Manterrupting, Mansplaining, Bropriating e outras pragas!

Gladis Costa

Acontece o tempo todo. Você, sua amiga, seu colega na empresa, um prestador de serviço, alguém da família, todos têm uma história desagradável de trabalho pra contar. Independe de com cargos, gêneros, segmentos, geografia. Está permeada no dia-a-dia, mas são pequenas (ou grandes) atitudes que vão de abuso de poder ao manterrruping ou mansplaining, formas reais de machismo. Experiências que não deveriam mais fazer parte do cardápio, mas estão lá escondidinhas, na página 2. Algumas leves, outras mais complicadas, mas irritantes da mesma forma. É bom lembrar que todos erramos, mas é preciso ficar atento para evitar comportamentos que pegam mal e criam um clima negativo na empresa.

  1. Alguém cria um draft de uma super campanha. É marcada uma reunião com o departamento para validação de ideias e voilà!  Não é que o tal draft virou uma versão turbinada com “novas” ideias, que agradam todo mundo, inclusive o chefe, que parabeniza o colaborador pela criatividade? A ideia não é dele ou dela, mas ninguém vai saber. Isto é o “bropriating”. Quando um “mano, brother, colega” se apropria da ideia de outra pessoa. Usurpador!
  2.   “Think outside the box”, ou ser bem criativo é um convite irrecusável para jovens talentos, que na tentativa de mostrar trabalho ou justificar a contratação apresentam ideias mirabolantes, geniais, que nada têm a ver com a cultura da empresa. Bom, eles nem perguntaram nada, porque afinal, têm “sangue no olho”, característica preciosa para alguns gestores, que aplaudem de pé os pequenos Narcisos! É por isso que algumas campanhas falham de forma gritante.  Guris, mirem-se em alguns gurus antes de sair atirando!
  3. “Você não tem experiência. Precisamos de alguém com mais bagagem”. Como alguém pode ter experiência se ninguém dá a chance para a pessoa começar? Será que o recrutador pode dar um crédito para alguém que está muito a fim de trabalhar e fará de tudo para agregar valor e ajudar nos negócios? Pessoas de pouca fé!
  4. Ouvir todos os dias aqueles funcionários mais antigos começarem uma história assim: “A verdade é que” ….Ora, quem é o dono da verdade? Se alguém começa uma frase desta forma, invalida qualquer ideia que o interlocutor possa ter, já que, ele tem “a verdade” na mão, então o resto deve ser mentira. É o famoso rei do pedaço.
  5. Histórias repetitivas, normalmente relatadas por colegas que supervalorizam sua experiência. As histórias, normalmente contadas em tons monocórdicos, viram lendas, que após tantas repetições passam a ser verdade, talvez até para eles mesmos. Estes são os Malas.
  6. Aí vem o amigo, parente, sobrinho do amigo com um pedido básico: “Será que você pode dar uma olhadinha neste: (escolha um item): “contrato, revisão de Curriculum, criação de carta de apresentação, texto para um folheto, tradução de um texto,  escolha da melhor foto para perfil?  Depois dizem que a gente não sabe cobrar!  Como cobrar, se não existe propriamente um “job” na mesa? “É só uma olhadinha”, eles dizem. Pessoas, parem! Os outros investiram tempo e energia em conhecimento. Olhar custa!
  7. Será que você consegue arrumar um estágio para o filho do meu amigo? Acabou de se formar em engenharia. Super gênio. Sim, e você é um super recrutador! Vai lá! Encaixa o garoto!
  8. “Será que você tem uns contatos bons pra me passar? Estou precisando vender meus serviços”. Coincidência! Temos o mesmo objetivo! Vamos juntos!
  9.  “Não te contratam porque você é muito caro ou maduro demais”. Vamos lá: Como uma pessoa é cara se ela está desempregada? E desde quando maturidade é empecilho?
  10.   “Mansplaining” e “manterrupting”. Manterrupting é a junção das palavras “homem” e “interrupção”. Quando você não consegue explicar uma ideia porque é interrompida o tempo todo pelos colegas, e aí acaba até perdendo o fio da meada. Meninos, respeito, por favor! Mansplaining é a junção das palavras “homem” e “explicação”. É a forma bem didática de explicar a uma mulher uma coisa (muito) óbvia. A gente sabe como funciona a hierarquia da empresa ou com quem falar no cliente. Ok?
  11. Você resolve o problema uma vez e consequentemente herda uma tarefa que não é sua, mas vamos lá, você fez tão bem, por que não continuar fazendo? “Não precisa surtar, só leva um minuto”. Ok, hora da meditação: “Eu confio, eu entrego, eu dou uma surtada e eu agradeço”. Repita até se cansar.
  12. Você resolveu aquele problema espinhoso superbem! Então você começa a resolver problemas dos familiares dos colegas da empresa. Desculpe, isto não faz parte do meu “job description”. By the way, eu não tenho um “job description”!
  13. Você compartilha uma sala com (pode escolher): alguém que fala muito alto, adora contar piadas, reclama da família o tempo todo, gosta do ar condicionado em níveis siberianos, adora trazer seu almoço e comer na sala e canta em alto e bom tom o que tocar no fone de ouvido.  Pensa nas pessoas que não tem emprego.
  14. Seu chefe marca uma reunião às 5:00, mas liga avisando que está no trânsito e vai atrasar. É sexta-feira. Chove. São Paulo. Hora da meditação.
  15. A “turma da firma” adora almoçar todos os dias no mesmo horário, no mesmo restaurante, basicamente falando o mesmo assunto, mas quem é você para contrariar o grupo? Dá para marcar consultas médicas durante o almoço, sabia? Hora de check-up!

 Você já passou por alguma dessas situações?

Abraços

Sobre a Autora:

Gladis Costa é profissional de Marketing e Comunicações e fundadora do “Mulheres de Negócios”, grupo criado em 2009, que já conta com mais de 7000 associadas. É colunista em vários sites onde publica artigos sobre marketing, serviços, comportamento, carreira e cultura. É formada em Letras pela Unesp, com pós-graduação em Jornalismo, Comunicação Social e especialização em Tecnologia e Negócios pela PUC-SP. Em 2005 lançou seu primeiro livro de crônicas, “O homem que entendia as Mulheres”.

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