Adenor Leonardo Bachi, gaúcho de 54 anos, treinador de futebol é um homem festejado e convidado a seguidas entrevistas. Todos querem entender a razão de seu sucesso, especialmente agora quando o clube que dirige, o Corinthians, venceu o Campeonato Brasileiro com recorde histórico de pontuação, passando a régua com três rodadas de antecedência e liderando os indicadores de produtividade: ataque mais eficaz, defesa menos vazada, maior número de vitórias, menor número de derrotas, menos faltas, menos cartão amarelo, menos impedimento.
Quem acompanha o futebol sabe das dificuldades para se chegar a isso. Pelo menos dez equipes começam o campeonato qualificadas para chegar ao título.
Adenor, mais conhecido como Tite, passou por muitas dificuldades. Perdeu peças-chave durante o evento, como o atacante Guerreiro considerado ‘insubstituível’, administrou atrasos de salários dele e dos jogadores, entre outras coisas que poderiam ter desestabilizado o seu comando.
O Líder assumiu de pronto uma condição essencial à missão: acreditou. E sempre tinha uma palavra para contornar início de crise, apagar um pequeno incêndio, usando a sinceridade e a transparência. Manteve afastado jogadores consagrados que não estavam bem física, técnica ou disciplinarmente. Lançou novatos aos poucos, passando-lhes confiança. Os próprios jogadores adotaram a frase de que “quem está bem, melhor no momento, é quem joga”. Enfim, justiça e meritocracia.
Administrar um elenco de jogadores conhecidos, que ganham altíssimos salários, é como caminhar sobre o fio da navalha. Muitos interesses no entorno, pressão de ‘empresários’, e a fogueira de vaidades. Ele tratou muito bem disso, deu e exigiu respeito, o time foi se encaixando e recuperando até quem não estava bem e tinha que render (faltavam opções) como o atacante Wagner Love.
Se olharmos sob a ótica corporativa, o sucesso de Tite projetou-se bem antes do campeonato se iniciar. Parou em 2014 para um ano sabático, investiu em seu desenvolvimento e foi refletir, aprender com outros, inclusive em estágio na Europa e voltou mais preparado nos conceitos e fundamentos da modalidade. Até por isso ganhou o respeito da crônica especializada e a confiança dos seus liderados.
Assim, podemos dizer que Tite se atualizou, manteve o foco jogo por jogo e a motivação do grupo sempre em alta. Valorizou o trabalho em grupo com uma equipe capacitada desde a fisiologia ao banco de reservas, pois saía um titular e o time mantinha o padrão. Soube aproveitar a excelência de cada um naquilo que cada um podia dar, como o veterano Danilo que entrava somente nalgumas partidas e no segundo tempo, embora com papel fundamental para o resultado. Enfim, respeitou as diferenças.
Usou também o planejamento. E quando esse falhou, soube adaptar para retomar o caminho. Errou também nalguns momentos e jogos, e reconheceu o erro como todo bom líder deve fazer. Mais que escutar, soube ouvir a equipe. Seu lado humilde permitiu ser atencioso e querido pelos servidores do clube. Seu time não tinha uma grande estrela, valorizou a força do coletivo.
Tite sabe usar a comunicação como todo bom líder. Preservou atletas em momentos difíceis, foi duro na proporção exata e no momento certo. E elogiou sempre que pode, com sinceridade. Para subsidiar seus comentários e decisões recorreu quase sempre às estatísticas. Hoje o futebol está muito mapeado, profissionalizado e o líder esperto desfruta da tecnologia.
O treinador de futebol depende de resultados imediatos. Tite foi eficaz em 2015, e pode até não emplacar em 2016. O clube não consegue segurar seus astros; até o futebol chinês vem pagar valores absurdos para se reforçar e promover a modalidade naquele País.
Mas o treinador segue confiante, mostrando que usa boas práticas de Liderança, perfeitamente adaptáveis ao mundo das organizações e vice-versa. Afinal corremos todos para um grande objetivo, o do resultado, fazer e não levar “gols” !
Sobre o autor:
Celso Gagliardo foi gestor de RH de grandes e médias empresas, hoje consultor e treinador de Lideranças.
e-mail: gagliardo.celsoluis@gmail.com