Leitora que faz graduação em gestão de Recursos Humanos escreve-nos perguntando sobre a situação existente em algumas empresas, não poucas, onde a competição leva vantagem sobre a cooperação e, assim, há disputa acirrada por espaço e idéias, onde cada um ou cada uma quer se locupletar do sucesso de outro, avançando sobre o terreno alheio, enfim, uma balbúrdia organizada.
A questão colocada traz que o ambiente se deteriora até porque “a pessoa quer tomar à frente o trabalho de outra…” e por aí vai.
Infelizmente, existem mesmo ambientes corporativos onde há uma guerra velada de poder, por tentar agradar por meios ilícitos, de subir fazendo escada nas costas dos outros, de se apropriar de um resultado positivo de trabalho que outro concebeu, e outras formas de agir que agridem os colegas e transtornam as seções.
Esse ambiente revela profunda imaturidade. Essas pessoas ainda não foram alertadas ou não se aperceberam que passam a maior parte da vida útil delas ali, concentradas no trabalho, entre aqueles corredores e paredes, e até por uma questão de proteção à saúde deveriam zelar por um ambiente o mais cordial possível, evitando-se o stress desnecessário.
No passado eram mais comuns as pessoas reclamarem de seus chefes, alguns tipo feitor, que tratavam os subordinados na ponta da bota e incitavam uns contra os outros, e assim, conseguiam fazer das relações internas um verdadeiro inferno, na esperança de que a competição gerasse movimentação e luta.
Como as empresas foram avaliando que esse estilo é pernicioso e prejudicial, estão agindo e cuidando melhor da seleção de seus líderes, provendo-os de treinamentos para enfrentar os tempos duros de competição e produtividade, aprendendo a lidar melhor com as pessoas, suas diferenças, seus estados de necessidade.
Entretanto, às vezes chama a atenção mesmo a rispidez nas relações, grupos de pessoas que se espremem em abertas estações de trabalho de “cara amarrada”, falando o mínimo necessário uns com os outros, certamente porque sequelados por fatos anteriores, por disputas de poder, por bobagens que acabaram afetando a boa amizade e a cooperação. Uma pena!
Ruim para aquelas pessoas, péssimo para os clientes da empresa, prejudicial a todos, pois vivemos um tempo onde o trabalho em equipe, formando um time forte e bem coordenado, é fator chave para obter resultados. A cada dia as empresas – quer de serviços, de comércio, ou indústrias – são desafiadas a fazer mais e melhor porque o concorrente não pára, inova, presta melhor atendimento, e assim vai abocanhando mais clientes e mercado.
Quem possui uma equipe guerreando entre si e que não percebe que o inimigo está lá fora, – a concorrência, – somente pode estar a caminho do buraco, porque vai desperdiçar boas energias nessas bobagens que a pequenez humana insiste em produzir onde há ambiente propício, onde persiste o fermento desse mal.
Se com a sinergia que a ação grupal pode gerar não é fácil alcançar padrões ideais de produtividade, imaginem se cada um puxar para um lado, se cada um desrespeitar e torcer contra o seu próximo, se cada um tiver ciúmes de “seu” espaço, de “sua” máquina, de “seu” telefone, de “seu” computador, de “seu” lixinho, de “seu” trabalho, etc….
Mas, quem é dono do quê no trabalho? Quem falou que o PC de sua mesa é seu? A companhia coloca à nossa disposição as ferramentas de trabalho e processos para gerarmos com eles riquezas produzindo bens e serviços, idéias, soluções. E quando contrata pessoas, espera que cada um faça a sua parte, e interaja positivamente com os demais, no sentido do cumprimento global das metas.
Nesse sentido, muitas avaliações para efeito de programas de Participação nos Resultados são feitas individualmente, pessoa-a-pessoa, e também no patamar departamental, setorial, aí valendo o esforço conjunto, a adesão das equipes aos objetivos globais, a facilidade de se buscar soluções por times, a boa relação cliente-fornecedor, esperando-se que a somatória de 1+1 produza algo maior que 2.
O diz-que-diz somente gera animosidade, perda de tempo, ressentimentos, mágoas profundas. Afeta a produtividade, produz doenças, acirra ânimos desnecessariamente, mina a força interior de cada um, exige troca de pessoas.
a pessoa, logo ao acordar, irá se lembrar, com tristeza, que terá que conviver 8, 10, 12 horas de seu dia ali, naquele ambiente mesquinho, triste, hipócrita, falso, que ninguém merece.
A força de um gerenciamento forte pode e deve coibir a proliferação desse tipo de diferenças perniciosas. Infelizmente, existem supervisores, gerentes e até diretores que deixam o barco rolar, têm conhecimento de que o ambiente está ruim, que fulano não se entende com beltrano, que não colaboram entre si, e nada fazem, aliás, fazem de conta que não sabem, achando que o tempo irá trazer uma solução milagrosa. Ledo engano.
O moderno ocupante de posto de comando sabe que ambiente de bom profissionalismo facilita bons resultados. E age positivamente logo que percebe uma competição não saudável, e faz ver às partes que aquele jogo não interessa a ninguém, enfatiza as diretrizes da empresa, sua missão e valores, enfocando a ética nas relações, e não permite a continuidade do mal que somente irá fortalecer o único adversário, que é a concorrência.
E se, na sua organização, esse mal é uma praga difícil de debelar, do tipo que vai, mas volta, há mecanismos de apoio também para o líder, ou líderes. Além de orientação e aconselhamento pelo RH, existem treinamentos, jogos, dinâmicas para o grupo que ajudam a desenvolver a consciência do trabalho em equipe, da cooperação e não competição, da prática do bom profissionalismo a par das diferenças individuais inerentes ao ser humano.
Existem pessoas que possuem dificuldade para se relacionar bem, para cooperar, para gerar sinergia, dar “liga” no grupo. Por isso mesmo a cada dia as organizações dão mais valor, nos processos de seleção, àqueles que sabem respeitar o ponto de vista alheio, que não atropelam, enfim, que sabem “jogar” no sentido positivo, ora atacando, ora recuando, ocupando bem seu espaço e fazendo boas jogadas, mas também servindo os companheiros, trocando, enfim, exercitando um papel construtivo no time.
Prestem atenção nisso. Como seu time está jogando? As relações são duras, mas profissionais? A guerra existente é somente pelo bom resultado, pela vitória final, pelo êxito da empresa e, enfim, de todos?
E, finalizando, lembre-se que a responsabilidade pelo ambiente interno é de todos, mas, principalmente, das lideranças.
Sobre o autor:
Celso Gagliardo é profissional de Recursos Humanos e Comunicações, graduado em Direito e especializado em Recursos Humanos, habilitado consultor de Pequenas e Médias Empresas. Prestou serviços como técnico, executivo e consultor em várias empresas nacionais. Foi redator de jornal, é palestrante e treinador. Fundador e membro de Grupos de Recursos Humanos (atual CEPRHA), e diretor da PH – Patrimônio Humano, Consultoria e Serviços. Atualmente é gestor corporativo de RH do Grupo Estrutural.
e-mail: gagliardo@vivax.com.br