No país, 7 em cada 10 mulheres são mães; com o trabalho de cuidado, elas são as mais prejudicadas na trajetória profissional
No Brasil, 7 em cada 10 mulheres são mães, de acordo com levantamento recente do Datafolha – a maioria é solteira, viúva ou divorciada, representando 55%. No mundo todo, elas são as principais responsáveis pelo cuidado, encarregadas das tarefas ligadas à casa e à família. Segundo pesquisa da Todas Group, 84% das mães se preocupam mais com seus filhos durante o período de férias escolares, impactando diretamente na sobrecarga do trabalho de cuidado e, consequentemente, na carreira.
O esforço para tentar equilibrar o trabalho dentro e fora de casa, principalmente para as mães, acaba gerando um excesso ainda maior de responsabilidades, o que, cada vez mais, pode adoecer as mulheres. Foi exatamente o que mostrou o Lab Esgotadas, realizado em 2023 pela ONG Think Olga – segundo o estudo, 86% das brasileiras consideram ter muita carga de responsabilidades. Entre as razões do adoecimento e insatisfação, 22% falam sobre o trabalho doméstico. Conforme pesquisa da FGV, com dados da Pnad Contínua, o número de domicílios chefiados por mães solo cresceu 17,8% na última década, passando de 9,6 milhões para 11,3 milhões.
“Durante o período de férias escolares, com os filhos em casa, a dinâmica muda completamente a rotina das mulheres, que, muitas vezes, além da falta de rede de apoio, são mães solo ou não que possuem divisão adequada do trabalho de cuidado. É nessa dupla jornada de trabalho, potencializada pela falta de apoio da escola, que a sobrecarga da maternidade pode impactar diretamente a trajetória profissional, especialmente em empresas e ambientes menos flexíveis”, explica Nana, diretora da Think Eva, referência em equidade e gênero no mercado corporativo.
A dupla ou tripla jornada de trabalho das mulheres durante as férias escolares dos filhos só evidencia ainda mais a desigualdade de gênero no mercado de trabalho, pois, em muitas famílias, a responsabilidade do cuidado recai desproporcionalmente sobre as mães – o que acaba prejudicando oportunidades de crescimento profissional. Segundo estudos da Claudia Goldin, vencedora do prêmio Nobel de Economia de 2023, a diferença salarial por gênero é menor no início das carreiras, mas isso muda quando as mulheres se tornam mães – pois, o mercado de trabalho tende a recompensar melhor os trabalhadores mais disponíveis às jornadas longas e inflexíveis. A falta de políticas de apoio, rotinas mais adaptáveis, creches na empresa ou programas de suporte infantil agrava ainda mais a situação.
Nana Lima reforça que a flexibilidade é a chave para apoiar mães que também trabalham fora de casa ou em home office sem horários alternativos. “As rotinas de trabalho remoto ou em modelo híbrido ampliam oportunidades para as mulheres, que são as principais responsáveis pelas demandas da maternidade. Para elas, este modelo de trabalho pode ser mais produtivo e motivado, mas precisa ser desenhado de forma sustentável. Não adianta ser flexível no horário, mas demandar disponibilidade o dia inteiro e todos os dias da semana, por exemplo”, explica.
O relatório “Women in Workplace 2022”, realizado pela McKinsey, mostra que, devido à falta de uma rotina mais flexível no trabalho, 49% das mulheres deixariam seus empregos. O dado reforça que este tipo de jornada é fundamental para manter mulheres e responsáveis pelo cuidado no mercado de trabalho. “Existem maneiras de adequar o trabalho e, nesses casos, esta jornada é fundamental. Além de apoio e acolhimento, as empresas podem oferecer a possibilidade de trabalho por projetos ou metas, ao invés da carga horária tradicional já conhecida. Isso pode ser realizado dentro da realidade de cada empresa e tipo de função”, afirma Nana.