Num desses grupos que debatem assuntos especializados, no caso, de RH – Recursos Humanos, – deparei-me outro dia com uma singela questão: “eu posso demitir um empregado na sexta-feira”?
A interlocutora referia-se a uma possível norma legal impeditiva e procurou confrontar com o grupo para alinhar conhecimentos, facilidade que a moderna tecnologia coloca a nosso favor.
Independentemente do dia da semana, a questão desligamento de empregados nos permite diversas abordagens. A primeira delas é como e por que demitir?
É muito fácil demitir alguém em nossas empresas! Para abrir uma vaga precisamos de muitas análises e assinaturas. Mas, já para cortar, nem sempre.
Boa parte dos gestores prefere descartar o colaborador ao menor sinal de desconformidade, sem analisar sua possível recuperação. Parece ser o caminho mais fácil, embora muitas vezes oneroso e de resultados duvidosos.
A parte questões complicadas como acesso ao Fundo de Garantia e ao Seguro Desemprego por até seis meses, que são fatores estimuladores de rotatividade em nossas organizações, poucos gestores fazem um programa sistemático de avaliação e feedbacks com seus subordinados, apresentando a eles com a franqueza necessária seus pontos fortes, e, também, os de melhoria.
Temos notado, ao longo de tantos anos de vida corporativa, a gestão por emoção: Apenas na hora do erro é que vem a bronca emocional e desmesurada, que arrasa a autoestima do profissional, quase sempre na frente dos colegas “para que todos fiquem espertos”. Errado.
Uma seção, um departamento, um negócio qualquer envolvendo pessoas é uma instituição que requer integração, informação e avaliação de desenvolvimento. É preciso coragem para melhorar o desempenho das pessoas. A maioria dos desligamentos dá-se não por falhas técnicas ou operacionais, mas por comportamentos inadequados e falta de atitudes desejáveis. E assim é preciso foco nesses aspectos para evitar o pior e não gerar rotatividade, perder tempo de adaptação e treinamento de pessoas, e ainda gerar custos antecipados com rescisão, multas fundiárias, etc.
Podemos demitir as pessoas com quais contamos a qualquer dia da semana. Costuma-se desligar na sexta-feira esperando-se com isto um eventual impacto menor na área de influência do colaborador, dado que existe um intervalo de fim de semana que ajudaria na assimilação da novidade quase sempre impactante.
Entretanto, há quem prefira desligar em qualquer dia, menos às sextas-feiras, entendendo exatamente que isso ameniza o efeito negativo junto ao demitido.
O rompimento do pacto laboral deveria ser mais ou menos natural, dentro de um processo onde a empresa, através de seus dirigentes ou prepostos (lideranças), após tentativas de melhorias, aconselhamentos, treinamentos, coaching, advertências, transferências de serviço não vê alternativa a não ser o desligamento. Após essa sequência de providências sem sucesso a comunidade no entorno e o próprio envolvido estão devidamente ambientados para a decisão, e assim o ato final pode ocorrer em qualquer dia da semana, e com serenidade pois a fruta já amadureceu.
As reações iradas do desligado normalmente ocorrem porque muitos são surpreendidos pela decisão “de cima” de uma hora para outra, colhidos de surpresa por não terem sido alertados a tempo por seus erros. Tal qual criar um filho, liderar processos e pessoas requer acompanhamento direto, firmeza e franqueza para as relações de trabalho serem duradouras e produtivas.
Muitas vezes deixamos de explicar, definir ou clarear alguns pontos imaginando que tudo é muito “óbvio”, que as pessoas percebem. Entretanto, é preciso dizer de forma cristalina o que a organização espera de cada um em termos de volume de trabalho, qualidade e comportamento. As pessoas esperam isso, querem confirmação mesmo de pontos absolutamente comuns.
É evidente que existem as mais diversas situações, e estamos falando conforme tendência central. Há profissionais que usam da malandragem para colocar a liderança em cheque quando interessados no “bilhete azul”, são dissimuladores e perniciosos, mas isso é uma minoria.
Um departamento ou uma empresa que não estejam em crise e que apresentem alta rotatividade tem males que precisam ser diagnosticados. E, o segredo da fixação do trabalhador começa ainda na seleção de pessoas certas conforme os perfis das vagas, depois com a integração – onde se desfilam missão e valores da empresa – além de suas práticas e políticas, requerendo atenção constante para não se desviar pelos descaminhos organizacionais.
Mas, para isso, precisamos de líderes preparados, que gostem de gente, que sejam corajosos para dizer o que se espera de cada um e abordar com habilidade certos pontos delicados do cotidiano das relações do trabalho. De forma construtiva, separando o lado profissional do aspecto pessoal.
Assim, pense: demitir às sextas, ou às segundas, ou mesmo nas quartas-feiras?
Ou ainda… não demitir e ajustar, adaptar, melhorar com ganhos para as três partes: organização, chefia e o profissional envolvido.
Sobre o autor:
Celso Gagliardo é profissional de Recursos Humanos e Comunicações, graduado em Direito e especializado em Recursos Humanos, habilitado consultor de Pequenas e Médias Empresas. Prestou serviços como técnico, executivo e consultor em várias empresas nacionais. Foi redator de jornal, é palestrante e treinador. Fundador e membro de Grupos de Recursos Humanos (atual CEPRHA), e diretor da PH – Patrimônio Humano, Consultoria e Serviços. Atualmente é gestor corporativo de RH do Grupo Estrutural.
e-mail: gagliardo@vivax.com.br
Análise e preocupação bem detalhada. Aos gestores cabe desenvolver condições para adaptabilidade de cada indivíduo na sua real capacidade e estes se fazer por merecerem funções e cargos com eficácia para o bem comum do empreendimento, dessa forma anulando a necessidade da demissão. Mas o que esperar, mesmo que de alguns poucos gestores, que não entendem, não entendem e não entendem…e assim podem provocar demissões que não importando o dia da semana são traumáticas e onerosas para a vida do empregado e da empresa,
Excelente artigo, parabéns Celso Gagliardo! Vale ressaltar aos demais que, se o fato for concretizado na sexta feira, o colaborador fará jus ao DSR da semana.
Prezado Luiz, obrigado pela leitura e comentário.
Como falamos no início do nono parágrafo, a legislação não restringe datas e dias da semana para desligamento de qualquer funcionário.O objetivo maior do artigo, entretanto, foi levar reflexão sobre a necessidade de avaliação de competências e acompanhamento, antes da demissão, e que esse processo seja feito com dignidade, quando necessário. Celso Gagliardo
falou, falou e não respondeu à pergunta: é ilegal demitir alguém na sexta-feira?
Sr.Celso – Matéria muito boa e as palavras escritas também foi de ótimo aproveitamento a todos que se relacionam com pesssoas através do RH. Não é fácil demitir, seja as seguntas, sextas, enfin qualquer dia da semana, pois alí está um ser humano, talvez um pai, mãe de família que precisa do serviço, por isso concordo que para ajudar os 3 setores, como dito, a organização, a chefia e o profissional, temos que estudar formas de não precisar ir aos finalmentes ou seja com a demissão, talvez uma mudança de função, setor, premios, etc…o profissional começaria a alcançar os objetivos almejados, principalmente pra ele, estando mais contente numa função que o mesmo se sairia melhor, enfim não ocasionado diversas discordias, frustação, com que a demissão viria trazer, emocional (profissional, chefia) e financeira (organização). novamente parabéns Sr.Celso.
Celso, a matéria é muito boa. Poucas empresas investem no feedback sadio. Acho que o verdadeiro feedback é o diário, apontando necessidades de desenvolvimento e celebrando bons resultados, além daquele anual dado pelas avaliações de competências. O ambiente de trabalho fica muito melhor quando há transparência nas relações. O importante de fato não é qual dia da semana demitir, mas como demitir.
Abçs/ Silvia
Francisca, obrigado pela leitura e comentários.
Nossa intenção foi reforçar aos gestores, principalmente, a importância de se trabalhar o retorno sobre desempenho e desenvolvimento dos liderados, de forma a tentar melhorar, construindo um ambiente desenvolvimentista para todos. Evidentemente, que nalguns casos o processo não prospera, chegando à necessidade de uma demissão, mas com as etapas anteriores vencidas, portanto com menor repercussão no desligado e no ambiente, e irrelevante se o ato final será nas segundas, ou nas terças, ou sextas. O seu foco de abordagem é interessante, realmente pode haver líder despreparado que prefere formalizar o desligamento na sexta para “fugir” das possíveis repercussões por dois dias, pelo menos, contando com o duvidoso efeito de “esfriamento”.
Não entendi ao certo sobre o que de fato o artigo reza. Achei que era para um posicionamento com relação a demitir ou não nas sextas feiras apenas. Porque há muito mais a ser dito sobre isto, como inclusive a falta de segurança de quem demite, a não vontade de confrontar o demitido durante a semana – se demitido antes da sexta – e principalmente enfrentar o proprio demitido e a indignação dos demais funcionários. Penso que um gerente demitir no último dia da semana é, em vários casos e eu fui uma vítima disto por duas vezes, além da falta de ética, medo, raiva é uma maneira de expor o poder, deixando ao demitido apenas a sensação amarga da demissão sem motivo para digerir no final de semana e de uma imagem negativa do profissional na empresa.
Olá,
Realmente pra demitir é fácil,mas o custo que dá pra conseguir outro…
Torna-se necessário uma maior orientação e o suporte para diversos profissionais, quanto ao treinamento, acompanhamento, feedback, e se realmente não for possível o aproveitamento em outros setores, então se realizar o desligamento. Eu particularmente senti falta desse tipo de orientação em todas as empresas que trabalhei. Hoje após ter feito várias experiências ruins, e ter realizado um curso de Coaching e avaliação de desempenho, sei o camiho passo a passo para isso, porém, é necessário a realização de diversos treinamento a começar pela liderança sobre tudo o que deve ser desenvolvido antes de se realizar o desligamento.
Atenciosamente,
😀
😀
Parabéns Celso, como sempre brilhantes palavras. Sabe que esses dias, me deparei com a pergunta num processo seletivo, devo demitir as segundas ou sextas-feiras? Onde respondi que sem dúvida seria numa segunda-feira, devido ao lado emocional do colaborador. Porém, o importante é que não fosse uma demissão amadora, impensada, precepitada.E sim, um processo, uma demissão aos poucos, com o feedback, esclarecimentos, diagnósticos e treinamentos junto ao funcionário.
Abraços
😀 Adoreeiii a matéria… Muitos Analistas e Gerentes deveriam ler…