Quando se é criança, a única preocupação é brincar, se divertir, deixar fluir a imaginação, encarar desafios nos jogos e estar com os amigos. Geralmente bem humorada e alegre, em constante movimento do corpo, dançando livremente, ritmo acelerado e brigando contra o sono!
Ao se tornar adulto, na vida profissional, infelizmente, deixa-se pra trás os muitos belos atributos da criança, trocando por responsabilidade, seriedade, muitas vezes sisudez e lamentações.
Tudo torna-se mais abrangente, quando se assume uma posição de liderança, pois além de si mesmo, sente tornar-se responsável por outras pessoas, e agora como lidar com tantas histórias ao mesmo tempo, além de todas as atribuições pragmáticas e racionais de um gestor, como, metas, resultados, sistemas, finanças, processos, estratégias, táticas e muitas operações.
Aqui comparo o papel do líder com o papel da paternidade/maternidade, que também muito desafiador é educar aquela criança livre para tornar-se um adulto capaz, resiliente, competente, independente.
O líder bem como o pai/mãe, é aquele herói que precisa saber tudo de tudo e deve ser competente todo o tempo, respondendo prontamente e assertivamente a todos os questionamentos e além de orientador, deve também saber ensinar as atribuições, também proteger a todos e vai por aí.
A criança ainda não tem condições emocionais de perceber que os pais são apenas humanos e conseqüentemente imperfeitos, mas a equipe pode certamente, chegar a esta simples conclusão.
Contudo, no sistema familiar, bem como no sistema organizacional, as pessoas, por simples atributo da natureza humana, crescem, tornam-se adultas, mas mantém a mesma necessidade de acolhimento e reconhecimento.
Mesmo adulto ainda atribui aos pais, muitas responsabilidades sobre o que lhes acontece e migra este padrão para suas vidas profissionais, atribuindo ao chefe responsabilidades, que sentem não lhes pertencer.
Assim, continuam a confrontar ou submeter-se aos pais, que muitas vezes continuam a encarar os filhos como crianças indefesas, em contra partida os chefes desejam que seus subordinados sejam adultos e se comportem como tal, mas também muitas vezes os tratam como dependentes.
Mas, as organizações ainda aplicam métodos e sistemas de gestão de pessoas, que corrobora para a manutenção deste ciclo vicioso, infantilizando seus colaboradores, no que se refere às relações hierárquicas.
Observo que no sistema familiar, mudar o foco do “olhar” sobre os pais, entendendo que eles também foram crianças e tiveram pais, que por sua vez, tiveram pais que foram crianças e assim sucessivamente e que no decorrer das gerações a cultura social se transforma e também que esses antepassados tiveram seu comportamento e atitudes de acordo com o que podiam e sabiam, observando sem julgamento e com aceitação, faz uma grande diferença no processo de individuação e amadurecimento.
Aplicando este mesmo “olhar” no sistema organizacional, passa-se a aceitar a imperfeição do líder, como fato da natureza humana, entendendo que cada pessoa tem sua história e vice e versa.
Então creio que podemos entender que aceitação e compaixão, são dois atributos importantes para o processo de adultecer, diante a vida, seja no aspecto pessoal como no profissional, seja na posição de líder ou de liderado, bem como, na posição de filho ou de pai/mãe.
Comumente se ouve falar que o autoconhecimento é o único caminho para o processo de individuação, amadurecimento e adultecer, entendendo primeiramente que atitude de aceitação e compaixão é o que todos desejam e necessitam pra si mesmos, antes mesmo, de aplicar aos outros.
Contudo estimular as pessoas a escolherem este caminho, o do autoconhecimento e conseqüente amadurecimento e adultecer, sem ter como ensinar a elas uma fórmula mágica e pronta, só é possível começar pela intenção de despertá-la, investindo em ações de desenvolvimento, através da conscientização, sensibilizando por meio de conceitos sobre a natureza humana.
Antes de ser um profissional ou mesmo de assumir uma posição de liderança, qualquer um é Ser Humano!! Que tal começar pela origem, para formar um líder eficaz e uma equipe madura??
Sobre a autora:
Sonia Valéria Monteiro de Souza Sócia da THOTH Elemento Humano, Psicóloga pela São Marcos, Pós Grad. em Adm. de R.H pela FAAP e Espec. em Gestão do Conhecimento pela FGV. Formação em Coaching Integrado, Master Practitioner em PNL, Formação em Constelações Sistêmicas em andamento. 32 anos de vida profissional, 24 anos atuando na Área de Planejamento e Desenvolvimento Humano e Organizacional em posição de Gestão.