Liderar pelo Poder, ou pela Inspiração

Celso Gagliardo
Celso Gagliardo

O caro leitor é um “chefe”, tem subordinados. Mas aqui, vamos designá-lo de Líder. Responsável por administrar um estabelecimento, uma seção, um departamento, a padaria ou mesmo um lar, uma organização qualquer.

Por que o subordinado obedece você, Líder? Logicamente é porque você tem Poder conferido pelo “dono”, ou poder delegado pelo dono para você “tomar conta” no lugar dele.

Liderar com o Poder é fácil? Não, nunca será fácil.  A Liderança convive com antagonismos, com diferenças individuais, aspirações diversas, opiniões divergentes, metas ambiciosas. E tem a pressão da Organização, do patrão (e dos clientes, muitas vezes) e dos subordinados. Fica prensado qual um sanduíche pronto para o consumo.

Há Líderes com facilidade para inspirar pessoas, lideram com mais facilidade e sutilmente, sem a necessidade de duras e constantes abordagens. Administram por regras gerais claras, e fazem o controle aparando arestas e distribuindo a atenção conforme a maturidade de cada subordinado. Dizem, brincando, que esses líderes “mordem e assopram”.

E há Líderes que dirigem com a força do Poder: “Eu mando e você obedece porque foi contratado para trabalhar, e sob minhas ordens”. A ameaça de punições, e mesmo de demissão, é uma constante. Líderes assim têm pouco tempo para as pessoas, para lidar com  emoções, relacionamentos, queixas, reclamações, pleitos.

O que é melhor? Quem dá mais resultado? Difícil dizer no curto prazo porque quem lidera usando ostensivamente o Poder que lhe foi conferido também dá resultados, atinge metas, e aparentemente o ruído próprio das pessoas é até menor, geralmente há baixa manifestação individual e as pessoas são mais obedientes, quietas, casmurras.

Mas, sem dúvida, o líder que inspira é o Líder provedor, que supre necessidades, acredita em treinamento mesmo sabendo que é uma construção que demanda tempo. E esse Líder tende a obter resultados continuados com mais facilidade, propiciando um ambiente de felicidade e por consequente melhor motivação de sua equipe (ele não motiva, diretamente, mas evita a desmotivação). Aliás, ele tem equipes, e não grupos de pessoas. Equipes que cooperam entre si visando os resultados individuais e também globais.

É evidente que o Líder inspirador atua igualmente com o poder ao seu lado. E também tem que cobrar, “morder”, mas sabe abraçar, considerar, reconhecer, estimular pessoas pelo toque mágico do olho no ser humano que está dentro daquele uniforme. Líder inspirador atende as pessoas, chama-as pelo nome, respeita e a trata como gostaria de ser tratado.

Infelizmente o cotidiano das empresas não oferece o tempo necessário para preparar líderes inspiradores e servidores como propõe James Hunter, o guru americano estudioso da Liderança. E técnicos bons são transformados em gestores desajeitados, com dificuldades para o trato das individualidades, sem a paciência que a missão requer.

Certamente o leitor sabe de alguém que deixou a empresa e fez reclamação trabalhista porque não gostava do chefe, saiu magoado com ele. E quanta rotatividade é motivada por liderança inadequada, rusgas, relações rudes à base da força que o poder diretivo confere.

Mas sabemos também de pessoas que não gostam da empresa onde trabalham, mas nela ficam pela relação com o superior. Admiram o Líder exatamente porque essa liderança equilibra a cobrança, a busca de metas e resultados, com o provimento das demandas que todo ser humano normalmente traz, de se sentir útil, prestigiado, aquela gostosa sensação do pertencimento, sabendo da real utilidade e aplicação do seu trabalho e não se sentindo apenas uma pequena parte de uma grande e fria engrenagem.

Líder inspirador continua sendo respeitado mesmo se o poder vier a ser retirado. O poder pode ser retirado por quem o delegou, e ainda assim a admiração pelo Líder verdadeiro continua. Ele tem Autoridade.

Num tempo de alta competitividade pela sobrevivência, onde a qualidade é referência para todos e a tecnologia igualmente disponível, o grande diferencial acaba sendo as pessoas. Que são contratadas, integradas e conduzidas por Líderes que podem conseguir todo o potencial delas, ou apenas uma parte de sua capacidade de entrega.

Assim, organizações com Líderes adequados a essa demanda, que prestam atenção no todo e não apenas nas tarefas, acabam tendo uma vantagem competitiva muito grande.

Sobre o autor:

Celso Gagliardo foi gestor de RH de grandes e médias empresas, hoje consultor e treinador de Lideranças.

e-mail: gagliardo.celsoluis@gmail.com

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