Um Jeito Esquisito, Uma Empresa Complicada

Ivan Postigo
Ivan Postigo

Um amigo me perguntou outro dia: – Você já deve ter encontrado muitas empresas que não oferecem treinamento aos colaboradores quando a situação está ruim, porque não tem dinheiro, e também não oferecem quando a situação está boa e vendendo muito, porque estão todos muito ocupados e não têm tempo, não é verdade?

Penso que todos nós nos deparamos com isso todos os dias. Talvez muitos não se dêem conta, mas é fato.

Disse que sim, claro. Isso não está relacionado apenas a treinamentos, mas a muitas questões que envolvem mudanças e decisões.

O poder tem duas faces: em uma das faces está a autoridade, na outra a responsabilidade.

O exercício da autoridade não é tão simples quanto parece por conta da outra face.

Responsabilidade é a obrigação de responder pelas próprias ações, por isso causa constrangimentos e inseguranças.

O poder causa fascínio à distância, contudo de perto ele amedronta.

Vamos raciocinar usando um exemplo simples: nossa seleção brasileira de futebol.

Poderia apanhar outra modalidade esportiva, daria no mesmo, mas fiquemos com aquela que congrega o maior número de pessoas.

O atleta sonha com a convocação, festeja quando ocorre, mas quando cai a ficha…

Não são poucos os que por falta de estrutura emocional não tem sucesso.  O peso da responsabilidade sobrepõe a autoridade da qual foi investido.

E que tal um momento para glória: bater o último pênalti que poderá nos dar a taça, com o mundo todo assistindo?

Sentiu o friozinho na espinha?

Com os gestores ocorre o mesmo. Treinamento ou qualquer ação que demande investimento clama por retorno, portanto a resposta à autoridade de investir é a responsabilidade pelo resultado.

Não é difícil entender porque esse meu amigo fez a pergunta: como profissional que trabalha com desenvolvimento humano, visita muitas empresas e se defronta com o “não” com frequência. Ora, nós também como consultores.

O mercado tem se mostrado favorável e algumas empresas sequer abrem as portas para recebê-lo, a alegação é de que estão sem tempo. O que ele tem questionado é que a resposta é a mesma que recebia há alguns anos quando o mercado se mostrava recessivo.

Ele ficou surpreso quando arrisquei alguns palpites e acertei o nome das empresas.

Claro, batemos mala há muito tempo e acabamos conhecendo e visitando as mesmas organizações e seus gestores.

Treinamento tem mais a ver com o pensamento do que com o momento. Já vi interromperem o treinamento de operadores de máquinas, oferecido pelo fornecedor, porque o cliente achou muito longo. Sim, isso mesmo, comprou o equipamento e sua equipe estava recebendo orientação para uso.

Quer saber quanto tempo estavam fora da produção? Dois dias!

Na sua conta, esse tempo custava muito caro para a empresa. Estava pagando seus funcionários que não estavam produzindo.

Quer saber se a equipe aprendeu a operar as máquinas?

Como diziam meus avós: “malemá!”

Um dos exemplos interessantes de rejeição ao contato é aquele em que a pessoa quando lhe é apresentada uma proposta de treinamento responde: – Nós não usamos aqui esse tipo de serviço!

Normalmente não é preciso mencionar, dá para perceber, pois o atendimento apresenta muitas falhas, principalmente com ligações transferidas para qualquer ponto da organização.

E que tal quando você liga para fazer um pedido e a pessoa lhe diz: O ramal está ocupado, o senhor espera ou liga mais tarde?

Com tantas opções para que esperar ou ligar mais tarde? Basta ligar no concorrente!

Tenha certeza que não perguntarão quem está falando, não anotarão seu telefone e sequer avisarão a equipe comercial que você ligou. E se você se deparar com a gravação ouvirá: não desligue, sua ligação é muito importante para nós!

E não se dão conta que você também pode responder: – Esperar, ligar mais tarde? Nós não usamos aqui esse tipo de serviço.

Sobre o autor:

Ivan Postigo é Diretor de gestão empresarial da Postigo Consultoria Comunicação e Gestão. Economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européias de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas, cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativo-financeira, marketing e vendas.  Desenvolve  consultoria e palestras  nas áreas mercadológica, contábil/financeira e fabril. Autor do livro: Por que não? Técnicas para Estruturação de Carreira na área de Vendas e do E-book: Prospecção de clientes e de oportunidades de negócios.

site:  www.postigoconsultoria.com.br

e-mail:  ivan@postigoconsultoria.com.br

twitter: @ivanpostigo

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2 Respostas para "Um Jeito Esquisito, Uma Empresa Complicada"

  1. Mas cade a relação com o que foi dito no texto? O Treinamento é algo estático mas os treinadores é que necessitam de treinamento para entender estas situações e mudarem as atitudes. Por exemplo treinamento que prende todo mundo num lugar e so para para o cafe cheio de engordantes e objeto maior do treinado custa caro pelo treinamento em si e pelo custo dos empregados parados. Ha que se desenvolver formas de se fazer o treinamento no trabalho (On the job training) – odeio estes jargões mas ainda preciso usa-los para acordar algumas pessoas pois misturar ingles com o portugues é “O” charme. É por essa razão, que nem gosto de falar que sou consultor. O consultor so fala o que o interessado ja sabe mas cheio de floreio e soluções técnicas, às vezes conhecidas, mas de situação duvidosa. Junte-se a isso o fisiologismo das atividades de ensino que têm que manter a roda virando senão a fonte seca. Aí vem o novo charme a necessidade de se reciclar. “PAREM com isso. O Homem não é papel velho e seu conhecimento é cumulativo. Não se inventaria o outdoor eletronico sem se inventar a lâmpada. O Treinador tem que procurar coisas novas em cada área e adicionar ao conhecimento existente, neciclar e rebootar (a nova onda) da ideia que tem que começar tudo de novo. Vamos ajustando o homem à novas situações lembrando que na troca de informações o treinador pode até enriquecer seu conhecimento com experiências passadas que passam a lhe ser novas. Aí a troca de informação é saudavel e adiciona valor a ambos: treinado e treinador. Falei muito e isso não adiciona nada.Obrigado

  2. O artigo simplesmente confirma fatos que venho observando e que me chamam a atenção porque a cada dia empresas e profissionais mais se perdem do que se orientam. A necessidade de se criar o que ja está inventado para manter a coisa andando, é um dos problemas que mais toma tempo do profissional. É por isso que Deus, só por exemplo, não está mais na “moda” apesar de continuar sendo Deus. Usar a palavra gestão ao inves de administração, torna o sentido da administração, mais difícil de ser entendido pelo jovem apesar do charme. Gestão direciona para gerir e aí a coisa complica porque podemos usar uma narrativa bem longa para explicar porque gerir é administrar (para mim não é).
    Vemos por exemplo as frustrações dos profissionais quando são demitidos, o que é normal, mas passa a ser mais dolorida depois que ele se acostumou a ser chamado de colaborador. O profissional que trabalha para uma empresa tem que entender que êle é um EMPREGADO, e que portanto tem remuneração, horário, direitos e obrigações. Seja ele de que nível for. Determinados níveis hierarquicos ficam chocados quando lhes digo (sou auditor) “seu chefe não aprovou”. Portanto, temos que entender, que qualquer que seja nossa função, ela existe porque é necessária, temos que conhecer nossas obrigações, e direitos, conhecendo os procedimentos e manuais da empresa. Passamos a viver a realidade sempre nos preocupando em manter nosso emprego, fazendo o melhor que pudermos. Caso ocorram as decepções………..a dor pode ser forte, mas não a surpresa do “Por que eu?” de quem acha que vive no país das maravilhas.

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