Se há alguém no mundo com todos os motivos para estar sempre ocupado e apressado, certamente seria Deus, pela quantidade de pessoas que recorre a Ele, todos os dias e a todo instante, pelos mais variados motivos. Desde gente que pede para ganhar na mega-sena, até aqueles que pedem para que tal candidato ser eleito, para chover, para fazer sol, para sair aquela promoção, para o chefe ser mandado embora, para a namorada ou namorado voltar, para o guarda rodoviário não usar o bafômetro, para o teste de gravidez dar negativo ou positivo… Uma loucura. Já perceberam o que ocorre nas partidas decisivas de futebol? No último segundo, o jogador vai cobrar um pênalti que dará o título ao time. De um lado, uma equipe se dá as mãos e orando, pede a Deus para a bola ir para fora ou o goleiro defendê-la. Do outro, a equipe adversária, também de mãos dadas, reza e pede a Deus para a bola entrar. Ou seja, a divergente expectativa de todos inclusive torcedores, é de que Deus pare de fazer tudo o que está realizando pelo mundo inteiro para fazer o atacante marcar o gol ou o goleiro pegar o chute. Pode?
Essa introdução descontraída é para nos fazer lembrar daquele profissional que repete a todo instante:
– Agora não dá! Estou super-ocupado!
– Depois, depois! Agora não dá! Estou super-atrasado!
Uma vez que esse profissional não é Deus – porque Ele sempre dá um jeito de atender todo mundo – conclui-se que o acelerado amigo não tem a menor idéia do que seja administração do tempo.
A exceção das disfunções comportamentais, certamente há quem aja assim por achar que tal postura passa a imagem de um sujeito muito trabalhador e indispensável à firma. Pelos muitos anos que convivi com o mundo corporativo, posso assegurar que metade das atividades que fazem aquele herói correr tanto e estar sempre ocupado, poderia ser facilmente delegada à membros da equipe. Mas, fazer o que se o homem é centralizador? Estes, parecem nunca ter ouvido ou lido nada também sobre delegação.
No frigir dos ovos, o primeiro prejudicado é o próprio, pois lhe falta tempo para participar de programas de integração com os pares e colegas e, sobretudo de atualização – aliás, é característica sua nunca ter tempo para comparecer aos programas de treinamento e sempre chegar atrasado e bufando às reuniões.
Nem na hora do almoço nosso elétrico profissional relaxa. Quando não come apressadamente um sanduíche na sua mesa de trabalho, ele corre ao refeitório e rápida e literalmente joga a comida mal mastigada na boca. Sem muita conversa, levanta-se e sai quase correndo, pois “tem muita coisa pra fazer e já está atrasado”.
É provável que esse profissional alimente a fantasia de que a empresa parará se ele diminuir seu ritmo. Se este for o caso, trata-se de um candidato potencial a um trauma depressivo se um dia for demitido (o que descrevo com detalhes no meu mais recente livro “Demitido: quando é preciso tirar a camisa” (Qualitymark).
Nessas pessoas, preocupa-me muito o comprometimento da sua qualidade de vida. Um tempo precioso a ser curtido com a família e amigos está deixando de ser utilizado e no futuro é mais do que provável que isso traga sérias conseqüências afetivas, psicológicas e sociais. Claro que isso tem solução. Uma adequada reflexão, uma revisão do estilo de vida, um claro entendimento do que é urgente e do que é importante (nem sempre estas condições caminham juntas) poderia ajudar o nosso amigo e estruturar melhor o uso do seu tempo, controlar sua ansiedade e ser mais feliz. Todos ganhariam com essa mudança, inclusive a própria empresa.
Pena que geralmente esse profissional não tem tempo para pensar nessas coisas – muito menos em Deus. Certamente ele nem lerá este artigo: afinal, como sempre, tem um monte de coisas à sua espera e ele já está muito atrasado…
Sobre o autor:
Floriano Serra é psicólogo, consultor, palestrante e facilitador de seminários comportamentais. É diretor-executivo da SOMMA4 Gestão de Pessoas, autor de vários livros e inúmeros artigos sobre o comportamento humano. Ex-diretor de RH de empresas nacionais e multinacionais.
e-mail: florianoserra@terra.com.br
Gostei demais!
É exatamente isto que acontece com aquelas pessoas “apressadinhas”.