.
Na segunda parte deste artigo, veremos os quatro demais elementos essenciais do trabalho em equipe: moral/coesão, normas/padrões, metas/objetivos e mudança/desenvolvimento.
Sobre o autor:
Adm. Wagner Siqueira: Atual Presidente do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro e Membro da Academia Brasileira de Ciências da Administração. Foi Secretário de Administração, Presidente do Riocentro e Secretário de Assistência Social da Prefeitura do Rio. Consultor de organizações e autor de livros e diversos artigos sobre as ciências da Administração.
site: www.wagnersiqueira.com.br
e-mail: wagners@attglobal.net