Há algum tempo venho pensando em manifestar minhas reflexões sobre a Arte de Construir Recursos Humanos nas Organizações e o Universo conspirou para que este nobre presente chegasse a mim neste momento.
Arte e Construção contínua, pois somos “gentófilos” apaixonados pela missão de contribuir para que outros Seres Humanos como nós possam encontrar em seu ambiente profissional o melhor lugar para se trabalhar.
Acredito que a melhor forma de refletir este papel nos dias de hoje, é retratar uma breve recapitulação das ondas macros que esta área já superou.
Há anos atrás a função era puramente administrativa, o velho conhecido como Departamento Pessoal, veio a Seleção mais voltada para triagem de candidatos após o preenchimento de fichas de emprego, o Treinamento surgiu como capacitação, numa época em que configurava principalmente a obediência servil por parte dos empregados.
Na medida em que as pessoas começaram a manifestar mais abertamente suas insatisfações, o R.H. sai de um papel mecanicista e passa a buscar meios para “suavizar” as relações de trabalho, adotando postura mais observadora diante o comportamento dos funcionários. Além disso, a própria tecnologia traz novas fronteiras para os perfis de conhecimentos e características pessoais.
Chegou a época do R.H. estar mais envolvido pelo negócio, criando metodologias mais sofisticadas para selecionar pessoas e acompanhar suas carreiras, através de parâmetros mais detalhados, incluindo modelos de remuneração, benefícios, medições de performances, preocupação com o Clima Organizacional, eu chamaria da fase dos temperos variados, a cada semana surgiam coisas novas e alguns R.Hs queriam agarrar todos os cavalos galopantes, visando estar em evidência como uma área moderna, com tecnologia avançada, apropriando-se de maior poder na estrutura hierárquica.
Com os sistemas de controles financeiros cada vez mais aguçados, o R.H. obriga-se a estimular mais sua criatividade para manter seu espaço, porém trazendo soluções mais palatáveis para a empresa. Eu diria que soluções mais realistas e menos histéricas, o que traz a área efetivamente para dentro da estrutura.
Revisitando meus anos de carreira em R.H., vejo que as questões principais consideradas mais problemáticas são Comunicação, Liderança e Clima Organizacional, os grandes desafios para R.H.
Porém durante anos a área cuidou dos sintomas, o que gera melhorias paliativas, mas basta olhar a essência de tais questões e se deparar com o óbvio.
Penso que qualquer organização defina sua estratégia de negócios em busca de Resultado/lucratividade e que o tripé de sustentação para mover esta máquina envolve o aspecto financeiro (viabilidade econômica), tecnologia/processo (visão sistêmica e automação) e pessoas. Entretanto, hipoteticamente, o único quesito que se move, ainda que falte os outros dois, é o quesito pessoas.
Logo PESSOAS é o elementar, conseqüentemente envolve Relacionamento, o que implica em conflito, atrito (Rela = atrita).
Há muito tempo eu nem chamaria mais a área de Recursos Humanos, pois evidencia o valor humano atribuído pelas empresas, tratando igualmente a Recursos Financeiros, Recursos Tecnológicos, Recursos Materiais.
Entretanto outras denominações como Gestão de Pessoas, Desenvolvimento Humano, e vai por aí, também não classifica exatamente o conceito desta área, já gerir e desenvolver é responsabilidade de todas as demais áreas da organização e todas compostas de gente.
Sensacional!! chegou então a uma fase de crise de identidade para esta área, o que a obriga a repensar sua missão, visão e papéis na organização.
Creio que seja necessário separar o joio do trigo, elencando suas atribuições funcionais por subsistema.
Um deles é de Serviços (operacional), como Folha de Pagamento, Encargos Sociais, Medicina e Segurança do Trabalho, Sistema de Automação, Relações Sindicais e Trabalhistas, foco na Legislação Trabalhista vigente, soberana aos interesses da empresa, seguido de observância das Políticas Internas.
Outro subsistema, o de Compensação (Tática): Plataforma de Cargos & Salários, Remuneração fixa e variável, Benefícios, PLR, Bônus. Regendo o conjunto pelo princípio da equidade interna e mercadológica (sistema econômico vigente e segmento de negócios).
Por fim, o terceiro subsistema de Prospecção e Desenvolvimento (Estratégica): Atração e Seleção, Gestão do Conhecimento, Gestão da Satisfação, Gestão de Desempenho, Relacionamento Interno, Comunicação Interna e Painel de Controle (indicadores).
Nestes 3 subsistemas, a responsabilidade é estar atento, a novas metodologias, modelos de ferramentas, soluções diferenciadas, tecnologias, apresentando alternativas para a empresa, sempre observando a relação custo x benefício, viabilidade de realização, resultados práticos, objetivos congruentes, consistentes e coerentes com o momento da organização, além de adotar posturas alinhadas e sustentadas por um eixo conceitual que siga a mesma rota estratégica da empresa.
Organizado desta forma, parece relativamente fácil, dependendo de uma equipe multifuncional, com especialistas de visão generalista e de um líder de boa capacidade analítica, bem articulado, que atende rapidamente ao delivery, ágil nas soluções e decisões.
Mas não é tão simples e pragmático, pois atuar em recursos Humanos implica numa profundidade intangível, nuances de cores e tons, praticamente uma dimensão paralela.
E sinto que é sobre esta dimensão que devemos refletir!!!
O R.H. é um Oceano, todos os acontecimentos da empresa deságuam lá, é onde as pessoas vão reclamar, desabafar, denunciar, questionar, chorar e até se esconder.
É uma área que talvez merecesse ganhar adicional por insalubridade, pois como um mineiro, mergulha profundamente no outro quando necessário, ou ser Recursos Gerais para Humanos, pois tem seus variados momentos, terapeuta, educador, acolhedor, noticiário, dicionário e até samambaia, quando não pode expressar absolutamente nada.
Assim, de fato não há título que dimensione esta área.
Mas eu considero inegável que seja um trabalho que se concretiza movido por AMOR, uma dose infindável de interesse pela Natureza Humana Essencial, uma Fé inabalável em sua capacidade de transformação, além de compaixão, aceitação e muito bom humor…
O que eu mais recomendaria a qualquer profissional que atue ou pense em atuar nesta área, é dedique-se seriamente a seu processo de autoconhecimento, entenda que não salvará ninguém, respeite o limite da consciência do outro, bem como as escolhas, seja humilde, mas não modesto, e cuidado com o Ego, pronto, digamos que é um bom conjunto para manter a neutralidade necessária.
Assim, vejo que a melhor postura, é a integral, agir de acordo com que fala, posicionar-se, buscando ser um agente de interação entre empregador e empregado, mostrando transparência pelo sistema de gestão, visando o objetivo de contribuir com a perenidade e crescimento sustentável da organização e credibilidade na relação com os colaboradores.
Trazer à luz a Consciência das Competências, para que os colaboradores de fato tenham Ciência do que lhes Compete.
R.H. às vezes é bom de conteúdo e relapso na embalagem ou venda, outras cria uma embalagem impactante, uma venda bombástica e o conteúdo é vulnerável. Portanto é necessário entender, que o conteúdo tem que apresentar consistência e pode ser simples a embalagem ser atrativa e a venda agregadora, tratando-se de qualquer produto, proposta de solução elaborada pela área, lembrando que promessas podem ser armadilhas, pois tratando-se de Ser Humano dificilmente teremos garantias, pois a via é de mão dupla.
Conscientizar a organização sobre a complexidade das atividades, através de indicadores de produtividade, contra fatos não há argumentos.
A maioria dos colaboradores, incluindo a liderança, desconhece qual é o próprio custo que tem para a empresa, não sabem o conceito de remuneração, implicações legais nas relações de trabalho, tem uma percepção distorcida das atribuições de R.H., além de imaginativa e fantasiosa, sendo esta a caixa preta da empresa, carecendo desmistificar suas funções.
A maioria “idealiza” um ambiente de trabalho, mas não tem uma visão crítica e real, precisam construir a imagem do que realmente querem, mais consciente de bônus e ônus de cada função, acho que dá até pra comparar com os relacionamentos afetivos.
Existe uma forte tendência dos colaboradores de se colocarem a parte dos acontecimentos, ou seja, não compreendem a empresa, em suas metas, objetivos, ações, atitudes, valores.
O Ser Humano, por natureza, necessita de atenção e reconhecimento (mãe), além de limites e orientações (pai), simbolicamente acaba atribuindo esses papeis arquetípicos à empresa e ao chefe e estabelecendo esse modelo infantilizado de relação emocional de forma inconsciente.
E as organizações estimularam isso, sendo hostis demais ou assistencialistas demais, ou seja, precisamos crescer, nos apropriando da responsabilidade de nossa vida e não delegando este poder a outro.
Agora é necessária, uma relação adulta, conscientizando a todos (empregadores e empregados), que esta relação é uma via de mão dupla, onde ambos são responsáveis pela saúde e satisfação da mesma.
A retenção e satisfação desta relação acontecem pela identificação e afinidade com o DNA da empresa, o que gera orgulho, é um apaixonar-se que vibra mais intensamente dentro do Ser Humano, haja vista que o aspecto financeiro é efêmero.
Assim, penso que o mais importante papel do profissional de Recursos Humanos é entregar-se ao AMOR pela Natureza Humana e atuar como agricultor, semeando continuamente a única fonte de Sabedoria e maior Patrimônio que o Ser Humano pode ter, o AUTOCONHECIMENTO, pois quem conhece a si mesmo é LIVRE, e liberdade é a essência da FELICIDADE!!!
Sobre a autora:
Sonia Valéria Monteiro de Souza Sócia da THOTH Elemento Humano, Psicóloga pela São Marcos, Pós Grad. em Adm. de R.H pela FAAP e Espec. em Gestão do Conhecimento pela FGV. Formação em Coaching Integrado, Master Practitioner em PNL, Formação em Constelações Sistêmicas em andamento. 32 anos de vida profissional, 24 anos atuando na Área de Planejamento e Desenvolvimento Humano e Organizacional em posição de Gestão.
Parabéns pela reflexão. Quando você diz “O R.H. é um Oceano, todos os acontecimentos da empresa deságuam lá, é onde as pessoas vão reclamar, desabafar, denunciar, questionar, chorar e até se esconder”, realmente vemos isso TRIPLICAR, uma vez que, acontece de todas as partes interessadas´, colaboradores, diretores, candidatos, todos deságuam neste OCEANO.