Uma realidade atualmente verdadeira, é que hoje o curso de Direito é o que diploma mais alunos, de tal forma que o mercado não possui capacidade para absorvê-los.
Este fato, por si só, já deveria fazer os “novos entrantes” (vulgo estagiários) buscarem rapidamente seu espaço na concorrida vida empresarial. Correto?
Nada deveria ser mais interessante para um jovem recém formado, cheio de sonhos, ambições e muita disposição, do que deparar-se com portas abertas no mercado de trabalho. Correto?
A resposta para as duas perguntas acima é negativa.
Essa não parece ser a realidade dos estudantes de Direito.
Infelizmente, o jovem universitário não tem uma visão de longo prazo; pois se tivesse, ingressaria em estágios disposto a assimilar e agregar conhecimentos práticos ao seu currículo e, ainda, vislumbrando a possibilidade, futura, de tornar-se um associado ou, quem sabe, sócio do escritório de advocacia em que trabalha.
Mas contratar um estagiário de Direito não tem sido tarefa fácil aos escritórios jurídicos. Grande parte dos graduandos em Direito tem como meta os concursos públicos, visando estabilidade profissional e financeira. Ou seja, prefere-se tentar ser um juiz imediatamente do que aprender a ser um juiz. Pensar alto é uma coisa, pular etapas de crescimento profissional é outra.
Mas vamos analisar um pouco as circunstâncias, considerando dois importantes pontos.
Primeiramente, para ser inscrito em concurso público, deverá ser aprovado no exame da OAB; onde, em cada dez inscritos, apenas dois são aprovados. Segundo, o serviço público não premia o mérito individual e sim coletivo; portanto, aumentos salariais não contemplam os méritos de cada um, mas de uma categoria, ficando ainda submetidos à aprovação orçamentária.
Nesse campo distorcido de trabalho, surge a figura que chamo de Estagiário Elite. Ele segue alguns parâmetros irreais de conduta, tais como:
Não se submetem às tarefas requeridas nos estágios, considerando-as desprezíveis e muito abaixo do potencial que acreditam ter, como por exemplo: ir ao fórum para levantamento de processos, enfrentar filas bancárias para recolhimento de custas processuais, tirar cópias de processos, entre outras.
Outros tantos, especialmente os advindos de instituições de primeira linha, buscam estagiar em grandes bancas de advogados, por mero status, rejeitando propostas de pequenos e médios escritórios.
Consideram-se bem preparados para redigir peças e não se dispõem ao grande aprendizado oferecido pelos escritórios por meio de estágios.
Reivindicam altíssimas bolsas-auxílio, pois consideram os valores propostos muito aquém de suas capacidades intelectuais e não aceitam ganhar o equivalente a um auxiliar administrativo; inviabilizando aos escritórios, suas contratações.
Durante o período do estágio, o jovem precisa ter em mente que não vai mudar a estratégia da empresa, não vai ser chamado a opinar sobre métodos e processos, ele vai conquistar, ou não, a confiança e o respeito dos futuros chefes e colegas.
A alta rotatividade desses estudantes tem prejudicado a eficiência dos escritórios jurídicos, muitos dos quais têm optado em contratar advogados formados, pois a relação custo-benefício tem sido favorável.
Em resumo, a importância do estagiário não está naquilo que ele acha que pode demonstrar, está nas pequenas virtudes que ele, de fato, demonstra como a humildade para aprender e a paciência para esperar.
O Estagiário Elite com certeza será o futuro Advogado Inexperiente.
Sobre a autora:
Débora Pappalardo, é sócia da Inrise Consultoria em Marketing Jurídico, graduada em Administração de Empresas e Pós-Graduada em Gestão Financeira, atuando no recrutamento e seleção de profissionais, bem como, no estudo de reestruturação organizacional de escritórios jurídicos.
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