Já há algum tempo tenho ouvido alguns especialistas da área farmacêutica afirmarem que a profissão de Propagandista está em extinção.
Sabem o que penso a respeito disso? Que é tão verdadeiro quanto o fim do mundo em 2012. Ou quanto o terremoto que deveria ter ocorrido em Roma no dia 12 de maio passado… Ou seja, puro achismo, a arte de achar que. Com licença dos leitores, com a liberdade de quem não é especialista, vou me permitir também achar que.
Acho que certas atividades jamais poderão dispensar a presença do ser humano – e as do Propagandista é um perfeito exemplo disso. Simples assim. Os visionários que prevêem o fim da carreira do Representante afirmam que ele será substituído por notebooks, IPads, Iphones, Tablets e outras maquininhas geniais. Pode? Não pode.
Sou autor de um livro chamado “E por que não?” e ministro um “workshop” com esse mesmo nome, com o objetivo de desenvolver o pensamento criativo dos participantes, levando-os a acreditar que toda idéia é viável. Portanto, eu deveria ser a última pessoa do mundo a duvidar de qualquer sugestão, por mais absurda que pareça à primeira vista. Mas, convenhamos, tudo tem um limite. Quem lida com criatividade sabe que o “brainstorming” – a conhecida técnica de provocar “tempestades de idéias” – numa primeira etapa lida com o “impossível”, o “absurdo”, sem repressões, para numa etapa posterior usar o crivo da viabilidade, da possibilidade, da conveniência – enfim, da racionalidade.
Querem um exemplo? E por que não substituir o psicoterapeuta por um robô? Eis uma idéia sem nenhuma chance de aprovação, por motivos óbvios.
Na minha modesta opinião, o Propagandista está nesse mesmo barco. Não estou comparando sua profissão à do psicólogo ou do psiquiatra. Estou me referindo à importância da sua presença física na dinâmica do processo de apresentação dos produtos farmacêuticos ao médico.
O princípio da “venda” começa com a presença, a atitude, o carisma, a simpatia, a expressividade do Representante. A empatia, a afinidade e a fluidez da comunicação entre médico e Propagandista começam com a força da presença deste. No breve diálogo entre esses dois profissionais, não ocorre apenas uma simples transmissão de informações e dados – isso, sim, poderia ser passado até por um atraente folheto. Trata-se de uma troca em que são esclarecidas dúvidas (impossíveis de serem previamente conhecidas) são respondidos questionamentos (idem), são feitas comparações (lembradas na hora), são dados exemplos para reforçar a informação, tudo isso com a ajuda da percepção e da intuição (que nenhuma máquina do mundo possui) e, principalmente, da parte mais importante, aquela que estabelece definitivamente a importância da presença do Propagandista.
Refiro-me ao seu contagiante calor humano, seu permanente sorriso e bom humor, sua inesgotável paciência, que se manifesta desde a longa espera para ser atendido até a compreensão diante da costumeira pressa do médico. Por essas e outras razões, não acho consistência na idéia de substituir esse profissional por uma máquina, por mais perfeita que seja. Acho que o Propagandista é eterno.
Para concluir, permitam-me um último achismo: acho que, ao invés de certos especialistas ficarem prevendo o fim dessa profissão, que reflitam e coloquem em prática idéias sobre como melhorar suas condições de trabalho e vida.
Porque, para quem conhece as árduas condições sob as quais a maioria desses valentes profissionais trabalha, sabe perfeitamente que muita coisa pode ser melhorada.
Simples assim.
Sobre o autor:
Floriano Serra é psicólogo, consultor, palestrante e facilitador de seminários comportamentais. É diretor-executivo da SOMMA4 Gestão de Pessoas, autor de vários livros e inúmeros artigos sobre o comportamento humano. Ex-diretor de RH de empresas nacionais e multinacionais.
e-mail: florianoserra@terra.com.br