Uma árvore, não importa o tamanho que possa atingir, nasce de uma pequena semente. No início de sua trajetória ela não passa de um insignificante broto, cuja existência pode ser apagada por um simples esbarrão.
Um campo vazio, cujas sementes estão germinando, se for pisoteado todos os dias, jamais terá uma rica e exuberante floresta, no máximo ervas rasteiras e maltratadas. E mais, não atrairá a fauna, que consigo carrega a flora. Assim surgem habitats com riquezas de vida.
Uma reflexão simples e lógica, concorda? Façamos uma transposição, levando essa imagem para o fundo dos quintais de casas onde sementes empresariais germinam.
Incontáveis histórias nos servem de exemplos de gigantescas organizações que nasceram nas garagens, em quartos de apartamentos, em sótãos e mesmos quintais. Outras tantas não vingaram, pois pisoteadas, não tiveram forças para superar os maus tratos.
Não apenas pessoas isoladas, mas famílias inteiras se sustentam e prosperam com trabalhos em fundos de quintais.
Os ganhos que as permitem pagar serviços que o governo deveria fornecer, mas não o faz como educação, saúde e segurança, são obtidos nas incontáveis horas nos fundos de seus quintais. Ali também se educam e se formam cidadãos.
Esquecida e sem apoio, a periferia desintegrada se integra à sociedade no fundo dos quintais. Nesses pequenos, apertados e precários espaços há mais dignidade que se possa imaginar. Sangue, suor, lágrimas e uma fé inabalável são componentes das vidas de pessoas que resistem e não desistem.
Trabalhos que oferecem a toda população segurança, vestuários, alimentos, conforto e abrigos, sem que se dê conta. Na mesa, na moda, na música, na tristeza da carência, na alegria que teimosamente se instala na periferia.
Milhares de prestações de suas máquinas para produzir, o nome limpo, única garantia de crédito, os fardos carregados e descarregados, com os próprios braços, movimentam e dão vida ao fundo do quintal. Parques fabris que se somados serão maiores que as grandes indústrias.
Relatórios dão conta que as micro e pequenas representam 98% do número de empresas no Brasil, com 67% de ocupações.
Sem a menor dúvida, essa é uma parte do iceberg, apenas a visível. Nessa pesquisa, levantamento, estatística são incontáveis os que não se contam. Há muito trabalho gerado nessa economia invisível, que sequer nos damos conta.
No salgado do café da manhã, no corte de cabelo, na faca afiada, no cabo da panela, no conserto da torneira, no reparo do chuveiro, há muito trabalho que não pega ônibus, trem ou metrô, mas que caminha sob as solas gastas, na periferia que os consome.
Diamantes brutos, prontos para lapidação, às vezes descobertos, seguem para o grande e visível mercado, fazendo dinheiro e fama, mas poucos.
Assim são esses quintais, resistem ao pisotear do esquecimento, da falta de apoio, e teimam em germinar suas sementes, onde florescem pequenas árvores, cujos frutos alimentam populações inteiras.
Com muito trabalho e dignidade, superando enormes dificuldades, surge a riqueza em fundo de quintal.
Sobre o autor:
Ivan Postigo é Diretor de gestão empresarial da Postigo Consultoria Comunicação e Gestão. Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européias de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas, cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativo-financeira, marketing e vendas. Desenvolve consultoria e palestras nas áreas mercadológica, contábil/financeira e fabril. Autor do livro: Por que não? Técnicas para Estruturação de Carreira na área de Vendas e do E-book: Prospecção de clientes e de oportunidades de negócios.
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