Em épocas difíceis achar um bom emprego é uma missão complexa. Para quem está empregado é mais fácil, porque você tem um grau de empregabilidade, seu passe tem valor, você pode e deve negociar bem uma eventual mudança pois tem o poder de decidir. A não ser que você esteja mesmo muito interessado em deixar a empresa, aí vale a equação “meia dúzia por seis”. É o caso daqueles que ganham bem, mas a vida profissional é um inferno, tem o pessoal que “puxa tapete”, tem o chefe cruz-credo, não existe um plano de carreira e praticamente pedem para que você deixe o cérebro e a criatividade em casa ao vir para o trabalho. Neste caso a mudança é o melhor caminho. Pelo bem da sua saúde e do relacionamento com sua família, mude e seja feliz! Mas quero falar daqueles que estão buscando um lugar ao sol. E aí surgem dois problemas – você não se especializou, não se reciclou, ficou parado no tempo. Sem traumas, vá à luta e faça o dever de casa, sempre é tempo. Existem várias formas de você se atualizar: é só listar alguns cursos, analisar o conteúdo, qualificação dos instrutores, custos (há vários gratuitos) e iniciar o processo de reciclagem. Não se esqueça de cultivar sua rede de contatos.
O outro lado da moeda é quando você é qualificado demais, bom mesmo. Tem vivência na área, faculdade de 1ª, linha, pós-graduação – não uma, mas duas, talvez um MBA, inglês de negócios, jamais dirá “The world is desabading” se cair uma tempestade durante a entrevista, conhece profundamente o mercado em que atua, mas por fatores adversos, está fora do mercado. Acontece. O caso é que para algumas empresas, esta experiência pode dar a entender que você é caro ou se você passou dos 40/45 anos, num país onde o conhecimento nem sempre é valorizado, pode dar a impressão de que você está desatualizado em relação aos acontecimentos – principalmente para quem trabalha em TI.
Profissionais maduros estão mais para Jurassic Park do que Campus Party. É preciso gerenciar esta percepção no momento da entrevista. Primeiro, você pode não ser tão caro assim. Segundo: você é um profissional antenado, não é? Tem uma rede ativa de relacionamentos, tem um perfil atualizado no LinkedIn, gerencia seus contatos, adiciona profissionais com quem você trabalhou e está ligado nas novidades da tecnologia. Networking não pode ser feito só quando a gente está sem trabalho, é um processo contínuo.
Então, o que fazer? Tirar as qualificações do currículo? Não, customizá-lo, talvez, listando apenas as habilidades necessárias para o cargo oferecido. É adaptar o conteúdo ao perfil que você está se candidatando. Fica mais fácil participar do processo. Conheço profissionais que tem um super-currículo e divulgam o mesmo perfil para todos os tipos de indústria e funções. Você é um profissional multifacetado, tem diversas especializações que devem ser apresentadas dando ênfase para determinados aspectos, dependendo do caso. Dá trabalho, mas vale a pena.
Nosso currículo é a soma de uma vida profissional, o retrato de uma carreira, mas a empresa talvez queira só um instantâneo de nossa trajetória, a parte que lhe interessa, mas não vamos esquecer que é nosso currículo e nossa vivência que nos fez chegar até a mesa do headhunter ou de alguém que está indicando você. É que as empresas precisam dos profissionais, mas talvez não tenham a verba necessária para um super expert, quando um expert acessível resolve o problema. Você pode não ganhar o que estava pretendendo, mas ao aceitar o trabalho, vai reconstruir sua carreira dentro da nova empresa e, através de seu empenho, queimar etapas, recuperar o tempo perdido e chegar lá no topo, onde você merece estar. Sucesso!
Sobre a autora:
Gladis Costa, Gerente de Marketing e Comunicação da PTC para a América Latina. A PTC é líder no segmento de soluções para o gerenciamento do ciclo de vida do produto. Em março de 2009 criou o grupo “Mulheres de Negócios”, maior rede feminina de negócios do portal LinkedIn com mais de 4600 associadas. É colunista em vários sites onde publica artigos sobre marketing, serviços, comportamento, carreira e cultura. É formada em Letras pela Unesp, com pós-graduação em Jornalismo, Comunicação Social e especialização em Tecnologia e Negócios pela PUC-SP. Em 2005 lançou seu primeiro livro de crônicas, “O homem que entendia as Mulheres”.