Os quatro pilares mentais que combatem a crise

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Dr. Martin Portner
Dr. Martin Portner

Dois mil e dezesseis foi um ano difícil. Ir ao supermercado com cem reais significa trazer duas sacolas de compras. Falta emprego e sobram pessoas em busca de colocação. Quem trabalha como empreendedor, vê tons de cinza; quem está na informalidade, preto.

O Natal será magro para milhões de brasileiros e o réveillon vai, novamente, colocar certa luz no fim do túnel. Mas os economistas avisam – 2017 se assemelha a um trem querendo sair da estação.

Mas nem tudo é pessimismo e, além disso, há coisas que devem ser feitas exatamente durante a crise. Uma delas é uma análise individual, na quietude do pensamento. Um mergulho nas circunvoluções do cérebro. Uma olhada na cara, pelo lado de dentro. Não custa nada e – asseguro – traz modificações palpáveis. Do preto para o cinza e do cinza uma paleta de cores é o caminho para quem deseja entrar em 2017 com as mãos na tela da criatividade.

Chama-se a análise dos 4 Cs da crise. Faça de conta que você está fazendo um teste. Cada pergunta com resposta afirmativa vale 2 pontos, resposta mais ou menos vale 1 e um olhar branco na parede, 0.
Elas têm a ver com seu estilo de vida. Vamos lá.

Combustível

O cérebro é o responsável pelo planejamento, execução e seguimento de todas as suas ações. Portanto, vale a pena cuidar bem dele. Os alimentos que você consome abastecem o organismo de energia e fornecem os constituintes para renovar sua infraestrutura; mas o cérebro deseja algo mais. Suas células possuem um revestimento à base de gordura. Não é qualquer gordura da dieta que pode ser utilizada; é necessário um tipo de gordura poli-insaturada com ácidos graxos do tipo ômega-3. Esse tipo de combustível aditivado para o cérebro é encontrado em peixes (salmão), nozes e avelãs. Ir ao trabalho com um pacotinho de castanhas-do-pará no bolso garante dois pontos na tabela.

Consumo

Pesquisas demonstram que o gasto de energia através de exercícios físicos provoca resposta imediata do cérebro. Embora nenhuma das calorias gastas saia do tecido cerebral, é dele a produção de hormônios que trazem bem-estar. Além disso, exercícios aumentam a capacidade de planejar e executar tarefas e reduzem o risco da doença de Alzheimer.

Vinte minutos três vezes por semana é suficiente, especialmente se o exercício for de alta intensidade seguido de breve repouso. Por exemplo, pular corda durante a metade de um minuto; na outra metade você descansa. Uma sequência de 12 minutos gradativamente aumentando para vinte se encarregará das transformações necessárias.

Calibração

Quando você escuta música, o cérebro analisa o ritmo, acordes, solos de guitarra e sonoridade vocal. Ela tem reconhecido efeito tranquilizante, mas também estimula as áreas cognitivas e facilita o surgimento de ideias criativas.

O mais incrível é o impacto da música sobre a amígdala cerebral, efeito mundialmente conhecido a partir de pesquisas no célebre Instituto Max Planck, na Alemanha. A amígdala é a principal regente das respostas emocionais, mas ela tem predileção por emoções como antipatia, ira e desconfiança. Quando se escuta músicas que incluem acordes dissonantes – como aqueles que contem a sétima menor – a amígdala registra uma pitada de desconforto auditivo e pergunta aonde isso vai levar. Compositores costumam resolver a dissonância instantes depois de ela ser criada. Trata-se de um micro treinamento entre perceber o desconforto emocional para depois abrandá-lo – um aprendizado que pode render bons frutos no relacionamento com a equipe de trabalho e, principalmente, com superiores hierárquicos.

Escute Somebody´s Knockin, do álbum I Still Do, de Eric Clapton. O uso generoso de acordes dissonantes apoiada em uma balada provocante faz com que a composição crie um efeito inquietante – um bom ponto para começar.

Contemplação

Quando não está executando nenhuma tarefa, a mente tem a tendência de ruminar. Regiões cerebrais que se preocupam com coisas para fazer conspiram com a amígdala cerebral. Como ela é a guardiã das “coisas que não deram certo”, o resultado é um monólogo que produz hormônios pró-estresse, perda de foco, escassez de recursos cognitivos e redução do autocontrole emocional. O foco no momento presente – por exemplo, contemplando as incursões da respiração – afasta o cérebro da ruminação.
Estudos demonstraram que o foco sobre a respiração produz efeitos benéficos. Um deles é a empatia, qualidade essencial do líder.

Se você alimentou o cérebro com bons constituintes, utilizou exercícios, teve momentos de introspecção musical e fixou a atenção contemplativa no momento presente por alguns períodos, você está de parabéns pelos seus oito pontos conquistados. Bem, quatro ou cinco pontos são satisfatórios, mas se o resultado for 3 ou menos então o seu ano está terminando como sapato sem brilho – dá para o gasto, mas só. E não adianta criar desculpas – é exatamente na crise que há tempo para esse tipo de coisa.

Sobre o Autor:

Dr. Martin Portner é Médico Neurologista , Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness.

Site: www.martinportner.com.br

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