“O sentido subjetivo está na base da subversão de qualquer ordem que se queira impor ao sujeito ou à sociedade…”
(Fernando González Rey)
Muito se escreve e já se escreveu sobre o que distingue um bom gestor de pessoas neste novo milênio.
Este profissional, segundo diversos autores, deve investir na própria carreira, tem que ter franca habilidade no manuseio e na administração de pessoas com vistas a trabalhar em equipe, ser flexível, idôneo, ter confiança, autocontrole, bom humor, empenho, etc.
Estas exigências, a bem da verdade, não são só dirigidas aos profissionais de RH, muito pelo contrário, são demandas feitas a todos os profissionais que pretendam ter uma carreira sólida e pouco sujeita a contratempos.
A competitividade trouxe vários desafios para todos os profissionais de uma maneira geral. Porém, para o profissional de RH cabem alguns desafios um tanto diferenciados e específicos que devem ser ressaltados:
- Assegurar um ambiente de trabalho seguro e motivador;
- Investir em educação e gestão do conhecimento;
- Conseguir trazer para a organização os profissionais mais talentosos, bem como retê-los;
- Administrar uma estrutura de benefícios compatível com a realidade da organização e/ou do mercado que opera;
- Cuidar da cultura organizacional, da ética, dos valores, do endomarketing, etc.
Se você acha isto muito, quero colocar um outro ingrediente que deve ser levado em consideração e ser motivo de atenção redobrada: A subjetividade.
Segundo Faye (1991) citado por Davel e Vergara (2001), subjetividade é o que permanece subjacente no ser humano. É o que está em seu interior. É a singularidade e a espontaneidade do eu. Portanto é tudo que constitui a individualidade humana.
Assim, o subjetivo é o espaço do trabalhador enquanto experiência humana, bem como é o espaço do simbólico e da cultura. Estes processos simbólicos são impossíveis de serem compreendidos por processos padronizados e/ou objetivos. (Rey, 2005)
Ainda, segundo Davel e Vergara (2001), a subjetividade é expressa pelo trabalhador através de seus pensamentos, condutas, emoções e ações no ambiente empresarial e, os gestores de uma maneira geral, negligenciam as questões subjetivas, bem como dão maior ênfase a questões objetivas na gestão de pessoas.
Do lado oposto à subjetividade, portanto, encontramos a objetividade que é uma tentativa de encontrar formas de administrar o capital humano das empresas visando à maximização dos benefícios econômicos através de uma tentativa de alinhar a performance dos empregados com os objetivos da organização. (Davel e Vergara, 2001).
Assim, no início da chamada Administração de RH (ARH), supunha-se poder influenciar o comportamento dos trabalhadores com vistas a otimizar o funcionamento eficaz e eficiente da firma, através de uma padronização de posturas e comportamentos.
A história moderna da área de RH confirma essas tentativas, na medida em que desenvolveram técnicas e métodos com este fim, tais como:
- Descrição de cargos e salários;
- Gestão participativa por objetivos;
- Avaliação de desempenho;
- Estrutura de cargos e salários;
- Etc.
Estas ações são via de regra, com o objetivo de fornecer às empresas (e aos trabalhadores) maior estabilidade e aumentar a produtividade.
Para finalizar, nós gestores temos que ter a consciência que gerir pessoas não é só “cuidar” de técnicas, métodos e instrumentos racionais de trabalho e de controle. Gerir pessoas é entender que o homem é um ser dotado de desejos, pulsão, expectativas, tem alma e se comunica por meio de palavras e comportamentos.
Gerir pessoas é entender que o homem é dotado de vida interior e experiências através de sua vida social, religiosa e psíquica, entre outras, bem como é o resultado de “marcas” singulares em sua formação criando crenças e valores compartilhados na dimensão cultural que vão construir a experiência histórica coletiva dos grupos organizacionais.
Referências:
DAVEL, Eduardo e VERGARA, Sylvia. (Organizadores) Gestão com Pessoas e Subjetividade. Editora Atlas. São Paulo, 2001.
REY, Fernando G. Pesquisa Qualitativa e Subjetividade: Os processos de construção da informação. Editora Thomson. São Paulo, 2005.
Sobre o autor:
Angelo Peres é Mestre em Economia, Pós-graduado em Recursos Humanos, Marketing e Gestão Estratégica, Professor universitário, Palestrante e instrutor em programas de treinamento; Sócio-Gerente da P&P Consultores Associados.
e-mail: ppconsul@unisys.com.br
Li o seu artigo e fiquei contente de saber que tem pessoas que pensam assim. Hoje o RH está dando a impressão que é algo muito mecânico, somente a base de técnicas.
Hoje em uma entrevista você vai que nem um robô, não consegue ser você mesmo, sendo que ser você mesmo poderá mostrar ao entrevistador seu real talento, suas competências e habilidades.
Então concordo plenamente com as suas duas últimas frases, que fecharam de forma excelente o artigo. Estou cursando Tecnólogo em Gestão de RH, atuo em departamento pessoal a muitos anos, claro que atuando em DP estamos sempre fazendo o RH, principalmente eu por adorar o RH. Parabéns! Abraços.