No meio do caminho tinha uma Internet. Tinha uma Internet no meio do caminho. A Internet nunca lhe deixou seguir o caminho embora você pensasse que ela era o melhor caminho. O tempo passou e a única coisa que a Internet lhe proporcionou foram algumas horas de pseudo importância e reconhecimento.
Se você ficasse em casa ou no trabalho o dia todo assistindo as reprises do Chaves, provavelmente perderia o emprego ou morreria de fome. Entretanto, se você ficasse o dia todo conectado ao Twitter, Youtube, MSN ou, então, atualizando a sua página no Facebook, provavelmente o mundo acharia normal, afinal, você estaria conectado.
Dessa forma, as pessoas curtiriam e comentariam seus posts, seguiriam o seu perfil e, por alguns instantes, você se sentiria importante. Na medida em que a sua psique fosse reconhecendo isso, provavelmente, você ficaria mais animado e, ao mesmo tempo, mais escravo das redes sociais, a exemplo de milhares de pessoas que não fazem outra coisa na vida a não ser ficar conectados.
O acesso às redes sociais, de alguma forma, eleva a sensação de valor, de importância e de reconhecimento. É bem mais fácil se expor, esbravejar, postar vídeos inúteis e engraçados, fazer comentários sobre celebridades ou pessoas conhecidas quando você sabe que não será responsabilizado por isso. O anonimato é estimulante e desafiador. E, além de tudo, você está participando.
Na prática, as pessoas querem estar conectadas, querem ser valorizadas e também querem participar dos debates para demonstrar o mínimo conhecimento do assunto. No fundo, queremos que sintam a nossa falta, que as pessoas saibam que existimos, queremos fazer qualquer coisa que não nos remeta ao vazio da nossa existência. Odiamos o tédio.
Estudar, lutar por um objetivo, perseguir metas desafiadoras, ler livros interessantes, planejar um negócio, tudo isso é muito chato e, por vezes, chega a assustar. Além disso, a nossa resistência natural diz que é preciso fugir do trabalho e qual é o melhor lugar para isso? A Internet, óbvio.
De fato, quando a zona de conforto está no comando, você verifica o e-mail de meia em meia hora, entra no Facebook com mais frequência do que o necessário, deixa o MSN em estado de vigilância permanente e sua página de entrada na web é o Youtube, afinal, de dois em dois segundos sempre surge uma bobagem qualquer para a gente rir.
Por que tudo isso acontece? Não dá para esperar, afinal, quando você espera e os e-mails demoram a chegar, tem a leve sensação de que as pessoas não se importam contigo. Na prática, quanto mais e-mails recebe, mais posts comenta e mais links compartilha, maior a sensação de pertencimento.
Tudo isso é divertido, mas raramente provoca mudanças significativas na vida. Conexão permanente é sinônimo de resistência e zona de conforto, pois há sempre um novo e-mail para ser respondido, um novo link a ser comentado, uma nova foto para curtir e o tempo passa mais rápido.
Isso faz com que você perca o foco naquilo que realmente importa e, assim, suas ideias revolucionárias são permanentemente sufocadas pela dificuldade de se autodisciplinar, mas acredite, existe vida além da Internet.
Seja sincero, para onde vai a sua vocação enquanto você está tuitando, postando, comentando, compartilhando? De que forma você utiliza a Internet para promover a sua arte? Onde você esconde as suas ideias maravilhosas? Como é que a Internet pode ajudá-lo a se destacar na multidão?
Eu também curto a Internet com bom senso e comedimento. Tenho três endereços de e-mail, site, blog e também estou no Twitter, Facebook e Linkedin. Pra variar, tenho alguns vídeos no Youtube e de vez em quando eu assisto algumas bobagens por lá para descontrair um pouco.
Há uma diferença considerável entre utilizar a Internet como fonte de conhecimento ou entretenimento saudável e se tornar um alienado. Obviamente, existem poucas pessoas que utilizam a Internet para fazer seu trabalho de maneira séria, eficiente e produtiva. Mas, e o restante?
O resto desperdiça boa parte da vida com bobagens que a Internet, mais do que qualquer outra forma de mídia social, pode proporcionar. No fim do ano, sua vida se resume a postagens no blog e outro monte de posts no Twitter, ou seja, mais um ano perdido.
Portanto, cada vez que você se sentir tentado a passar mais do que meia hora na Internet – um pouco mais se esse for o seu trabalho de fato -, lembre-se de que, enquanto você navega livremente e entrega os pontos, há sempre alguém otimizando melhor o tempo.
Acredite, é necessário uma disciplina insana para eliminar tudo o que lhe parece improdutivo. Se você se dedicar a uma causa que valha a pena com a mesma intensidade com que se dedica às redes sociais, sua vida vai mudar da água para o vinho.
Se o seu problema é a ansiedade, administre-a, pois ela é simplesmente um medo inútil e imaginário. A ansiedade não significa nada e quanto mais você se deixa dominar pelo medo, menos você visualiza as amplas possibilidades que o mundo lhe oferece.
Caso você ache tudo até aqui uma grande baboseira, daqui a dez, quinze ou vinte anos, não importa, o tempo é cruel nesse sentido, você haverá de lembrar as minhas palavras. Talvez você ainda possa mudar, talvez não. Mas algo haverá de martelar a sua cabeça: havia uma Internet no meio do caminho.
Pense nisso e seja feliz!
Sobre o autor:
Jerônimo Mendes: Administrador, Coach, Escritor e Palestrante, apaixonado por Empreendedorismo, Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE/Curitiba-PR. Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark), Benditas Muletas (Vozes) e Manual do Empreendedor (Atlas).
Será que perdi meu tempo na internet, lendo este artigo???
Faca de dois gumes, caro autor.
Sr. Jerônimo
Quando surgiu a internet eu lutei em usá-la pois achava perda de tempo ficar respondendo email todo dia. A internet surgiu para agilizar a comunicação e diminuir papelada, mas não eliminou a informação inútil que as pessoas produzem ao contrário só aumentou.
“Havia um Jerônimo no meio da internet!”
Paródia à parte, muito oportuna sua crítica ao uso da internet nas redes sociais!
Perfeito Jerônimo.