O raio-X das mídias sociais e seus extremismos

Bayard Galvão
Bayard Galvão

Mídia social nada mais é do que um lugar onde pessoas aparecem, se encontram e falam sobre o que pensam, gostam e desgostam. Há 2500 anos na Grécia, berço da sabedoria ocidental encontrada em Platão e tantos outros, os encontros se davam ao ar livre, em meio à natureza. Hoje, vem em parques sociais virtuais.

A necessidade das pessoas de se comunicarem e falarem o que pensam começa com o nascimento do humano. O contexto mudou muito, o conteúdo pouco. Algum sábio poderia me rechaçar e dizer que esses encontros deles eram aulas sobre o viver, pensar e sentir, e “por acaso” eu responderia: seria diferente no Facebook ou Instagram?

Extremismo é levar qualquer ideia às últimas consequências, criando, inclusive, a possibilidade de colocar em risco a própria vida. Não é necessariamente ruim (algumas mães dariam a própria vida pelos seus filhos), mas frequentemente, são pouco questionadas por si mesmo. Qual religioso extremista duvida das próprias crenças? Qual torcedor de futebol cogita, realmente, se vale usar os seus domingos para torcer por pessoas que não conhece socialmente, que jogam por um clube que ele nem sócio é? É próprio do ser humano seguir pensamentos, não pensá-los.

Por que alguém exporia seus extremismos, amarguras, derrotas, reflexões, agressividades, sonhos e desejos num lugar onde muitos podem ver, não importando se num parque real ou virtual? Algumas causas comuns: desagradável sensação de solidão (por vezes, tudo que uma pessoa pode querer é uma “curtida” para se sentir valiosa para alguém); mostrar a própria sabedoria (colocar frases de efeito pode passar algo sábio e inteligente sobre si, aumentando a “gostabilidade”); manter algum contato com alguém, mesmo que à distância e no campo virtual (dizer “adeus” é difícil. As pessoas, geralmente, não querem perder, por isso é menos doloroso se afastar com a sensação de que o outro ainda está por perto); ter um contato com o passado e presente (não são poucos os que gostam de, saudosamente e saudavelmente, reviver o passado através daqueles que fizeram parte dele); a sensação de desabafo (a famosa gritaria da alma, silenciosa ou não, que traz um breve conforto); vitimizar-se (colocar-se como vítima atrai bons olhos e costuma ser bem visto numa sociedade que exalta e cuida dos fracos e oprimidos); contatos de trabalho; e sensação de comunidade, reafirmando as próprias ideias, nobreza e sentido da vida.

Ao pensarmos em extremismos, temos um conjunto comum de causas: agredir é geneticamente agradável para a maioria das pessoas (defender uma religião, com facilidade, dá ao seu defensor uma solidez existencial, além do fato de que faz parte dos prazeres humanos a violência, contanto que não se volte contra ele); o “fanatismo”, que é a característica do extremista que não se questionou (a maioria), inspira a superioridade de si em relação a quem pensa diferente de si (comum em relatos sociais nos quais há uma repreensão contundente do ato ou fala de alguém, na medida em que vai contra os respectivos valores e crenças, hoje comandadas pelo “politicamente correto”); achar um bode expiatório (sempre é bom ser mostrado a gritos o causador dos próprios males e de outros, costuma dar impressão de vitimização e irresponsabilização sobre si, no presente e futuro. Aliás, poucas coisas deixam os indivíduos mais tranquilos do que responsabilizar o outro pelos seus infortúnios, justificando inclusive, a própria passividade); incapacidade de perceber os próprios erros (os juízes mais intolerantes costumam ser aqueles que não percebem os próprios erros, achando desumano os de outros); inabilidade de se colocar no lugar do outro, facilitando ver a própria beleza e o erro do outro (ao nos olharmos com os olhos dos outros, escancara-se, frequentemente, a nossa própria “feiúra”, pois não importa o que pensemos, alguém pensa o oposto e tem tanta certeza de que carrega consigo a “verdade” quanto nós); preguiça (é mais fácil emitir uma opinião com cinco segundos de reflexão do que com cinco horas de ponderação) e aumento da autoestima (afinal, quem não quer valorizar o que vê no espelho?).

Os indivíduos sempre buscarão se relacionar, não importa se num parque real ou mural virtual. O ideal seria que as pessoas se perguntassem: para quem eu quero mostrar o que penso? Se eu escrever agora o que reflito, quais os possíveis efeitos? Afinal, será que estou raciocinando bem ou mal?

Acho muito importante as pessoas se expressarem. Porém, tão importante quanto, é pensarem sobre o que querem comunicar a outros e possíveis consequências, ainda mais com a possibilidade de um processo judicial por ter sido “politicamente incorreto”.

Sobre o Autor:

BAYARD GALVÃO é Psicólogo Clínico formado pela PUC-SP, Hipnoterapeuta e Palestrante. Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros, criador do conceito de Hipnoterapia Educativa e Presidente do Instituto Milton H. Erickson de São Paulo. Ministra palestras, treinamentos e atendimentos individuais utilizando esses conceitos.

Site: www.institutobayardgalvao.com.br

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