Minha cabeça tá fervendo hoje! E é por causa do papo federal que tive, de quase uma hora, ontem à noite com meu mais novo amigo de infância, Sérgio Storch.
Nem vou contar aqui a nossa saga, que você não vai ter tempo de ler, mas que dava um filme bem interessante, dava. Só te resumo que a gente conseguiu passar por quase todas as fases pelas quais passa uma amizade de décadas, em menos de 24h. E só no virtual! Louco. Muito louco isso.
Em todo caso, voltando ao que me colocou aqui pra escrever hoje, falávamos ontem, entre zilhões de outras coisas, sobre T.O.C. Você sabe, né? Aquela coisa que todo mundo tem, mas só meia dúzia de criaturas conta, ou seja, manias. Tá, tá… eu sei que em alguns casos é Transtorno Obsessivo Compulsivo messssmo, mas vamos combinar, quem não tem uma maniazinha aqui e outra ali? Um pensamentozinho repetitivo aqui e outro alí, eu chamo o meu de “grudentinho”, como já sabem os que leram minha crônica “140 caracteres pra mudar uma vida”. A questão é o que define uma coisa ou outra.
O objeto da nossa conversa de ontem era T.O.C. por informação.
Você faz alguma idéia de quantas horas eu passo na frente de um computador, de revistas e livros ou de programas de TV como Roda Vida, Invenção do Contemporâneo, Sempre Um Papo ou Café Filosófico? Participando de palestras e cursos? Não faz, né? Então, vou te contar: São muuuuitas!
Só em redes e mídias sociais, estou em 72! Digamos que eu esteja mais ativa em algumas que em outras. Naturalíssimo, certo? Mas, mesmo assim, respondo à todas as mensagens, faço postagens, participo de fóruns, faço uploads de vídeos e muitos, muitos downloads também.
Bom, em algum lugar do mundo, deve existir uma tabela que diz: Até “X” horas disso, você é normal. A partir dessas “X” horas, você sofre de T.O.C.
Podemos, por favor, pensar juntos por algumas linhas?
Eu amo de paixão o que faço (garimpar informações, analisá-las, estudá-las e devolvê-las ao mundo em forma de brinquedos divertidos que fazem cócegas no raciocínio), ganho pra isso (é minha profissão), faço muita gente feliz e tô feliz. Por que, cargas d’água eu iria tentar me “curar” disso? Alguém me explica?
Eu vou às festas de aniversário e casamento de amigos e parentes; vou ao cinema mais ou menos 2 vezes por mês. Um pouco mais, quando dá. Vejo dezenas de filmes em casa. Mas isso é lazer, não é?
Oh, meu Deus! Filmes são vidas inteiras condensadas em 2h durante as quais eu analiso os modelos mentais dos personagens! Inevitável! Um organismo vivo não pode ignorar um estímulo recebido! Sabia disso, né? Bom, se não sabia, agora tá sabendo. Isso é neurológico, não é uma opinião pessoal.
Bom, então, meu cineminha, meus filminhos em DVD e na TV a cabo são mais informações.
Xiiiiii… desconfio que acabo de ultrapassar, em muito, qualquer tabela de alguma instituição com as temidas “X” horas ditas “normais”. Ai de mim que declaro isso, agora, publicamente. Haverei de merecer seu respeito depois disso?
Pra não correr o risco de perder esse respeito, que eu prezo muito, tenho duas proposições a fazer aqui. A primeira tem a ver com essa coisa dos rótulos. Acontece que, rótulo por rótulo, eu prefiro o meu que é hierarquia de critérios e valores.
Explico. Entre me sentar na frente da TV pra assistir fofocas sobre “famosos” temporários que não fizeram nada que agregasse algum valor à nossa cultura ou às vídeo-cassetadas com um monte de gente rindo de outro monte de gente se machucando feio, eu prefiro navegar na internet e assistir ao vídeo do Isaac Asimov no YouTube, prevendo, em 1988! Pasmem!, o impacto da internet e a sociedade de redes, por exemplo. Entendeu o que é hierarquia de critérios e valores?
Meu amigo Sérgio tem 18 queridos e queridas entre pais, filhos, netos, companheiras e afins. Veja bem, não que ele tenha mais de uma companheira. É que somos múltiplos mesmo, todos nós. Mas, as mulheres são sempre, no mínimo, duas: uma com e uma sem TPM. Fica esperto. Isso é mensal. Aceita isso como verdade, pára de se iludir e vai ser feliz com elas, seu bígamo safadinho… Ops… perdão, me excedi. Não prometo que isso não vá se repetir…
Mas, como eu dizia, ele tem 18 queridos e, claro, todos desejam sua presença. Ih, mas e as horas no telefone e no computador?
Então, vejamos, o dia tem 24h. Digamos que destas 24h eu passe, e devo passar mesmo, umas 14h envolvida com meu trabalho, de uma forma ou de outra. Digamos que eu durma, e durmo mesmo, umas 6h por noite (às vezes é a soma de uma sonequinha revigorante à tarde com o restinho das horas da noite, mas tá valendo). Já somamos 20h durante as quais eu não estou com meus queridos e queridas.
Mas isso não é inteiramente verdadeiro, porque eu paro o que estou fazendo pra comer com eles, eu os chamo, de quando em quando, pra perguntar alguma coisa, pra pedir uma opinião sincera sobre uma idéia, slide ou dinâmica de trabalho, quando acaba a água que fica do meu ladinho no escritório e eu desço até a cozinha (trabalho em home office) pra reabastecer a garrafa, dou um beijo estalado e faço um cafunézinho básico. E, se dessas 14h, duas forem na frente da TV ou da Telona, alguns destes queridos poderão muito bem estar, e estão mesmo, comigo, certo? Além disso, ninguém trabalha todos os 365 dias do ano, trabalha? Se trabalha (eu, heim!), não serão sempre dias de 14h, né?
Vai daí, e concluindo, que minha segunda proposição tem a ver justamente com essa questão da presença x a ausência. Não acredito, de jeito nenhum, que seja a quantidade de tempo que passo com alguém que diga à esse alguém que eu o amo. Acho que é a forma como eu participo da vida desse alguém que dará à ele ou ela a dimensão do que sinto, concorda? De que me adianta alguém 24 horas ao meu lado pensando na morte da bezerra? Esse alguém não tá comigo. O corpo dele(a) tá, mas a mente não. Desculpa, mas é a mente que anima, dá vida, ao corpo. Eu quero é a alma (nossa, isso ficou assustador, né? Sossega. Num quero ela pra toda a eternidade, que nem uns e outros…)
Não me interesse um corpo inerte. Erótica, disse Adélia Prado, é a Alma. Bom… que fique registrado, o corpitcho também vai bem uma vez ou outra…
Então, finalizando, eu me pergunto sempre como anda a qualidade, não a quantidade, da minha presença. E tomo muito cuidado com os rótulos. Estes que dizem, a partir da “verdade” de um pequeno grupo de diplomados (como eu, aliás), se sou normal ou neurótica.
A propósito, eu tô normótica por enquanto. Pode se aproximar. Ainda é seguro… Mas, cuidado comigo! Vai que eu “desando”…
Sobre a autora:
Inês Cozzo Olivares é Diretora e sócia-fundadora da TAI Consultoria (desde 1994); Consultora, escritora e Palestrante Internacional (desde 1997); Psicóloga (1986); Autora do Livro “Abordagens Alternativas em T&D”; Autora do Livro ”Neuroaprendizagem e Inteligência Emocional”; Criadora e organizadora do GEN – Grupo de estudos de Neuroaprendizagem com ênfase em NeuroBusiness (desde 2006).
site: www.taiconsultoria.com.br
e-mail: ines.cozzo@taiconsultoria.com.br
Intensidade, realidade, autenticidade, ser você e buscar a felicidade, mas felicidade não na busca individual, felicidade no seu meio. Afinal o ser humano tem como objetivo primordial a vida em comunidade. Que as estatisticas continuem sendo apenas estatitiscas.